sábado, 6 de novembro de 2010

PEQUENA HISTÓRIA DA FILOSOFIA (em Claudio Ulpiano )

PEQUENA HISTÓRIA DA FILOSOFIA
Fonte: aula em áudio. Clique no link abaixo para ouvir.
http://claudioulpiano.org.br.s87743.gridserver.com/?p=3527

INTRODUÇÃO : O INÍCIO DA FILOSOFIA.
Partiremos de uma idéia de que os homens pretenderiam obter a sabedoria, ter a sofhia, ser um sábio, tornar-se um sábio. Um sábio seria aquele que conseguiria a sabedoria. Vamos mudar, agora, por questões didáticas, para ficar mais claro, mudar a palavra sabedoria pela palavra “verdade”. Então o sábio seria aquele que teria a pretensão de alcançar a “VERDADE”. E, num enunciado pitagórico, afirma-se que somente é sábio, OS DEUSES, “só os Deuses deveriam obter a sabedoria”; “ só os Deuses poderiam ter a verdade”. Estaria reservado aos Deuses, alcançar a verdade, enquanto os homens, estariam excluídos dela. É a partir dessa idéia, de que os sábios são os deuses, e que eles é quem tem a verdade, colocaríamos, então, o nascimento da filosofia.
 O filósofo, à diferença do sábio, seria um “aspirante à sabedoria”; “um aspirante à verdade”. Ele seria aquele que teria o amor pela verdade, mas à diferença do sábio, ele não teria essa “verdade”. Ou seja, a diferença entre os homens e os Deuses, seria que os Deuses teriam a verdade, e os homens aspirariam; amariam a verdade. Eles seriam os filósofos. A filosofia seria: “o amor à verdade”.
Mas, simultaneamente, esse amor; essa aspiração à verdade, que os homens teriam quando se tornassem filósofos, traria, essa aspiração, simultaneamente, à exclusão da verdade. Ou seja, o filósofo aspiraria à verdade mas estaria excluído dela. Seria essa a diferença inicial entre o filósofo e o sábio, àquele que tem a sabedoria, os Deuses, àqueles que tem a verdade, e àqueles que aspiram a verdade, mas que, simultaneamente, são excluídos. 
Ninguém, a não ser um Deus, por essa afirmação, é sábio. Os homens estariam excluídos disso. O termo filósofo, é composto por uma humildade de base, há uma humildade na base do termo filosofia. A humildade da aspiração, e da exclusão de não poder entrar em contato com essa verdade.
Agora, a filosofia deixar de ser aspirante e de ser excluída da sabedoria, colocaríamos, então, a pratica platônica.


A FILOSOFIA PLATÔNICA  - 
Platão surgiria; Platão apareceria exatamente para ultrapassar essa aspiração e essa exclusão. Permitindo que o filósofo, pudesse encontrar a verdade. Para Platão, não seria a verdade somente do sábio, e o filósofo um excluído. Para Platão, e é quando vai construir os seus métodos e os seus mitos, é para mostrar que o filósofo é mais que um pretendente à essa verdade;  ele vai atingir essa verdade.
  Agora, para se atingir essa verdade,  é preciso romper com a linguagem humana; com o uso comum, e atingir a linguagem dos inspirados, dos poetas. A sabedoria, marca a presença do divino no inspirado, o “sábio”.
Portanto, quando Platão estabelece que o filósofo é aquele que também pode atingir a verdade, ele vai fazer uma ligação do filósofo com os homens que são chamados “os inspirados”. “Aqueles que recebem os Deuses”. Por exemplo: o profeta e o poeta. Porque o profeta quando faz as suas práticas discursivas, quando ele elabora o seu discurso, o discurso do profeta, é suposto ser dito por um Deus, por Apolo. E o poeta, quando faz o seu discurso, é suposto que o discurso do poeta, é governado por uma Deusa, Mnemosyne. Então, profetas e poetas, supostamente, eles por terem inspiração divina, eles atingiriam a verdade.
Esse seria um ponto de partida.

Mas ocorre, que Platão nasce numa cidade, a cidade grega onde está havendo o exercício da palavra diálogo. Uma palavra que já não é governada pelos Deuses. Esse contexto da vida social grega, se dá no diálogo entre os homens. Há uma disputa dialogal de opiniões, para que um sujeito, através de recursos e processos retóricos possa vencer o outro no debate. Gera então o problema da persuasão e da refutação. Surge , então, a erística (A erística é a arte ou técnica da disputa argumentativa no debate filosófico, empregada com o objetivo de vencer uma discussão e não necessariamente de descobrir a verdade de uma questão. Esta técnica foi desenvolvida principalmente pelos sofistas.) e a sofística (Significado de Sofística - s.f. Movimento intelectual ocorrido nas cidades-estados gregas durante a segunda metade do séc. V a. C. Os sofistas eram professores que iam de cidade em cidade, ensinando gramática e oratória, duas matérias vitais nas antigas democracias, como Atenas. Eles não se interessavam por pensamentos filosóficos sobre a natureza do universo físico. Ao contrário, criticavam a moral convencional e a religião, e consideravam que virtude era a capacidade de ter sucesso no mundo.). Duas maneiras de se utilizar o diálogo.

Os erísticos  são aqueles que, quando se confrontam com o diálogo, a preocupação que eles trazem, com eles, é a vitória no diálogo. Vencer àquele diálogo. Persuadir que , àquilo que ele está falando, é melhor do que àquilo que o outro está falando. A questão do erístico é permanentemente a vitória no diálogo.
 O Platão, em função disso, levanta uma questão: “A ALMA FAZ UM DIÁLOGO CONSIGO PRÓPRIA”. Porque  quando a alma faz um diálogo com ela mesma, já não é um diálogo entre os homens. Mas, um diálogo da alma consigo própria. Então, a alma coloca uma questão. Coloca uma tese sobre àquela questão. De imediato, na própria alma, começa a emergir as contra-teses. As teses que vão se debater contra àquela que foi levantada. Um pouco de tese e antítese.
Platão coloca uma outra questão: “O QUE É O AMOR?”. E, dá uma resposta para o que é o amor. Mas, de imediato, em sua própria alma, começa a emergir uma série de discursos que vão se por, contra, àquela tese que ele acabou de fazer.

Nesse diálogo da alma consigo própria, as práticas da erística, são inteiramente insuficientes, porque “a alma não pretende se enganar A SI MESMA”. É aí, que Platão levanta, para si, a questão da “verdade”.  A verdade , para ele, já é de alguma maneira, superando a disputa e os processos que emergem nas relações de diálogos entre sofísticos e erísticos. Porque para Platão, o que importa, é encontrar uma resposta verdadeira à questão colocada. E que esta resposta não possa ser dissolvida, ou destruída, por um outro qualquer discurso. Daí que, nos diálogos platônicos, mostra os primeiros movimentos socráticos. O Sócrates nessa busca pela verdade, sai pelas ruas gregas a fazer questões. Ele coloca questões: “o que é o amor?”; “o que é a coragem?”; “o que é a beleza?”, e assim por diante. O objetivo que ele traz , é o encontro da verdade. E quando ele faz essas questões vão surgir uma série de respostas: Um responde de uma maneira, o soldado responde de uma maneira sobre a coragem, o amante dá outra resposta. As respostas são as mais variadas. E todas as respostas que são dadas pelas questões que são levantadas por Sócrates, ele as recusa. Ele não aceita essas respostas. Porque ele toma essas respostas que viriam da experiência de cada um, e, essas experiências não seriam capazes de revelar a verdade daquela questão. É o que é chamado em filosofia de diálogos aporéticos. Sempre que uma questão é colocada por Sócrates as respostas são inteiramente recusadas. Então, o Platão emerge desse mundo da palavra diálogo, e, é nessa sua pesquisa de resposta para encontrar a verdade, trabalhando com esse tema que são: as questões e as respostas. Mas, é surpreendente que todas as questão que Sócrates faz, são inteiramente recusadas. Ficamos com a questão, mas não obtemos a resposta.


 Sócrates: 3 Fragmentos de la pelicula de Roberto Rossellini - 1 º parte 



Sócrates: segunda parte




Sócrates: terceira parte




No universo grego, percorre uma prática estranha, percorre a prática da “loucura divina”. A prática do delírio, loucura divina, mania, entusiasmo.... A prática desses determinados homens excepcionais, que são delirantes, que para suas práticas excepcionais abandonam seu campo social, se torna retirante para fazer seu encontro com os Deuses. Esse contato lhes revelam a verdade do futuro, do passado e do presente escondido. Então Platão, além de se confrontar com a existência em sua cidade da palavra diálogo, ele se confronta com esses delirantes, que se supõe proprietários da verdade porque, tomados por um Deus, eles são capazes de encontrar a verdade do futuro, via Apolo, a do passado via Mnemósynes, a do presente escondido via Dionísio. Esses seriam os delirantes pretendentes da verdade.  
Quando Platão constrói a sua filosofia, nós vamos ter uma surpresa porque ele sabe da existência desses três delírios na Grécia. Esses três delírios que são capazes de revelar a verdade. O que ele faz não é desfazer esses delírios. Ele cria um quarto delírio: o “DELÍRIO ERÓTICO”. Nós tínhamos o delírio profético, o delírio poético, o do presente escondido.
 Ora, se ele cria esse quarto delírio, o delírio erótico, e toda a questão que ele está fazendo é encontrar a verdade, ele vai fazer, agora, uma competição para se saber qual o delírio verdadeiro, numa obra sua (o Fédon). O verdadeiro delírio seria o delírio erótico, e mais propriamente, mais tarde, o delírio filosófico. Ele vai fazer uma competição entre os delirantes;  entre o delírio propriamente filosófico e o profético, o poético e o do presente oculto, que fazem parte da história dos gregos.
E quando ele coloca essa questão, ele coloca o que vem a ser “a verdade”, o que é a verdade, e, exclui da verdade, todos os delírios que não forem o delírio erótico, porque somente este, é capaz de entrar, alcançar um fora absoluto, uma região extremamente especial, que somente este delírio erótico pode nos levar.  Porque, tanto  profetas quanto  poetas, ainda que eles não trabalhem no presente, eles investem no passado e no futuro. Enquanto que, esse delírio erótico, nos conduz à eternidade. Então, quando Platão diz isso, que o delírio erótico é capaz de ultrapassar as linhas do tempo, e penetrar na eternidade, ele está acabando de nos dizer que “a verdade é eterna, estável, e fixa”.  Ou seja: que a verdade não está misturada com o tempo. Essa é a primeira prática dele. Ou seja, ele considera o verdadeiro delirante, EROS, o AMOR, porque o amor seria àquilo que nos conduziria a essa “verdade”, mas essa verdade não estaria sob a regência dos acontecimentos temporais: nem no passado, nem no futuro, nem no presente. Mas, na eternidade fixa. Sempre a mesma. Uma coisa de imediato surge daí: a verdade era uma coisa que é, e é, imutável e eterna. E, o filósofo, pelos seus jogos combinatórios com o delírio, poderia atingir essa verdade. Ou seja, o problema que o sábio levantava parece ultrapassado. O filósofo deixa de ser apenas um aspirante e um excluído da filosofia para, a partir disso, ele encontrar a verdade.
Assim então, se mostra todo o objetivo platônico no encontro da verdade, e mostrar que para se encontrar essa verdade nós temos que penetrar numa região inteiramente especial que é a região da eternidade: sair do tempo. Acontecimento que só é possível porque somos dotados de um corpo e de uma alma, e essa alma é capaz de viver encarnada e desencarnada. E quando enquanto desencarnada, participar ou conhecer essa verdade. Essa é a parte mítica de Platão. É a parte dos mitos. E essa parte dos mitos é alguma coisa que na história da filosofia já mereceu quase que infinitas doxografias, quase que infinitos pontos de vista, e este seria um deles, dizendo que toda questão de Platão com os delírios e com os mitos, é para mostrar, que nós os humanos, não estamos fora da verdade, nós podemos alcançá-la.
Mas,  a partir disso daí, faz-se uma mutação. Abandona-se essa prática mítica, e nós começamos a entrar no que é o platonismo propriamente: “O MÉTODO DIALÉTICO”.
O “método dialético” traria um único objetivo: o encontro do verdadeiro. Só que com o método, o seu objetivo, é muito semelhante essa questão do delírio. É separar o verdadeiro do falso. Esse método dialético, vai levar Platão a considerar como verdadeiro , tudo aquilo que está fora do tempo, e jogar do lado do falso tudo aquilo que estiver no tempo. E ele vai fazer uma distinção fundamental para sua obra: o nosso mundo temporal é governado pelo verdadeiro, logo, nós somos cópias desse verdadeiro, mas ainda assim, nesse mundo em que nós estamos, haveria determinados acontecimentos que escapariam dos modelos. É onde Platão divide o nosso mundo em CÓPIA, ÍCONES E FANTASMAS. Nós teríamos os ícones, que seriam cópias desses modelos superiores, e teríamos os fantasmas, aqueles que estariam escapando desses modelos. Nesses que escapam  desses modelos, seriam todos aqueles que não estariam submetidos a esse modelo da verdade. Ele cria esse método dialético, e com esse método, ele parece obter a separação do verdadeiro e do falso: Jogando para o lado do verdadeiro, todos aqueles que fariam determinadas práticas. Por exemplo: o filósofo seria aquele que poderia pretender alcançar a verdade. O sofista, seria aquele que estaria ao longo da sua vida investindo no falso. 
Nasceu o primeiro método para se atingir a verdade.


A FILOSOFIA ARISTOTÉLICA –

Alguns anos mais tarde, talvez não muitos, vai aparecer o primeiro discípulo de Platão, Aristóteles.
Aristóteles já não é como Platão. Já não traz aquela mesma riqueza, aquele mesmo discurso. Já não traz aquelas mesmas pretensões.
A questão aristotélica é rigorosamente conhecer a verdade e distinguir o bem do mal. Então, todas as questões aristotélicas estariam centradas nisso.
Conhecer a verdade e conhecer o bem e do mal. Por causa disso, Aristóteles nos ensina que nós os sujeitos humanos fazemos determinada experiência, experiência do tipo físico, experimentamos que o mundo em corpos, que o mundo com movimento, com velocidade, que o mundo tem quedas, tem alterações de velocidade e verifica que esses acontecimentos do mundo físico são independentes do sujeito que está contemplando.
Nós os sujeitos humanos não somos criadores desses acontecimentos e esses acontecimentos são externos a nós, são separados de nós, como ele também verifica que o método dialético de Platão teria esse mesmo objetivo.
O que vai ocorrer agora é que quando Aristóteles constrói o método dele, o adversário de Aristóteles é Platão. Não nos objetivos, mas nos instrumentos.
Aristóteles considera o método dialético para distinguir o verdadeiro do falso é deficiente. Ele vai, inventa, o que vai ser chamado de método demonstrativo, a demonstração. Essa demonstração que está sendo construída por Aristóteles, ela vai ter como adversário dela a dialética platônica, porque para Aristóteles a dialética platônica não é suficiente para distinção entre o verdadeiro e o falso.
Ele constrói o método demonstrativo. Ao construir esse, ele é forçado a produzir o silogismo. O silogismo como sendo o instrumento a serviço do método demonstrativo.


E o que é silogismo? Silogismo é uma coleção de proposições.
Ex: todo homem é mortal, Sócrates é homem, Logo, Sócrates é mortal.
Nesse trabalho que ele vai fazer com as proposições ele vai encontrar que as proposições são constituídas de nomes e verbos. Então, ele é obrigado a voltar-se para dar conta nas próprias proposições, que são constituídas de nomes e verbos.
E esses nomes e verbos, é aqui que começa o enriquecimento aristotélico. Esses nomes e verbos aparecem nos proposições como sujeitos e atributos.
Sempre que eu produzo uma proposição, essa proposição necessariamente tem um sujeito e tem um atributo. Esse é o ponto principal da metodologia aristotélica porque quando ele chega a esse ponto da existência do sujeito e atributos, é o momento em que o Aristóteles vai construir o que se poderia chamar de ONTOLOGIA.
A verdade é a questão. É o método dialético de Platão pressupôs resolver essa questão e o método demonstrativo de Aristóteles é ele quem quer resolver essa questão.
Deparam-se os dois. É o momento em que todos os historiadores de lógica, vão reencontrar aquilo que Aristóteles encontrou, que seriam as deficiências do método dialético pela ausência do termo médio e etc. e o Aristóteles não montando seu método, montando sua estrutura, montando seu instrumento, para com esse instrumento atingir a verdade.
Esse saber aristotélico, esse mecanismo do modo demonstrativo do método de Aristóteles vai fazer uma viagem, contado até pelo Heidegger, uma viagem com os árabes e vai reaparecer na idade média.
Na idade média, vamos reencontrar todos esses silogismos do método demonstrativo, das proposições, dos sujeitos, dos atributos, vamos encontrar isso na base da filosofia da linguagem, nomes e verbos e etc.



FILOSOFIA RENASCENTISTA -

Mas vai aparecer um determinado momento do mundo que nós vamos cair no mais integral ceticismo. Na mais integral descrença da verdade. A verdade que era tão absoluta para Platão, que era tão absoluta para Aristóteles. Eles não colocaram em questão a verdade, eles fizeram foi construir métodos para se atingir essa verdade.
Nós vamos ver um momento da historia que a verdade parece desaparecer, e os homens caíram no mais completo ceticismo. Na mais completa descrença. Eles já não estão mais num momento de construírem métodos para encontrar a verdade. Porque eles não acreditam mais nisso. Eles caem na DUVIDA. Investem na duvida. É um momento Montaigne e etc.
É nesse momento que aparece Descartes que traz com ele a mesma questão. Sempre a mesma questão _ A VERDADE. Mas agora Descartes na sua busca da verdade, ele vai se relacionar com um instrumento que ele tinha naquela época. Que é exatamente o método demonstrativo de Aristóteles.
Ele utiliza esse método demonstrativo, considera esse método demonstrativo inteiramente estéril, inteiramente incompetente para revelar a verdade. Então, ele recusa literalmente esse método, mas ele não recusa para ele, o objetivo de encontrar a verdade. Ele quer encontrar a verdade, mas não aceita mais o método que Aristóteles tinha transpassado para o medieval. Ele recusa a esse método, mas ele não se mantém na duvida, na descrença da verdade, ao contrario ele vai usar a duvida como método.
É surpreendente quando nos fazemos essa historia, quando nós começamos com o método dialético, passa para o método demonstrativo e de repente encontramos na aurora da revolução cientifica, o Descartes. Ele não se servindo desses métodos dialéticos e demonstrativos, mas colocando a própria duvida como método.
Ao colocar a duvida como método, ele vai tentar encontrar alguma coisa da qual ele tenha a certeza absoluta.
Ele vai duvidar de tudo, tudo vai ser questão de duvida. Tudo é duvidável, a percepção, a imaginação, o pensamento. Incrível ate as matemáticas. Por uma tese difusa do Descartes, ele coloca a matemática em questão. Até a matemática pode ser falsa, na hora em que ele levanta o que se chama duvida hiperbólica, ele cria a idéia que o nosso mundo é governado por um GENIO MALIGNO, e esse gênio maligno é o MAL PURO. Espalha engano, incertezas e hipnotiza.
Então, Descartes, cria um dos combates mais difíceis da historia. Ele vai combater frente a frente com o gênio maligno, ou seja, que esta destruindo toda a possibilidade da verdade. Para fazer isso, ele precisa partir de alguma coisa da qual ele tenha certeza absoluta. Ele vai construir o famoso COGITO ERGO SUM (penso, logo existo). Ele parte dessa idéia e mostra que essa idéia que ele está tendo, ela é irrecusável, ainda que o gênio maligno exista, essa idéia não pode ser recusada. Ela traz para ele uma certeza plena, uma certeza absoluta. E a partir dela ele vai refazer as qualidades das matemáticas e no final das contas, ele vai construir um método – DEDUÇÃO MATEMATICA. Ou seja, pela matemática ele encontra o caminho da verdade.
Mais ou menos da seguinte forma: a tese de Descartes é bastante difícil de entender, para nós compreendemos inicialmente. Mas isso é problemático, é que a verdade é uma cadeia de razões que está no espírito. O espírito tem uma cadeia de razões, essas razões conduzem o espírito à verdade. Isto não quer dizer que essa verdade esteja no ser. Nitidamente ela está no espírito, ou seja, o sujeito humano, pelo discurso da matemática, pelas cadeias de razões da matemática, ele atinge a verdade.

Mais ou menos o seguinte: Um botânico, entre os séculos XVI e XVII, Lineu ele dizia que Deus quando fez esse mundo, Deus teria feito esse mundo com a maior das perfeições. Mas Deus teria feito uma mistura das coisas, teria misturado tudo; flores com lama, mosquitos com arvores. Nós veríamos nesse mundo tudo misturado. A função do espírito seria construir buque de ordens. Ou seja, categorizar, produzir aqui a ordem dos mosquitos, ordem das plantas, ordem do não sei o que, ou seja, uma responsabilidade da construção da ordem no mundo, dada ao próprio espírito.
O espírito separando as coisas que estariam juntas no mundo.



RUPTURA NA TRADIÇÃO FILOSÓFICA EM ESPINOSA

Benedictus de Spinoza (Amsterdã, 24 de novembro de 1632 — Haia, 21 de fevereiro de 1677), forma latinizada de Baruch de Spinoza , depois de ser excomungado pelo Judaísmo ,adotou o nome de Bento de Espinosa (português europeu) ou Benedito Espinosa (português brasileiro),e se auto intitulava "O Homem sem Superstições".
Foi um dos grandes racionalistas do século XVII dentro da chamada Filosofia Moderna, juntamente com René Descartes e Gottfried Leibniz.
Nasceu nos Países Baixos em uma família judaica portuguesa e é considerado o fundador do criticismo bíblico moderno e tambem representante do Panteísmo .

Espinosa - O Apóstolo da Razão .(Completo) 





Ainda no século XVII, alguma coisa de surpreendente vai aparecer. Porque um filosofo, chamado Spinoza, trazendo com ele a mesma questão, o metodo. Mas o método em Spinoza não seria para revelar as regras que nos conduziriam a verdade, mas o método é para nos revelar a POTENCIA DO PENSAMENTO.

Alguma coisa aqui, depois de uma historia dessas, fica um pouco surpreendente. Spinoza não tem a preocupação da construção de um conjunto de regras, nem silogístico, dialético, demonstrativo ou matemático que nos conduza à verdade.
A preocupação que ele está trazendo é a construção de um método, para nos mostrar, com esse método, o poder do pensamento.

Eu acredito que aqui há inclusive, muito mais que uma viagem filosófica, muito mais que uma viagem epistemológica, uma viagem na teoria das idéias.
Há uma viagem histórica, uma viagem política. É como que Amsterdã com seus fluxos mais enlouquecidos estivessem produzindo, permitindo, sendo a condição de possibilidade, uma espécie de um a priori histórico para o nascimento de um tipo de pensador completamente diferente daquela tradição. O que Spinoza quer é a revelação pelo método, do poder do pensamento.
O que o pensamento pode pensar? Seria exatamente isso. Esse método daria à nossa consciência o conhecimento à própria consciência, do poder do pensamento.
A simples expressão desse mundo que Spinoza esta construindo, toda aquela tradição estaria inteiramente abalada. Porque os outros, em momento nenhum, botaram em questão o pensamento. Em todos os momentos eles colocaram em um conjunto de regras, para que o pensamento atingisse a verdade.
Spinoza, agora, está levantando a questão: qual é exatamente o poder do pensamento? o que o pensamento pode pensar?

(Aula de Claudio Ulpiano - Pensamento e liberdade em Espinoza)
Esta é a primeira aula gravada de Claudio Ulpiano. Foi dada no outono de 1988, no Planetário da Gávea, no Rio de Janeiro.


Aula de Claudio Ulpiano - Pensamento e liberdade em Espinoza from CCLULP on Vimeo.





UMA PEQUENA PASSAGEM EM BÉRGSON

Agora vamos fazer, numa segunda etapa dessa abordagem,  uma pequena passagem que implica em zoologia, ou biologia, ou etologia, que é o BÉRGSON.
Quando Bérgson, teve, à diferença do Platão, do Aristóteles, do Descartes, tomado como ponto de partida para a construção de sua filosofia, em última analise, da sua metafísica, tomado como ponto de partida, “A VIDA”, ele já não toma mais como ponto de partida objetos eternos. Já não é a matemática, já não é a lógica...  mas, é o próprio ser vivo que é o objeto no qual ele vai investir.
E quando ele faz esse investimento no objeto, que é o “SER VIVO”, ele ergue uma tese bastante surpreendente. Ele diz que quando os VIVOS emergiram nesse planeta, eles trariam com eles, estaria inscrito nos vivos, o instinto. Os vivos teriam instinto. Uma espécie de quinta força. Eles teriam instinto. Esse instinto seria a força dos vivos. A força que os vivos teriam, através do instinto, para dar conta da matéria que os circundava. E, através desse instinto, a vida poder se processar. Ou seja, o instinto seria um instrumento fundamental, que os vivos teriam, para exercer a sua dupla vida, que é: a afirmação da singularidade e a possibilidade da reprodução. Mas, com a evolução, apareceria, entre os vivos, os processos do nascimento do sistema nervoso, o nascimento do cérebro, modificação das estruturas cranianas, modificação do movimento, outro uso das mãos, outro uso dos braços,  outro uso dos lábios, outro uso dos olhares..., o nascimento do cérebro. E esse cérebro, o nascimento disso, a aparição do intelecto. O surgimento do intelecto humano. E esse intelecto humano, na linguagem do Bérgson, esse intelecto humano seria, sem dúvida nenhuma, àquilo com o qual Aristóteles e Platão estavam nos falando, esse intelecto humano, só teria a possibilidade da compreensão do estático. Só teria possibilidade da compreensão daquilo que não tivesse movimento. Ele cita, inclusive aí, os trabalhos do Zenão de Eléia, as famosas aporias de Zenão de Eléia. Onde nessas quatro aporias de Zenão, o Zenão nega o movimento, dizendo que o movimento não existe: a flecha não poderia se movimentar, e assim por diante. Diógenes, um cínico, vai negar as aporias de Zenão, caminhando. Ele diz: como, Zenão, não existe movimento, se eu estou andando?
Mas, é que, o Diógenes não entendeu o Zenão! O que o Zenão estava dizendo, não é que não existia movimento. O que ele estava dizendo é que: o intelecto não tinha preparação suficiente para dar conta do movimento. Isto é que o Bérgson vai dizer. Ou seja, o intelecto humano, quando ele se deparava com o movimento, ele necessariamente cairia em aporias, em contradições inultrapassáveis.
Então o Bérgson, vai colocar, que o intelecto, que seria um instrumento fundamental do crescimento da humanidade, porque foi exatamente pelo intelecto que nós fizemos essa série de conquistas, chega um momento em que o espírito começa a se envolver com novas formas, e o intelecto se torna um obstáculo.
É como se a VIDA, que tinha inventado o instinto, e em seguida tivesse inventado o intelecto, de repente a VIDA estivesse engasgada; ela necessitando produzir alguma coisa diferente para penetrar em outros campos. É o que o Bérgson vai chamar de INTUIÇÃO.
Então, INTUIÇÃO, seria um terceiro momento da VIDA. Não seria mais o instinto, já não seria mais o intelecto, o Bérgson de modo nenhum se desfaz do intelecto, neste momento ele é até Kantiano, todas as teses que Kant fez sobre o intelecto ele aceita integralmente, mas, ele diz que as teses do Kant, dando os limites e as possibilidades da razão, não dariam conta da intuição. Porque a intuição faria uma linha de fuga em relação à razão.
Então o que Bérgson vai construir, e agora de uma maneira excepcionalmente original, é: “A INTUIÇÃO COMO MÉTODO”.
Aparece a intuição como método. Dialética, demonstração, razões matemáticas..., agora, o método é a INTUIÇÃO.
Esse método é a intuição, e essa intuição como método nos traz alguma coisa de muita beleza: quando nós estudamos Platão, nós verificamos que o método platônico, é para a alma humana atingir a verdade, e, contemplá-la. Observar a verdade. Vê-la; olhar noético. Olhar da alma; ver a verdade enquanto tal. E se submeter a essa verdade. O homem, a alma humana, encontrando a verdade, ele teria encontrado o seu momento máximo, e deveria rigorosamente se submeter a essa verdade que foi por ele contemplada. Contemplação em grego chama-se teoria. Ou seja, o nascimento do homem teorético. Contemplar a verdade como ela é.
No caso do Bérgson, como a vida é um processo que parece ultrapassar a entropia, a vida parece gerar a neguentropia, porque um ser vivo não poderia viver se não tivesse muito mais que processos homeostáticos para constituir-se como ser vivo. A vida, ela traz com ela, processos constantes de diferenciação. Então, a vida, é uma geradora permanente de diferenças. Por Isso, o Bérgson, tomando a vida, como o suposto com o que ele vai trabalhar, ele vai colocar a vida como “PROBLEMA”. O ser da VIDA, nele você não encontra uma verdade, o que você encontra no ser da VIDA, é o “PROBLEMA”. Mas, nem por isso, deixa de haver VERDADE nisso. Por que, nós, durante toda a nossa história, não só a história que nos acompanha há milênios, a história de longa duração, mas a história das nossas próprias individualidades. Nós costumamos  aprender, que a verdade ou o falso, está na “RESPOSTA”. O mestre-escola nos pergunta, nós RESPONDEMOS, tiramos “zero do dez”.  Ou seja, a “RESPOSTA”, é o lugar da VERDADE ou do FALSO.
O que Bérgson faz, é, um refazimento; ele ao invés de colocar o VERDADEIRO e o FALSO na “RESPOSTA”, ele bota o VERDADEIRO e o FALSO no “PROBLEMA”. Então, na metodologia Bérgsoniana, vai passar um longo trabalho para distinguir o que é o VERDADEIRO, e o que é “FALSO PROBLEMA”. Porque, o Bérgson, numa marginalidade às tradições da filosofia, ele quer reconciliar o que sempre esteve separado: a arte e a matemática; a verdade e a criação. Ou seja, o espírito encontra com um mundo, mas esse mundo, este fora com o qual ele se encontra, não é um fora pronto. É um fora “PROBLEMÁTICO”, em que o espírito “PROBLEMATIZA”, e, CRIA.


UMA CONCLUSÃO PARA A FILOSOFIA CONTEMPORÂNEA
Em última análise, o método em Bérgson, e o método em Espinosa, criaria para a tradição da história da filosofia, uma espécie de MARGENS. Essas margens que esses filósofos construíram, Espinosa e o Bérgson, nos mostram, por exemplo, no nosso tempo, o que seria a obra do Gilles Deleuze. 

O abecedário de Deleuze - de A - F

L'abecedaire Deleuze - A a F - Shaman xvid from CCLULP on Vimeo.



O abecedário de Deleuze - de G - L

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O abecedário de Deleuze - de M - Z

l'abecedaire deleuze - M a Z - Shaman xvid from CCLULP on Vimeo.



O Deleuze, como sendo exatamente o pensador, que, ao invés de aceitar tudo aquilo que foi construído pelo Platão e Aristóteles, ele vai fazer exatamente o diferencial: ele vai pegar em Platão, Platão fazendo com o seu método dialético a distinção entre o verdadeiro e o falso,   ele ao invés de seguir a trilha de Platão, para correr atrás do verdadeiro, ele se alia com o falso. O Deleuze, em vez de aceitar as demonstrações aristotélicas, com métodos que nos conduzem à verdade das obras teoréticas e práticas, ele se liga à demonstração estóica. Que têm outro procedimento e outro objetivo. E por causa disso, a obra do Deleuze, vai aparecer no nosso mundo, como uma obra, quase impossível de ser lida. Por que? Porque todas as nossas tradições, são essas tradições que vem do método dialético, do método da demonstração, etc.
E, para concluir, a emoção atravessa toda essa fala. E, isso é bonito porque,  vocês não pertencerão ao mesmo planeta que eu, se não compreenderem que a alma é flutuante, que ela em momento nenhum ela é neutra, que nela passa os instantes mais fugidios, os afetos mais difíceis, e, ainda assim, essa alma pode se ligar com as coisas mais difíceis do pensamento, e produzir uma OBRA.

Ulpiano fala sobre como a ciência, a literatura, a filosofia e o cinema tratam a questão do tempo no século XX. Aula de Claudio Ulpiano - Em busca do tempo puro


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Aula de Claudio Ulpiano - A experiência transcendental ( O tema desta aula é o transcendental, que não pertence nem ao mundo físico nem ao psicológico, mas ao campo das singularidades. É no transcendental que Deleuze baseia a sua obra). 


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Um comentário:

Anônimo disse...

Aqui, Claudio Ulpiano nos leva numa viagem poética e inquietante, para uma aproximação com a filosofia. O roteiro escolhido é maravilhoso. Ficou o desejo de mais...