segunda-feira, 22 de fevereiro de 2010

CONJUNTURA POLÍTICA BRASILEIRA EM DEBATE

Por Emir Sader


 (...) A crise econômica internacional terminou de projetar o Estado no centro dos debates não apenas econômicos, mas políticos e ideológicos. Ser “estatista” tinha se tornado um dos piores palavrões, ao lado de “populista”. Um remetia à regulação da economia, e à indução do crescimento pelo Estado, enquanto o outro, às políticas sociais redistributivas.

Há quase um século – mais precisamente, há 9 décadas – o Estado tinha passado a assumir um sinal positivo, diante das conseqüências da crise de 1929. Unanimemente atribuída ao liberalismo econômico, as tres correntes que surgiram ou se fortaleceram a partir dali – o keynesianismo, o socialismo soviético e o fascismo – atribuíram papel estratégico e permanente ao Estado. Foi no esgotamento do ciclo longo expansivo do capitalismo que as teses anti-estatistas – hibernadas durante muito tempo – voltaram à baila.(...)

(...) “Estatista” passou a ser palavrão, desqualificador, ao lado de “populista”. O retiro do Estado representou expropriação de direitos, devastação do nível de emprego, das empresas nacionais, se expandiu como nunca a precarização das relações de trabalho, o desemprego, a concentração de renda, a exclusão social, a pobreza e a miséria. As distâncias e as contradições entre o centro do mundo e a periferia aumentaram exponencialmente, os continentes do Sul regrediram nas condições de vida da massa da população, que vive nessa região do mundo.

Menos Estado, não significou mais cidadania, mais dinamismo econômico, nada disso. Representou mais mercado, um mercado controlado por grandes monopólios, pelo grande capital financeiro. Representou menos cidadania, porque menos direitos.(...)


(...) Os discursos de Lula e da Dilma refletem esse resgate do Estado brasileiro, que estão fortemente presentes no documento básico apresentado ao Congresso do PT. Bastou, para que a mídia empresarial levantasse os seus alertas sobre os riscos de um Estado excessivamente forte, do “estatismo”, de que o programa da Dilma a colocaria à esquerda do governo Lula e os riscos que isso representaria.

O consenso em relação ao Estado mudou com o governo Lula. Como Dilma conta no livro que organizamos com o Marco Aurélio Garcia (“Brasil, entre o passado e o futuro”, coedição da Boitempo com a Perseu Abramo, com artigos, pela ordem do índice, de Emir Sader, Jorge Mattoso, Nelson Barbosa, Marcio Pochmann, Luiz Dulci, Marco Aurélio Garcia e Dilma Rousseff), no momento do lançamento do PAC, ela foi chamada ao Congresso para explicar a participação do Estado, mas quando foi lançado o "Minha casa, minha vida", isso não voltou a ocorrer. Foi se avançando na consciência do papel indispensável do Estado.(...)


(...) A maior discussão hoje é aquela sobre o tipo de Estado e, extremamente vinculada a ela, sobre o tipo de sociedade que precisamos e queremos. Voltar a fortalecer o papel do Estado, como foi feito até aqui, revelou-se indispensável para retomar o desenvolvimento, fortalecer as políticas sociais e enfrentar em melhores condições os efeitos da crise.

Mas o Estado forte que precisamos é o Estado que cada vez mais se centra na esfera pública, deslocando seu eixo da financeirização a que estava condenado com a hegemonia inquestionada do capital especulativo no seu interior. Trata-se de reformar o Estado, debilitando a esfera mercantil e fortalecendo a esfera pública, isto é, transferindo para a esfera dos direitos o que havia sido privatizado, sobretudo direitos essenciais, como os de educação, saúde, comunicação, cultura, habitação e outros serviços essenciais.(...)





Não me parece que os neoliberais queiram, de modo genérico, um Estado mínimo. O querem mínimo para a seguridade social e interferência em seus lucrativos negócios, e máximo para um terrorismo de Estado-polícial que possa conter o rastro de misérias que vão deixando.

Penso que a defesa do Estado, em si, não significaria, fatalmente, mais direitos ao povo. O novo fascismo flexível, hipermoderno e neoliberal, quer fazer da legitimidade da violência, intrínseca à natureza do Estado "democrático" de direitos, uma plataforma para agenciamentos dos interesses privatistas e legitimar o terrorismo de Estado para regulações sociais pela violência. Daí a perseguição ao trabalho informal, frentes político-jurídicas de criminalizações dos movimentos sociais e do cotidiano individual do pobre como um ser apenas dotado de necessidades e intrinsicamente violento. Nesse território, fazem a cooptação de todas as lutas transversais, levantadas pelas esquerdas, retirando-lhes todo e quaisquer caráter de classe.


O reformismo social-democrata têm acompanhado esse estilo em suas alianças com a direita, como é o caso do Choque de ordem e unidades de polícias "passificadoras" (UPPs), próprios ao fascismo carioca, teleguiado e apoiado pela mafiosa rede Globo.

O que se impõe como desafio para uma eventual centro-esquerda , se é que quer deslocar o poder para a esquerda e sair do centro, seria evitar reduzir-se às lutas transversais e políticas públicas meramente compensatórias e foquistas estigmatizando a luta de classe. Está aí a ilusão Obama como um bom exemplo. Não dá para servir, ao mesmo tempo, à dois senhores.

As lutas transversais foram pensadas como complementaridade e para potencializar a luta de classe, restrita ao campo econômico-industrial até a primeira metade do século XX, mas que, sobretudo com a terceira revolução industrial Toyotista e consequênte reestruturação produtiva, somada às crises ecológica e de civilização, impõe-se uma nova critica da economia política a partir das ciências ecológicas e da terra que tragam consequências práticas à natureza e à sociedade. O paradigma do crescimento X paradigma do desenvolvimento: uma nova radicalidade que faça justiça planetária ambiental, social e mental.



Portanto, como havia pensado Félix Guattari:

"como imaginar que máquinas de guerra revolucionária de tipo novo consigam se engastar ao mesmo tempo nas contradições sociais manifestas e nessa revolução molecular? 


  A atitude da classe política e da maioria dos militantes profissionais, quanto a esses problemas, embora reconheçam a importância desses novos domínios de contestação geralmente consiste em declarar que nada de positivo se deve esperar de imediato: 

'Primeiro, é preciso que tenhamos alcansado nossos objetivos no plano político antes de podermos intervir nessas questões de vida cotidiana, escola, relação entre grupos, convívio, ecologia, etc...' . 

Quase todas as correntes da esquerda, da extrema-esquerda, da autonomia, etc. (situação manifesta na Itália no período de 1977) se encontram nessa posição. Cada um a seu modo está disposto a explorar os "novos movimentos sociais" que se manifestam a partir dos anos 60, mas ninguém nunca se coloca a questão de se imaginar os instrumentos de luta realmente adaptados àqueles.(...)


(...) As organizações políticas e sindicais atuais aos poucos foram se tornando assimiláveis aos equipamentos de poder. Independentemente do fato de aqueles que participam delas se declararem de esquerda ou de direita, elas funcionam de acordo com o conformismo geral: trabalham para que os processos moleculares entrem em conformidade com as estratificações molares. De fato, o CMI (capitalismo mundial integrado) nutre-se desse gênero de equipamento de poder. As economias ocidentais não poderiam funcionar hoje sem os sindicatos, as comissões de fábrica, os seguros sociais, os partidos de esquerda e talvez também... os grupelhos de extrema-esquerda.


  Portanto não há muito que esperar desse lado. pelo menos na Europa. Pois em países, como por exemplo, os da América Latina esse tipo de formação talvez ainda deva desempenhar um papel importante. (Embora, também aí, as questões relativas à revolução molecular sem dúvida se colocarão com uma agudeza cada vez mais forte: questão racial, questão feminina, questão das favelas, etc.) De qualquer modo, compromissos, composições reformistas continuarão a surgir nos países capitalistas desenvolvidos. Manifestações simbólicas ou violentas continuarão a animar a atualidade. Mas nada disso nos aproximará de maneira alguma de um verdadeiro processo de transformação revolucionária. (...)



(...) Muitos dos que experimentaram o carárer pernicioso das formas tradicionais do militantismo contentam-se, hoje, em reagir de maneira mecanicamente hostil a qualquer forma de organização, e mesmo a qualquer pessoa que pretendesse, por exemplo, assumir a presidência de uma reunião, a redação de um texto, etc. Na medida em que a primeira preocupação de um movimento revolucionário fosse uma altêntica união entre as lutas molares e os investimentos moleculares, a questão da criação de instrumentos não só de informação, mas também de decisão e de organização, se colocaria de uma nova forma. (em escala microsocial, local, nacional, internacional.) Com tudo o que isso possa eventualmente implicar de rigor e de disciplina de ação, em certas situações, mas segundo métodos radicalmente diferentes dos métodos dos social-democratas e dos bolcheviques.(...)".


Fim de citação - (Félix Guattari - ed. brasiliense, 1987 - Revolução molecular: pulsações políticas do desejo, capítulo - O capitalismo mundial integrado e a revolução molecular, ítem III. Novas máquinas de guerra revolucionária, agenciamentos do desejo e luta de classe, páginas 221 - 223).

Portanto, para se pensar um Estado forte, democrático, aberto aos novos desafios revolucionários e garantidor dos direitos sociais e da natureza, é preciso ir além do limitado keynesianismo.

O Brasil têm esse potencial e destino em suas mãos.

Esse desafio está lançado neste ano eleitoral entre petistas, tucanos e verdes. 




Por Emir Sader

(...) Nas eleições deste ano será definida a fisionomia do Brasil em toda a primeira metade do século. Será um elemento fundamental para consolidar os avanços na América Latina. Conta-se com um governo de sucesso e amplo apoio na população, com a liderança do Lula, com um partido coeso e com uma grande candidata.(...)


(...) Dois grandes desafios se colocam para o PT – além desses, a ser atacados a partir do governo. O primeiro é o desafio de centrar o trabalho de massas no apoio à organização desses imensos contingentes “lulistas” – para designar de alguma forma os amplos setores beneficiários das políticas sociais do governo, que o apóiam firmemente – e à sua consciência social, política e cultural, que ajude a transformá-lo em um sujeito político ativo no novo bloco social no poder que se necessita construir.(...)



ONDE ESTÁ A DIREITA NO BRASIL?
Por Emir Sader


(...) A direita política está enfraquecida, seus partidos debilitados, provavelmente devem sofrer uma derrota grave nas eleições deste ano. No entanto, contam com o monopólio privado da mídia, que comanda, de forma antidemocrática, a formação da opinião pública. Conta com um grande poder econômico, tantos no sistema bancário, quanto nas grandes empresas internacionalizadas e nas exportadoras.

Mas, principalmente, onde mais avançou a direita no Brasil foi no plano dos valores, no estilo de vida fundado no consumo, que a influência da direita – que no nosso tempo é neoliberal, mercantil. O “modo de vida norteamericano”, centrado no consumo, no shopping-center, nas marcas, no marketing, no mercado. No individualismo consumista, na visão da ascensão individual, mediante a disputa no mercado, para ter acesso a bens de consumo.

Essa visão se construiu ao substituir o consenso surgido na luta democrática contra a ditadura. Esta esvaziou o impulso democratizador com o fracasso do governo Sarney em fazer da transição algo mais do que o restabelecimento institucional da democracia liberal, sem afetar as relações de poder econômico, social e midiático.(...)



(...) Serra manifesta, ainda que às vezes de maneira camuflada, suas diferenças com o governo, que se centram nos gastos estatais, na política externa de alianças com o Sul do mundo e nas políticas sociais. Na campanha – caso se confirme como candidato – tentará a todo custo a polarização entre continuação e aprofundamento do governo atual ou retomada de projetos do governo FHC. Mas disso se trata. Daí o forte caráter plebiscitário que a eleição ganha, independentemente de quem prefira ou tente rejeitá-lo. E é um plebiscito entre direita e esquerda. (...)





O que está em jogo no processo eleitoral este ano no Brasil não é um plebiscito entre direita e esquerda. É sim, uma manobra política muito bem articulada para se neutralizar a vocalização política da direita tradicional, que vocaliza ainda pelo monopólio midiático, criando uma nova polarização entre esquerda e direita social-democrata: Não há incompatibilidade programática substancial.

PT e PSDB, hoje, constituem uma frente social-democrata que sustenta-se por de trás do cenário superficial da representação político-institucional.

Penso que o poder constituído hoje no Brasil, tem um corte de centro-esquerda, embora com seus quadros dirigentes oriundos da esquerda que se espalhou por divergências táticas. Não vejo como ruim este cenário. Muito pelo contrário, promissor.

No entanto, a conjuntura política das correlações de forças atuais nos dão margem para que a candidatura de Dilma Rouseff, como ficou indicado pelo congresso do PT, deverá cumprir a missão de deslocar o poder, programaticamente, para a esquerda. Aí sim, nos reencontraremos um pouco mais adiante para se realizar o socialismo brasileiro. Assim esperamos em nossa paciência histórica.

Enquanto isso, segue uma pedagogia crítica e libertadora para manter antigas bases sociais e organizar as transformações do "Lulismo" em força crítica e potencialmente transformadora.

Por fim, caso haja um deslocamento para a esquerda, programaticamente traduzindo-se em atos governamentais com a vitória de Dilma e uma maioria de parlamentares de esquerda, a tarefa será readequar o PT para um partido realmente de massas e popular, expurgando de seus quadros todo o exército de oportunistas, burocratas reformistas obcecados contra toda e qualquer ideia de uma revolução popular e participativa, encastelados em suas acadêmicas posições anti-Marxistas, via exclusivamente parlamentar e políticos e burocratas do partido profundamente fisiológicos.

Eis aí um desafio que as esquerdas reais, transversais à vários partidos, terão pela frente.

 Já é hora de se dar uma chance ao povo para sair destas falsas polarizações maniqueistas da política e ser estimulado a refletir os programas e projetos para um Brasil que todos queremos.


Fazer uma manobra maniqueista eleitoreira que neutralize a direita, tudo bem, mas que neutralize a esquerda para se fazer o jogo da direita, rentista e genocida, e distribuir apenas algumas migalhas que caem da mesa deste imenso banquete, é ter uma relação sádica com o povo.


As revoltas populares contra eventuais traições que se repetem e cristalizam nos pós-eleitorais, podem fazer voltar uma extrema direita ao poder ou o povo partir para ousadias mais diretas e atacar àqueles que dizendo-se "esquerda", encaminham alegremente uma política fascista com o que há de podre no PMDB como o que está acontecendo com o PT e PC do B, subservientes, no Rio de Janeiro.


Seria Fernando Gabeira o escolhido para segurar a mão assassina do militarismo urbanístico, erguendo muros e assentando guetos, em verdadeiras prisões à céu aberto, como um modelo carioca para todo o Brasil?





 Por Emir Sader

(...) Com a jaqueta que lhe deu de presente Evo Morales e uma camisa vermelha que recebeu de Fernando Lugo, Lula propôs a candidatura de Dilma Rousseff à sua sucessão e teve o apoio unânime dos delegados ao IV Congresso do PT. No dia anterior ele tinha recordado - depois de fazer uma homenagem a seu vice José Alencar - como oito anos antes, em convenção do PT realizada no Anhembi, tinha havido um ensaio de vaia, quando o nome de Alencar foi mencionado como seu candidato a vice-presidente.

O que ocorreu entre um momento e outro? Mudou o PT? Mudou Lula? Mudaram as condições? Que partido é esse que, ao contrário da sua tradição anterior, aprovou sem dissensões, a candidatura de Dilma?(...)


(...) Lula e Dilma, nos seus discursos no Congresso, desconstruíram alguns dos principais supostos do ideário neoliberal: o de que a economia deveria primeiro crescer, para depois redistribuir; que elevação real dos salários leva inevitavelmente à inflação; que o Estado mínimo interessa aos que não necessitam do Estado; que o que chamam de “inchaço “ do Estado é a contratação de médicos, enfermeiros, professores e tantos outros servidos públicos, para fazer política social e não para burocratas sem função social. Reiteram como os bancos públicos e o mercado interno de consumo popular foram decisivos para que o Brasil saísse rápido da crise e para que os pobres não pagassem o preço mais duro dela.

O Congresso revelou como o PT se reafirma como um partido de esquerda, comprometido com um projeto popular e democrático, centrado no desenvolvimento econômico sustentável, na justiça social e na soberania política. Restam muitos desafios pela frente, o maior deles, a organização das imensas bases lulistas, - “subproletárias”, como alguns a chamam -, beneficiárias das políticas sociais do governo, que necessitam organizar-se politicamente, adquirir consciência social e tornar-se sujeitos do novo bloco no poder em processo de construção no Brasil.

O PT sai fortalecido, Lula se projeta como um grande estadista e Dilma se revela como a melhor candidata para dar continuidade e aprofundar o projeto do governo. O IV. Congresso do PT está tão distante daquela convenção de 2002, quanto a herança maldita que Lula recebeu está distante da herança bendita que deixa, na expectativa que Dilma possa dar continuidade na direção da ruptura definitiva do modelo herdado e na construção de um país justo, desenvolvido e soberano.(...)





Quem sabe daqui para frente nossa divisa seja:

REFORMA SOCIAL OU REVOLUÇÃO?

Nesse sentido, os caminhos da história encontraram-se com os caminhos de Lula, Dilma e PT, para realizar o que está destinado ao Brasil em alavancar a integração revolucionária latino-americana: sonho maior de Bolívar à Che Guevara; por onde o planeta poderá respirar um novo fôlego e, sobretudo, se refundar uma multipolaridade a partir das suas imensas diversidades culturais e ambientais, frente ao conserto das nações. O acolhimento à humanidade que restar da profunda tribulação capitalista e ambiental.

Estaria, em ocaso, ROSA LUXEMBURGO incorporada em Dilma? Indaga-se à esta encruzilhada...

Mas, se se realizar esta indagação "profético-delirante", e o PT não se converter às suas origens populares deixando para trás esse Bernsteinianismo Lassaliano em seus quadros burocrático e parlamentar, DILMA, tal qual ROSA, poderá ser arrastada pelas ruas do Brasil, até à morte, como um exemplo a não ser seguido pelas massas afim de se manter o tal evolucionismo gradualista no capitalismo brasileiro profundamente desigual e perverso.

Torso para que estas contradições se superem, e a história, grávida de Dilma e Dilma da história, deem a luz ao que ansiosamente esperamos.





COMO A IMPRENSA BRASILEIRA, QUE ATUA COMO UM PARTIDO DA IMPRENSA GOLPISTA (PIG) TENTA FAZER A BLINDAGEM DE SEUS REPRESENTANTES E INTERESSES?




1] Por que a exemplo do que fez tantas vezes com o PT, a mídia não parte do fato policial para resgatar o passado e o presente das relações políticas do demo José Roberto Arruda?

2] Por que esquece – ou esconde?– entre outras coisas, que Arruda foi nada menos que líder de FHC na Câmara Federal?

3] Por que a mesma amnésia subtrai ao leitor que Arruda era a grande – e única – ‘revelação administrativa’ dos demos [sobretudo depois do fiasco Kassab], e nome natural’ para ocupar a vice-presidência na coalizão demotucana liderada por Serra?


4] Por que, súbito, abriu-se um precipício de silencio midiático sobre as relações entre Serra e Arruda, omitindo-se, inclusive, ‘o simpático’ simbolismo da sintonia capilar entre ambos - mencionada por ninguém menos que o próprio governador tucano em evento conjunto em 2009?

5] Por que a obsequiosa Eliane Catanhede, da Folha, e os petizes da Veja, que tantas e tantas linhas destinaram a enaltecer a determinação de Arruda em ‘cortar o gasto público’ –e ainda o fazem na ressalva ao ‘bom administrador que tropeçou na ética’, segundo Catanhede– sonegam aos seus leitores a auto-crítica pelo peixe podre que venderam como caviar?

6] Por que, enfim, o esfarelamento da direta nativa abrigada nos Demos não merece copiosas páginas de retrospectiva histórica, que situe para os leitores a evolução daqueles que, como Arena e PFL, foram esteio da ditadura e da tortura e hoje são os aliados carnais de José Serra? (Carta Maior e a Quarta-feira de Cinzas da mídia demotucana)




Mais:

Cinco empreiteiras doaram R$ 6,8 milhões à campanha eleitoral de Kassab; em troca, receberam da prefeitura demotucana de SP R$ 243 milhões em contratos pagos em 2009. O montante corresponde a 12% de todo o investimento feito pelo ‘Pitta do Serra’, cassado agora em primeira instância pela Justiça Eleitoral. Com a prisão de Arruda por corrupção, no Distrito Federal, e o naufrágio de Kassab em SP, por incompetência e crimes eleitorais, a eleição de Serra passa a ser a última esperança da extrema direita brasileira para voltar ao poder. Ao mesmo tempo, 2010 é a última estação do serrismo antes de mergulhar no túnel da irrelevância. É a Santa Aliança dos desesperados.
(Carta Maior, com informações Estadão e agências; 22-02)





ALGUMAS OBSERVAÇÕES SOBRE O RIO DE JANEIRO E O QUE SE PREPARA AO LANÇAMENTO DO FILME TROPA DE ELITE 2 :

Se antes, a justificativa do combate ao tráfico de drogas legitimaram uma tentativa de crescimento paramilitar, com o título ambíguo de "milícias" (construído pela rede Globo e políticos reacionários como um mal menor), constituídas pelas máfias policiais, mas que logo foram desmoralizadas pela polícia federal com as prisões de Álvaro lins e chefes ligados aos partidos políticos DEM e PMDB carioca. Somada à descapitalização dessas máfias com apreensões de cassa-niqueis, hoje, o que restou como alternativa contra-insurgente no Rio de Janeiro?

Está na cara que são as UPPs (unidades policiais pacificadoras): militarização implacável de todas as favelas como um modelo mais eficiente para a repressão e o controle social, ideológico e político da pobreza que ameaça e amedronta as elites metropolitanas para dar conta do problema.

Este modelo de controle, se inscreve na nova doutrina de guerra assimétrica ou guerra de quarta geração como um modelo global. Serve para Iraque, Palestina, Afeganistão, Haiti, Rio de Janeiro...

Como se caracteriza este novo estilo de guerra?

Caracteriza-se por militarizar instituições não estatais da sociedade civil para dar conta às assimetrias insurgentes, como a intifada Palestina, Oaxaca no México, e periferias de Paris, para citar algumas.

A mídia corporativa, bem como o cinema transformaram-se em eficientes instrumentos militarizados para a propaganda de guerra psicológica: linha de frente da guerra assimétrica  como tecnologia último tipo nas mãos do terrorismo de Estado.

Para isso, arregimenta-se cineastas para se produzir as tais "obras de arte", que por fabulosos apoios financeiros, servem alegremente ao projeto fascista hipermoderno e flexível empregando o que há de mais avançado nas técnicas cinematográficas do cinema narrativo para as massas. Nada é para fazer pensar, apenas para consumir imagens espetaculares e sair repetindo slogans que estigmatizam o pobre, psiquiatrizando as causas da pobreza, e criminalizando todas as suas formas de resistência à opressão.

Três eixos chaves são sistematicamente trabalhados:

1- levar a "democracia" por ocupação militar ou golpe seguido de eleição como em Honduras.

2-  guerra contra a violência (a pobreza aqui se explica da seguinte maneira: o pobre é concebido como um ser intrinsecamente carente e violento e que fatalmente seus filhos serão bandidos ou terroristas. Também tem lugar fundamental o Freudismo, ou seja, a psiquiatrização dos conflitos sociais e de classe. Disso o nosso cineasta Padilha entende e demonstrou bem no filme 174. O cínico que se compadece. Fernando Meireles também se encaixa aqui)

3-  guerra às drogas e ao terrorismo como intrinsecamente associados


Portanto, o "tropa de elite 2" não será o último. Inscreve-se numa estratégia político-cultural de um fascismo de novo tipo preservando e ampliando os métodos de estetização da política ao invés da politização da arte. Um bom filme para se comparar as intencionalidades envolvidas nos autores é o famoso "TAXI DRIVER" de MARTIM SCORCESE - 1976. Ele não leva o espectador a se identificar com o fascismo do personagem, o que no caso do Padilha, à serviço de quem lhe encomenda ou mesmo por convicção, leva o espectador a se identificar completamente com o capitão nascimento. É só conferir o método narrativo e os efeitos desejados.

domingo, 14 de fevereiro de 2010

A PREPARAÇÃO PARA OS JOGOS (NEGÓCIOS) OLÍMPICOS NO RIO DE JANEIRO E A POLÍTICA BRASILEIRA


Protesto contra remoções de favelas
Por Marília Gonçalves  - Observatório de favelas RJ
Morador da Vila Autódromo, durante a manifestação. Foto: Francisco Valdean/Imagens do Povo
Morador da Vila Autódromo, durante a manifestação.
Foto: Francisco Valdean/Imagens do Povo


São 11 horas da manhã de quarta feira, 10 de fevereiro de 2010. Um termômetro na Avenida  Presidente Vargas marca 35°C. Cerca de 200 pessoas se concentram em frente ao prédio da Prefeitura do Rio de Janeiro. São mais de 10 comunidades ali representadas, manifestando-se pela manutenção de suas moradias. Crianças, jovens e idosos. Vê-se gente de todas as idades. Elas carregam cartazes. “Paz sem remoção”, diz um deles.






A história que se vê retratada neste dia, nesta manifestação, nestas ameaças, vem de muito antes dessas pessoas existirem. Historicamente, o olhar do Estado sobre as favelas e sua população tem sido de desvalorização. Desde o início do século XX, os governos se mostram empenhados em afastar ou esconder essas pessoas, numa tentativa preconceituosa de “limpar” os cartões postais da cidade. Assim se deram os processos de remoções de cortiços – antes – e de favelas – atualmente.

Os últimos jogos pan-americanos, sediados pelo Rio em 2007, são um ótimo exemplo dessa política estatal. Os apartamentos construídos para abrigar os atletas e suas equipes (Vila Pan-americana) poderiam ter se destinado a amenizar o déficit habitacional da cidade. O que aconteceu, no entanto, foi que tais apartamentos, com o fim dos jogos, foram vendidos por cerca de R$150 mil e hoje abrigam parte da classe média da cidade. É essencial lembrar que, para a construção da Vila, três comunidades locais foram removidas para o bairro de Sepetiba sem o consentimento dos moradores.

Como se não fossem suficientes os motivos históricos, declarações de que 119 comunidades serão removidas ainda este ano preocupam os moradores. A justificativa para tal ato vai da realização de obras para as Olimpíadas de 2016 à questão ambiental. Desde que foi divulgada a intenção da Prefeitura, no início do ano pelo jornal O Globo, líderes de Associações de moradores e de movimentos sociais formaram o Movimento Olimpíada Não Justifica Remoção. O presidente da Associação de Moradores da Vila Autódromo, Altair Guimarães, não acredita que a questão ambiental seja o motivo real das desapropriações. “Eles tiraram alguma comunidade do Alto do Joá? Que atitudes os governantes estão tomando com relação às várias mansões que crescem nos altos das encostas? Só o pobre que agride o meio ambiente?”, questiona Altair. É na Vila Autódromo que está prevista a construção do Centro de Mídia e do Centro Olímpico de Treinamento para 2016.

 
Manifestantes em frente à Prefeitura do Rio. Foto: Francisco Valdean/Imagens do Povo
Manifestantes em frente à Prefeitura do Rio. Foto: Francisco Valdean/Imagens do Povo

O prefeito Eduardo Paes recebeu, por volta das 14h, uma comissão com 16 representantes de comunidades e movimentos que estavam presentes no ato público – entre eles, o Movimento Nacional de Luta pela Moradia (MNLM) e a Federação das Associações de Moradores de Favelas do Rio (FAFERJ). Quanto à situação da Vila Autódromo, o prefeito agendou uma reunião específica para o dia 3 de março. Em relação às demais comunidades, ele garantiu que nenhuma medida será tomada sem diálogo e acordo prévio com os moradores. O prefeito afirmou também que planeja a urbanização de todas as favelas do Rio de Janeiro, o que necessita um investimento de R$ 5 bilhões. Os manifestantes esperam que ele faça valer sua palavra.

Quem causa a desordem?
A criminalização dos movimentos sociais não é novidade para quem tem algum contato com a mídia convencional. Para quem está envolvido no movimento, no entanto, o resultado dessa criminalização aparece sempre nas respostas – nem sempre tão sutis – às manifestações.

Nesta quarta feira, os portões da prefeitura, excepcionalmente, foram fechados. “Tranque com cadeado”, dizia um guarda municipal. Cerca de 10 deles faziam a segurança dos portões, contra a ameaça dos manisfestantes, que em nenhum momento apresentaram qualquer sinal de violência.

Por volta das 13h, muitos funcionários da prefeitura ou de prestadoras de serviço que funcionam no prédio tentavam voltar do horário de almoço. Todos eles foram impedidos de entrar. Aglomeraram-se no portão, e discutiram em vão com os guardas, mais de 50 trabalhadores. Só meia hora depois o acesso de funcionários foi permitido – contribuintes que tentavam entrar por qualquer outro motivo foram barrados. “Não foi pra isso que eles foram eleitos? Não é uma democracia participativa? Por que eles não podem nos receber? Impedem a todos, indiscriminadamente, como se fôssemos todos uns bandidos”, gritava Carmelita Lopes, que tentava entrar para uma reunião de trabalho.

Na tentativa de manter a ordem que não fora quebrada pelos manifestantes, parece que a Guarda Municipal tumultuou muito mais o dia de quem passava pela Prefeitura.






VEJAM QUE PÉRORA EU ENCONTREI PARA ILUMINAR O QUE ESTÁ CAMUFLADO NA MIDIATIZAÇÃO DO FASCISMO URBANÍSTICO-MILITAR, EM PRÁTICA NO RIO DE JANEIRO PELO GOVERNADOR SÉRGIO CABRAL E O PREFEITO EDUARDO PAES EM SINISTRA ALIANÇA!




A militarização das periferias urbanas

Por Raúl Zibechi
21 de fevereiro de 2008

Versão Original: La militarización de las periferias urbanas

Traduzido por: Lívia Cavallini Dias

Programa de las Américas http://www.ircamericas.org/





As periferias urbanas dos países do terceiro mundo têm se convertido em cenários de guerra, onde os Estados tentam manter uma ordem baseada no estabelecimento de um tipo de "cordão sanitário" que consiga isolar os pobres da sociedade "normal".



"Fontes do Exército confirmaram que as técnicas empregadas na ocupação da favela Morro da Providência são as mesmas que as tropas brasileiras utilizam na missão de paz das Nações Unidas no Haití"1.



Este reconhecimento das forças armadas do Brasil explica, em grande medida, o interesse que tem o governo de Lula da Silva em que as tropas do seu país se mantenham na ilha caribenha: trata-se de pôr em prática as estratégias de contenção nos bairros pobres de Porto Príncipe (capital do Haití), que foram projetadas para serem ampliadas nas favelas do Rio de Janeiro, São Paulo e outras grandes cidades.



Mas a notícia publicada pelo diário Estado de São Paulo vai mais longe ao desnudar a forma de operar dos militares. O general que comanda a ocupação da favela Morro da Providência por 200 soldados, William Soares, comandou a 9ª brigada de Infantaria Motorizada no Haití. Os soldados instalaram metralhadoras na "única praça da comunidade, transformada em base militar", que foram retiradas para facilitar o diálogo com a população. Na reunião com a Associação de Moradores, o general Soares "prometeu obras, festa de Natal com distribuição de presentes para as crianças, colônia de férias, projeção de filmes, atenção médica e sanitária".



Segundo informou o diário, "em contrapartida o Exército está recolhendo informações sobre a favela e seus habitantes. Os militares filmaram e fotografaram a reunião e todo o movimento das tropas". O general Soares cumpriu todas essas promessas para "aplacar a revolta dos líderes comunitários contra o projeto social previsto para a favela".



Os pobres urbanos como ameaça

O urbanista norte-americano Mike Davis analisa as periferias urbanas desde o  seu  grande compromisso com o cambio social. Uma única frase sintetiza a sua análise: "Os subúrbios das cidades do terceiro mundo são o novo cenário geopolítico decisivo"2. Assegura que os estrategistas do Pentágono estão dando muita importância ao urbanismo e à arquitetura, já que essas periferias são "um dos grandes desafios que deparará o futuro às tecnologias bélicas e aos projetos imperiais".



Com efeito, um estudo das Nações Unidas estima que um bilhão de pessoas vivem nos bairros periféricos das cidades do terceiro mundo e que os pobres das grandes cidades do mundo ultrapassam os dois bilhões, um terço da humanidade. Essas cifras se duplicarão nos próximos 15 a 20 anos, já que o crescimento da população mundial se produzirá integralmente nas cidades e 95% se registrará nos subúrbios das cidades do sul 3.



A situação é mais grave ainda do que mostram os números: a urbanização, como assinala Davis, tem se desconectado e se tornou independente da industrialização e ainda do crescimento econômico, o que implica em uma "desconexão estrutural e permanente de muitos habitantes da cidade em relação à economia formal". Por outro lado, observa que "na última década os pobres—e me refiro n ã o apenas aos dos bairros clássicos que já mostravam altos níveis de organização, mas também aos novos pobres das periferias—têm se organizado em grande escala, tanto em uma cidade iraquiana como em Ciudad Sadr ou em Buenos Aires".



Na América Latina, os principais desafios ao domínio das elites têm surgido do coração dos bairros pobres: desde o Caracazo de 1989 até a comunidade de Oaxaca em 2006. Prova disso são as revoltas populares de Assunção em março de 1999, Quito em fevereiro de 1997 e janeiro de 2000, Lima e Cochabamba em abril de 2000, Buenos Aires em dezembro de 2001, Arequipa em junho de 2002, Caracas em abril de 2002, La Paz em fevereiro de 2003 e El Alto em outubro de 2003, para mencionar apenas os casos mais relevantes.



Mais ainda: as periferias urbanas têm-se convertido em espaços desde aqueles em que os grupos subalternos lançaram os mais formidáveis desafios ao sistema, até converter-se em espécies de contra-poderes populares. Davis tem razão: o controle dos pobres urbanos é o objetivo mais importante traçado tanto pelos governos como pelos organismos financeiros globais e as forças armadas dos países mais importantes.



Muitas grandes cidades latino-americanas parecem, por momentos, à beira da explosão social e várias delas vêm explodindo nas duas últimas décadas pelos motivos mais diversos. O temor dos poderosos parece apontar a uma dupla direção: prorrogar ou impedir a explosão ou a insurreição e, por outro lado, evitar que se consolodem esses "buracos negros" fora do controle estatal onde surgem os principais desafios das elites.



As novas estratégias militares

As publicações dedicadas ao pensamento militar, assim como as análises dos organismos financeiros, dedicam nos últimos anos amplos espaços para abordar os desafios que presenteiam as massas, e a debater os novos problemas que a guerra urbana apresenta. Os conceitos de "guerra assimétrica" e de "guerra de quarta geração" são respostas a problemas idênticos aos que apresentam as periferias urbanas do terceiro mundo: o nascimento de um tipo de guerra contra inimigos não-estatais, em que a superioridade militar não exerce um papel decisivo.



William Lind, diretor do Centro para o Conservadorismo Cultural da Fundação do Congresso Livre, assegura que o Estado perdeu o monopólio da guerra e as elites sentem que os "perigos" se multiplicam. "Em quase todos os lugares, o Estado está perdendo"4. No que pese a ser partidário de abandonar o Iraque o mais rápido possível, Lind defende a "guerra total" que implica em enfrentar os inimigos em todos os âmbitos: econômicos, culturais, sociais, políticos, de comunicação e também militares.



Um bom exemplo dessa guerra de espectro total é a sua crença de que os perigos para a hegemonia estadunidense encontram-se em todos os aspectos da vida cotidiana ou, se preferir, na vida nua e crua. Por exemplo, considera que "na guerra de quarta geração, a invasão pela imigração pode ser tão perigosa como a invasão que realiza um exército de estado". Os novos problemas que nascem na raíz da "crise universal de legitimidade do Estado" põem no centro os "inimigos não-estatais". Isso o leva a concluir com uma supra advertência aos comandos militares: nenhuma força armada teve êxito frente a um inimigo não-estatal.



Este problema está no núcleo do novo pensamento militar, que deve ser reformulado completamente para encarar desafios que antes correspondiam às áreas "civis" do aparato estatal. A militarização da sociedade para recuperar o controle das periferias urbanas não é suficiente, como revela a experiência militar recente no terceiro mundo.



Os comandos militares que se desempenham no Iraque parecem ter clara consciência dos problemas que devem enfrentar. O general de divisão Peter W. Chiarelli, sobre a sua recente experiência em Bagdá no subúrbio da Ciudad Sadr, afirma que a segurança é o objetivo de longo prazo, mas que não se alcança com ações militares. "As operações de combate proporcionariam as vitórias possíveis no curto prazo (...) mas em longo prazo, seria o começo do fim. No melhor dos casos, causaríamos a expansão da insurgência"5.



Isso implica que as duas linhas de ação tradicionais das forças armadas, as operações de combate e o adestramento de forças de segurança locais, são insuficientes. Propõe-se, portanto, assumir três linhas de ação "não-tradicionais", ou seja, aquelas que antes correspondiam ao governo e à sociedade civil: oferecer serviços essenciais à população, construir uma forma de governo legítimo e potencializar o "pluralismo econômico", ou seja, a economia de mercado.



Com as obras de infra-estrutura, buscam melhorar a situação da população mais pobre e por sua vez criar fontes de emprego que sirvam para enviar-lhes sinais visiveis de progresso. Em segundo lugar, criar um regime "democrático" é considerado um ponto essencial para legitimar todo o processo. Para os comandos dos Estados Unidos no Iraque, o "ponto de penetração" das suas tropas foram as eleições de 30 de janeiro de 2005. No pensamento estratégico a democracia fica reduzida à emissão do voto.



Por último, mediante à expansão da lógica do mercado, que busca "aburguesar os centros das cidades e criar concentrações de empresas" que se convertam em um setor dinâmico que impulsione o resto da sociedade, tenta-se reduzir a capacidade de relutância dos insurgentes 6. Além disso, a população pobre das periferias urbanas será, em jargão militar, "o centro de gravidade estratégico e operacional".



Este conjunto de mecanismos é o que hoje as forças armadas da principal potência global consideram como a forma de obter "segurança verdadeira no longo prazo". Deste modo, a "democracia", a expansão dos serviços e a economia de mercado deixam de ser direitos dos cidadãos e objetivos moralmente desejáveis para se converter em engrenagens de uma estratégia de controle militar da população ou de uma região do mundo, e, portanto, de seus recursos.



Segurança e cooperação: duas caras de uma estratégia

Depois dos atentados terroristas de 11 de setembro de 2001, a Agência dos Estados Unidos para o Desenvolvimento Internacional (USAID) "tem exercido um papel cada vez mais proeminente na Guerra Contra o Terrorismo"7. Os programas estadunidenses para o desenvolvimento, não se dirigem à população que mais os necessita, mas às "populações e regiões consideradas de alto risco", segundo a estratégia do Pentágono.



Para os estrategistas militares, os programas da USAID exercem um papel destacado "em negar refúgio e financiamento aos terroristas ao diminuir as condições subjacentes que fazem com que as populações locais sejam vulneráveis ao recrutamento por parte dos terroristas". Do mesmo modo, "os programas da USAID destinados a fortalecer uma governabilidade efetiva e legítima são reconhecidos como instrumentos chaves para combater a insurgência".



A estratégia do Pentágono é buscar a segurança para os Estados Unidos, e para isso utiliza a "democracia" e a "ajuda para o desenvolvimento" como meios complementares da ação militar. O coronel Baltazar afirma que "o desenvolvimento reforça a diplomacia e a defesa, reduzindo assim as ameaças de longo prazo à nossa segurança nacional ao ajudar o processo de fortalecer sociedades estáveis, prósperas e pacíficas".



Parece necessário enfatizar que a cooperação internacional, a ajuda ao desenvolvimento e o combate à pobreza—alguns dos slogans prediletos do Banco Mundial e outras agências financeiras—são apenas estratégias de controle e subordinação da população "potencialmente" rebelde ou resistente aos objetivos das multinacionais norte-americanas. A análise do Pentágono sobre a realidade africana identificou, segundo o coronel Baltazar, "as causas do extremismo", destacando entre elas a existência de "grandes populações já serem marginalizadas ou privadas do direito de voto e a exclusão do processo político como as causas chaves de instabilidade na região".



A democracia eleitoral e o desenvolvimento são necessários como forma de prevenir o terrorismo, mas não são objetivos em sí mesmo. Nos casos de países com estados débeis e altas concentrações de pobres urbanos, as forças armadas são as que ocupam durante um tempo o lugar do soberano, reconstroem o Estado e põem em marcha—de modo absolutamente vertical e autoritário—os mecanismos que asseguram a continuidade da dominação.



No Iraque, estas políticas têm sua contra-capa e complemento na edificação de grandes muros para separar dezenas de bairros de Bagdá. Segundo o escritor e arabista Santiago Alba Rico, a construção de muros em dez bairros da capital iraquiana busca que cada vizinhança se converta em um "armário blindado cujos habitantes são classificados ou abandonados em caixotes fechados e recintos isolados"8.



A lógica é muito simples: "Os bairros que não puderam ser subjugados militarmente, são amuralhados, preciptados e abandonados à sua sorte. Zonas inteiras da cidade foram delimitadas e segregadas com os moradores confinados em seu interior, submetidos a controles tão férreos—de entrada e saída—que se pode falar sem vacilo de uma política de gueto".



Em outras partes do mundo, não fazem falta muros de cimento para asilar e separar os bairros periféricos. Levantam-se muros simbólicos tecidos com base nas diferenças de cor, forma de vestir e modo de habitar o espaço. Mas os resultados e os objetivos são idênticos. Os mecanismos de controle—sejam militares, sejam ONGs para o desenvolvimento ou promotores da economia de mercado e da democracia eleitoral—aparecem entrelaçados e, em casos extremos como os bairros de Bagdá, as favelas do Rio de Janeiro ou as vizinhanças de Porto Príncipe no Haití, aparecem subordinados aos planos militares.



No Brasil, por exemplo, aplicam-se diversas formas de controle de modo simultâneo: o plano Fome Zero é compatível com a militarização das favelas. Em sua reflexão sobre o nazismo em seu texto "Sobre o conceito de história", o escritor alemão Walter Benjamin assegura que "a tradição dos oprimidos ensina que o estado de exceção em que vivemos é a regra". A política dos Estados Unidos depois dos atentados de 11 de setembro de 2001 se ajusta ao conceito de "estado de exceção permanente". O "estado de exceção"—que suspende os direitos dos cidadãos e militariza zonas e países inteiros—se aplica de modo indistinto em situações e por razões muito diversas, desde problemas políticos internos até ameaças exteriores, desde uma emergência econômica até um desastre natural.



De fato, o estado de exceção se aplicou em situações como a crise econômico-financeira argentina que eclodiu em dezembro de 2001 em um amplo movimento social; para enfrentar os efeitos do furacão Katrina em Nova Orleans; para conter a rebelião dos imigrantes pobres das periferias das cidades francesas em 2005. O comum, além de circunstâncias e países, é que em todos os casos se aplica para conter os pobres das cidades.



Notas

1- Estado de São Paulo, "Exército admite uso de tática do Haití em favela do Rio", 15 de dezembro de 2007.

2- Mike Davis em http://www.rebelion.org/.

3- Mike Davis em http://www.sinpermiso.info/.

4- William Lind, ob .cit.

5- Military Review, novembro-dicembro de 2005, p.15.

6- Idem, p. 12.

7- Thomas Baltazar, citado em Military Review, ob. cit.

8- Santiago Alba Rico, ob. cit.


sobre o autor -

Raúl Zibechi é analista internacional do semanário Brecha de Montevideo, docente e investigador sobre movimentos sociais na Multiversidad Franciscana da América Latina, e assessor de vários grupos sociais. É colaborador mensal do Programa das Américas (www.ircamericas.org).



Recursos



Mike Davis, "La pobreza urbana y la lucha contra el capitalismo", entrevista, 30 de julho de 2006 em http://www.sinpermiso.info/.



Mike Davis, "Los suburbios de las ciudades del tercer mundo son el nuevo escenario estratégico decisivo", 2 de março de 2007 em http://www.rebelion.org/.



Santiago Alba Rico Ëmparedar a la resistencia", Diagonal, Madri, 10 de maio de 2007.



Thomas Baltazar (coronel) "El rol de la Agencia de Estados Unidos para el Desarollo Internacional y la ayuda para combatir el terrorismo", em Military Review, setembro-outubro de 2007.



William S. Lind, "Comprendiendo la guerra de Cuarta Generación", Military Review, janeiro-fevereiro de 2005.


E PARA CONCLUIR, UM COMENTÁRIO AO ARTIGO DE RAÚL ZIBECHI MUITÍSSIMO SIGNIFICATIVO -

Nombre y apellido: Marcelo Lorenzini zucco Fecha: Jul 14, 2008


"Sr Raúl Zibechi, sou aluno da Escola de Comando e Estado Maior do Exército e estou fazendo uma monografia donde a Guerra de Quarta Geração faz parte do tema. Gostaria de saber a sua opinião a respeito do ineditismo da Guerra de Quarta Geração, pois identifico nesta, características de conflitos já conhecidos como as guerrilhas, terrorismo, insurreições, e outras. Vejo somente novos instrumentos disponibilizados pela globalização para empreender estas conhecidas formas de se fazer as guerras. Sua posição é muito importante para poder esclarecer o meu conhecimento sobre o assunto.



Desde já agradeço pela atenção, Major Marcelo Lorenzini Zucco".



mzucco@uol.com.br


Outro artigo relacionado - 

Rio de Janeiro: control de los pobres para el negocio Olímpico

Raúl Zibechi | 13 de Janeiro de 2010
  
http://www.ircamericas.org/esp/6648







UM DEBATE ABERTO:


Por Emir Sader



Não me parece que os neoliberais queiram, de modo genérico, um Estado mínimo. O querem mínimo para a seguridade social e interferência em seus lucrativos negócios, e máximo para um terrorismo de Estado-polícial que possa conter o rastro de misérias que vão deixando.

Penso que a defesa do Estado, em si, não significaria, fatalmente, mais direitos ao povo. O novo fascismo flexível, hipermoderno e neoliberal, quer fazer da legitimidade da violência, intrínseca à natureza do Estado "democrático" de direitos, uma plataforma para agenciamentos dos interesses privatistas e legitimar o terrorismo de Estado para regulações sociais pela violência. Daí a perseguição ao trabalho informal, frentes político-jurídicas de criminalizações dos movimentos sociais e do cotidiano individual do pobre como um ser apenas dotado de necessidades e intrinsicamente violento. Nesse território, fazem a cooptação de todas as lutas transversais, levantadas pelas esquerdas, retirando-lhes todo e quaisquer caráter de classe.


O reformismo social-democrata têm acompanhado esse estilo em suas alianças com a direita, como é o caso do Choque de ordem e unidades de polícias "passificadoras" (UPPs), próprios ao fascismo carioca, teleguiado e apoiado pela mafiosa rede Globo.

O que se impõe como desafio para uma eventual centro-esquerda , se é que quer deslocar o poder para a esquerda e sair do centro, seria evitar reduzir-se às lutas transversais e políticas públicas meramente compensatórias e foquistas estigmatizando a luta de classe. Está aí a ilusão Obama como um bom exemplo. Não dá para servir, ao mesmo tempo, à dois senhores.

As lutas transversais foram pensadas como complementaridade e para potencializar a luta de classe, restrita ao campo econômico-industrial até a primeira metade do século XX, mas que, sobretudo com a terceira revolução industrial Toyotista e consequênte reestruturação produtiva, somada às crises ecológica e de civilização, impõe-se uma nova critica da economia política a partir das ciências ecológicas e da terra que tragam consequências práticas à natureza e à sociedade. O paradigma do crescimento X paradigma do desenvolvimento: uma nova radicalidade que faça justiça planetária ambiental, social e mental.



Portanto, como havia pensado Félix Guattari:

"como imaginar que máquinas de guerra revolucionária de tipo novo consigam se engastar ao mesmo tempo nas contradições sociais manifestas e nessa revolução molecular? 


  A atitude da classe política e da maioria dos militantes profissionais, quanto a esses problemas, embora reconheçam a importância desses novos domínios de contestação geralmente consiste em declarar que nada de positivo se deve esperar de imediato: 

'Primeiro, é preciso que tenhamos alcansado nossos objetivos no plano político antes de podermos intervir nessas questões de vida cotidiana, escola, relação entre grupos, convívio, ecologia, etc...' . 

Quase todas as correntes da esquerda, da extrema-esquerda, da autonomia, etc. (situação manifesta na Itália no período de 1977) se encontram nessa posição. Cada um a seu modo está disposto a explorar os "novos movimentos sociais" que se manifestam a partir dos anos 60, mas ninguém nunca se coloca a questão de se imaginar os instrumentos de luta realmente adaptados àqueles.(...)


(...) As organizações políticas e sindicais atuais aos poucos foram se tornando assimiláveis aos equipamentos de poder. Independentemente do fato de aqueles que participam delas se declararem de esquerda ou de direita, elas funcionam de acordo com o conformismo geral: trabalham para que os processos moleculares entrem em conformidade com as estratificações molares. De fato, o CMI (capitalismo mundial integrado) nutre-se desse gênero de equipamento de poder. As economias ocidentais não poderiam funcionar hoje sem os sindicatos, as comissões de fábrica, os seguros sociais, os partidos de esquerda e talvez também... os grupelhos de extrema-esquerda.


  Portanto não há muito que esperar desse lado. pelo menos na Europa. Pois em países, como por exemplo, os da América Latina esse tipo de formação talvez ainda deva desempenhar um papel importante. (Embora, também aí, as questões relativas à revolução molecular sem dúvida se colocarão com uma agudeza cada vez mais forte: questão racial, questão feminina, questão das favelas, etc.) De qualquer modo, compromissos, composições reformistas continuarão a surgir nos países capitalistas desenvolvidos. Manifestações simbólicas ou violentas continuarão a animar a atualidade. Mas nada disso nos aproximará de maneira alguma de um verdadeiro processo de transformação revolucionária. (...)



(...) Muitos dos que experimentaram o carárer pernicioso das formas tradicionais do militantismo contentam-se, hoje, em reagir de maneira mecanicamente hostil a qualquer forma de organização, e mesmo a qualquer pessoa que pretendesse, por exemplo, assumir a presidência de uma reunião, a redação de um texto, etc. Na medida em que a primeira preocupação de um movimento revolucionário fosse uma altêntica união entre as lutas molares e os investimentos moleculares, a questão da criação de instrumentos não só de informação, mas também de decisão e de organização, se colocaria de uma nova forma. (em escala microsocial, local, nacional, internacional.) Com tudo o que isso possa eventualmente implicar de rigor e de disciplina de ação, em certas situações, mas segundo métodos radicalmente diferentes dos métodos dos social-democratas e dos bolcheviques.(...)".


Fim de citação - (Félix Guattari - ed. brasiliense, 1987 - Revolução molecular: pulsações políticas do desejo, capítulo - O capitalismo mundial integrado e a revolução molecular, ítem III. Novas máquinas de guerra revolucionária, agenciamentos do desejo e luta de classe, páginas 221 - 223).

Portanto, para se pensar um Estado forte, democrático, aberto aos novos desafios revolucionários e garantidor dos direitos sociais e da natureza, é preciso ir além do limitado keynesianismo.

O Brasil têm esse potencial e destino em suas mãos.

Esse desafio está lançado neste ano eleitoral entre petistas, tucanos e verdes. 



Por Emir Sader

O problema que deveria preocupar mais a esquerda é o da sua própria reação diante da crise. Voltada para previsões catastrofistas, se esqueceu de se dedicar ao essencial: as alternativas, particularmente no Sul do mundo.

O governador do Paraná, Roberto Requiâo, argumenta que o principal foco de corrupção no Brasil está no banco central - veja no vídeo abaixo.








Por Emir Sader



(...) O neoliberalismo, ao desregulamentar a economia, promoveu uma gigantesca transferência de recursos do setor produtivo para o financeiro – sob sua forma especulativa. O endividamento dos países periféricos favoreceu a promoção desse capital a lugar privilegiado, capaz de produzir crises e desestabilização de governos, com seus ataques especulativos.

As independências – legais ou de fato – dos Bancos Centrais são expressões dessa hegemonia, assim como as altas taxas de juros, que remuneram esse capital, que por sua vez é parasitário, não produz bens, nem empregos, além de frear a capacidade de expansão da economia. As mudanças na política econômica do governo Lula, com a retomada do papel do Estado como indutor do crescimento econômico, fortaleceram contrapesos à hegemonia do capital financeiro, mas as tensões sobre taxas de juros – entre outras – revelam como o tema está pendente.

A passagem a um outro modelo, que promova expressamente a hegemonia do setor produtivo – sob suas distintas modalidades e em distintos setores da economia – ao lugar hegemônico, é um tema pendente, do qual depende não apenas a sustentabilidade econômica do Brasil, como a geração de empregos, a disponibilidade de recursos para políticas sociais, entre outros temas chaves no destino do país. A reincorporação do Banco Central como elemento orgânico articulado com o conjunto da política econômica do governo é outra questão pendente.(...)


O Brasil destinará este ano pouco menos que 5% do PIB ao pagamento de juros da dúvida pública. É a menor fatia desde 1979. Ainda assim, premiará o rentismo com cerca de R$ 170 bilhões. O valor seria suficiente para aumentar em 13 vezes o orçamento anual do Bolsa Família em 2010; permitiria elevar o benefício médio do programa dos atuais R$ 96,00 por família para algo como R$ 1.200,00 por mês, contemplando 12 milhões de lares mais pobres do país. Muitos dos que consideram essa hipótese absurda encaram com naturalidade a destinação de quase 5% do PIB a um grupo privilegiado inferior a 30 mil famílias.
(Carta Maior e o verdadeiro custo Brasil que a ortodoxia não cita e o colunismo econômico esconde; com informações Valor; 12-02)

domingo, 7 de fevereiro de 2010

A GUERRA CONTRA A DEMOCRACIA

Documentário de John Pilger sobre as agressões estadunidenses à América Latina
(legendado em português do Brasil)

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terça-feira, 2 de fevereiro de 2010

NOVAS TÁTICAS DE GUERRA E SUAS CONSEQUÊNCIAS NA AMÉRICA LATINA


MÉDICOS CUBANOS NO HAITI:
A SOLIDARIEDADE SILENCIADA




O orçamento do Departamento de Estado dos EUA para o ano fiscal de 2011 é um documento que merece exame.

Pode ser consultado aqui - http://www.state.gov/documents/organization/135888.pdf

Ele revela, por exemplo, que nesse exercício o ministério da sra. Hillary Clinton pretende gastar mais US$20 milhões para tentar subverter o Estado cubano. Em relação ao querido amigo Uribe, da Colômbia, o State Department é generoso: destina US$203 milhões "para consolidar (...) o combate a grupos ilegais armados". Mas para o devastado Haiti concederam apenas US$146,3 milhões (além de US$19,4 milhões para narcóticos e US$220 mil para "educação militar internacional". Os novos clientes dos EUA, os golpistas hondurenhos, vão receber US$700 mil para a dita "educação militar internacional".

Se um orçamento reflete prioridades, ficamos sabendo melhor o que eles querem.



Artigos relacionados:


Pode parecer um delírio, mas vejam o que diz este grande jornalista português em um de seus artigos recentes:



Miguel Urbano Rodrigues

"A politica da administração Obama ameaça a humanidade"


(...)"Recentes iniciativas do Governo dos EUA confirmam que a actual Administração, longe de renunciar a uma estratégia de dominação mundial, se propõe a ampliá-la em múltiplas frentes.

Aquilo que parecia impossível há um ano está a acontecer: a política externa de Obama é mais agressiva e perigosa para a Ásia, África e América Latina do que a de George Bush. Mas essa realidade não se tornou ainda evidente para as grandes maiorias, influenciadas pela campanha de âmbito mundial que apresenta o presidente dos EUA como um político progressista e um defensor da paz.
Os actos desmentem-lhe, porém, as promessas e a oratória.
Os media ocidentais dedicam atenção mínima a iniciativas que se integram na expansão planetária do militarismo estado-unidense. Mas esse silêncio não impede que ela seja uma realidade." (...)



Que tal o primeiro ano do governo Obama?

Por Emir Sader



http://www.resistir.info/venezuela/imagens/mural_venezuela.jpg


Os desafios do socialismo do século XXI na Venezuela

por William I. Robinson
Professor de Sociologia, Universidade da Califórnia – Santa Bárbara

Editor do diário grego Eleftherotypia

O original encontra-se em http://www.zmag.org/znet/viewArticle/23797

entrevistado por Chronis Polychroniou


PARTES DESSA ENTREVISTA:

(...) 1 - Há histórias alarmantes vindo da Venezuela. A fronteira está a aquecer, está a verificar-se infiltração, nova base militar colombiana próxima à fronteira, o acesso dos EUA a várias novas base na Colômbia e subversão constante. Será que o regime se preocupa com uma possível invasão? Se sim, quem está para intervir? (...)

(...)"Os EUA e a direita na América Latina lançaram uma contra-ofensiva para reverter a viragem para a esquerda ou a chamada "Maré Rosa". A Venezuela é o epicentro de um emergente bloco contra-hegemónico na América Latina. Mas a Bolívia e o Equador e mais generalizadamente os florescentes movimentos sociais e forças políticas de esquerda da região são igualmente alvos desta contra-ofensiva tal como a Venezuela. O golpe em Honduras deu ímpeto a esta contra-ofensiva e fortaleceu a direita e as forças contra-revolucionárias. A Colômbia tornou-se o epicentro regional da contra-revolução – realmente um bastião do fascismo século XXI". (...)


UMA DAS CONCLUSÕES PRINCIPAIS DESSA ANÁLISE -

(...)"Do meu ponto de vista, na Venezuela a maior ameaça à revolução não vem da oposição política de direita mas sim da chamada direita "endógena" ou "chavista" e pertencente ao bloco revolucionário, incluindo elites do Estado e responsáveis partidários, desenvolverão um interesse mais profundo em defender o capitalismo global do que na transformação socialista. " (...)




Por agência Carta Maior:

Susan George repetiu em Salvador o alerta lançado em Porto Alegre: não basta enfrentar a atual crise do capital sem lidar com a degradação do meio ambiente, a grave escassez de comida e as desigualdades sociais. A depressão econômica, disse, está diretamente ligada a múltiplas crises que se agravam nos campos ecológico e social. Na mesma linha, David Harvey afirmou que, mesmo com a crise, um novo processo de acumulação de capital está sendo gerado, que pode fortalecer o atual modelo e levar a uma nova crise ainda pior. A única saída, afirma Susan, é afirmar que “a crise é deles, mas as soluções são nossas”.

30/01/2010




ENTREVISTA COM JEAN LAVALASSE:
O PAPEL DAS ONGs NO HAITI LEVANTA MUITAS QUESTÕES

 ''El papel de las ONG en Haití plantea muchas cuestiones''
TeleSUR _ 29/01/2010

Jean Lavalasse, fotógrafo e documentarista haitiano residente em Bruchelas desde a década de 1970. Lavalasse fala sobre a situação antes do terremoto, o trabalho das ONGs, Barack Obama, Bill Clinton e George W. Bush, os interesses dos EUA, as relações com Cuba, os aviões de médicos sem fronteiras, Aristide, Préval, e o futuro.

Espera um futuro muito duro, afirma que os EUA estão tratando de içar sua bandeira em território haitiano, mas por sua vez afirma: " A estrela estadunidense não será para Haiti. Se um dia Haiti tiver uma estrela, será vermelha como a de Cuba".




PARTE DA ENTREVISTA:

(...) "¿Cómo puede Haití retomar el control de su vida?
Los imperialistas pueden permanecer mucho tiempo, pero nunca definitivamente. Pueden causar destrozos como hicieron en 1915 y en 1934 cuando nos dejaron al ejército de Haití hasta que Aristide lo echó. Si el palacio presidencia se ha derrumbado como un castillo de naipes es porque hay subterráneos que van desde la policía al palacio. Muchos hombres murieron torturados en esos subterráneos por las milicias de Duvalier.
¿Por qué no vuelve Aristide?
Aristide no puede volver ahora, hay demasiados retos y ya no tiene hombres de confianza ni cuadros y los imperialistas ya no lo apoyan. Existen grupos, clandestinos o no, que tienen dinero, que reúnen a mucha gente y que avanzan lentamente. Se trata de distinguir quiénes son nuestros verdaderos amigos y nuestros verdaderos enemigos. En Haití también hay una lucha de clases y una diferencia de percepción entre hombre blanco y hombre negro. Por lo tanto, en Haití hay que establecer todo un trabajo de reconstrucción, tanto física como ideológica. Sea como fuere, Canadá, Francia y Estados Unidos no son nuestros amigos y lo han demostrado.
¿Se convertirá Haití en la estrella número 51 de la bandera estadounidense?
¡Haití nunca sera un Estado estadounidense!
¿Cómo ve usted el futuro?
El futuro será duro, incluso muy duro. Estados Unidos ha tratado de izar su bandera en el aeropuerto de Port-au-Prince, pero Préval acabó con ello. La estrella estadounidense no será para Haití. Si un día Haití tiene una estrella, será roja como la de Cuba. Haiti luchará para recuperar su soberanía, el país es independiente desde el 1 de enero de 1804 y seguirá siéndolo. Como decía Henri Christophe, podemos prender fuego a todo Haití, el imperialismo estadounidense podrá reconstruir, pero esto podrá ser destruido. Volveremos a levantar nuestro Haití sobre sus cenizasÂ…"(...)



QUE LIÇÕES PODEMOS EXTRAIR DESSA ESCLARECEDORA ENTREVISTA?
Não sem razões, como um bom exemplo, a ONG brasileira "viva rio" está no Haiti prestando seus serviços às classes dominantes do mesmo modo que prestou, e presta, aqui no Rio de Janeiro: um eficiênte tampão para desviar as lutas populares para objetivos capitalísticos e meramente simbólicos.

Algumas frases esclarecedoras de Jean Lavalasse nesta entrevista que abre nossos olhos São:

"Un día me dijo un campesino: «las ONG nos dan de comer y los cubanos nos enseñan a pescarÂ…
(As ONGs nos dão de comer e os cubanos nos encinam a pescar)."


"Las ONG tienen un papel político, incluso de la tampón. Kissinger, el gran estratega de la guerra de Vietnam afirma que «si las ONG hubieran existido en la década de 1960 no habría habido guerra de Vietnam».
(As ONGs tem um papel político, inclusive de tampão. Kissinger, o grande estrategista da guerra do Vietnam afirma que: 'Se as ONGs tivessem existido na década de 1960 não teria havido guerra no Vietnam')".




O MILITARISMO E AS GUERRAS VINDOURAS
por István Mészáros 

István Mészáros.