sexta-feira, 5 de novembro de 2010

O ESTADO E OS PROBLEMAS CONTEMPORÂNEOS

2009 - Maria Paula Gomes dos Santos

Ministério da Educação – MEC
Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior – CAPES
Diretoria de Educação a Distância – DED
Universidade Aberta do Brasil – UAB
Programa Nacional de Formação em Administração Pública – PNAP
Especialização em Gestão Pública Municipal
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1º ao 3º, sem prejuízo das sanções cíveis cabíveis à espécie.
S237e Santos, Maria Paula Gomes dos
O Estado e os problemas contemporâneos / Maria Paula Gomes dos Santos. –
Florianópolis: Departamento de Ciências da Administração / UFSC; [Brasília] : CAPES :
UAB, 2009.
144p. : il.
Especialização – Módulo Básico
Inclui bibliografia
ISBN: 978-85-61608-63-7

1. Política social. 2. Política e governo - História. 3. Estado. 4. Bem-estar social. 5. Educação
e estado. 6. Política de saúde. 7. Educação a distância. I. Coordenação de Aperfeiçoamento
de Pessoal de Nível Superior (Brasil). II. Universidade Aberta do Brasil. III. Título.
CDU: 368.4
Catalogação na publicação por: Onélia Silva Guimarães CRB-14/071
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PRESIDENTE DA REPÚBLICA
Luiz Inácio Lula da Silva
MINISTRO DA EDUCAÇÃO
Fernando Haddad
PRESIDENTE DA CAPES
Jorge Almeida Guimarães
UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA
REITOR
Álvaro Toubes Prata
VICE-REITOR
Carlos Alberto Justo da Silva
CENTRO SÓCIO-ECONÔMICO
DIRETOR
Ricardo José de Araújo Oliveira
VICE-DIRETOR
Alexandre Marino Costa
DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS DA ADMINISTRAÇÃO
CHEFE DO DEPARTAMENTO
João Nilo Linhares
SUBCHEFE DO DEPARTAMENTO
Gilberto de Oliveira Moritz
SECRETARIA DE EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA
SECRETÁRIO DE EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA
Carlos Eduardo Bielschowsky
DIRETORIA DE EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA
DIRETOR DE EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA
Celso José da Costa
COORDENAÇÃO GERAL DE ARTICULAÇÃO ACADÊMICA
Nara Maria Pimentel
COORDENAÇÃO GERAL DE SUPERVISÃO E FOMENTO
Grace Tavares Vieira
COORDENAÇÃO GERAL DE INFRAESTRUTURA DE POLOS
Francisco das Chagas Miranda Silva
COORDENAÇÃO GERAL DE POLÍTICAS DE INFORMAÇÃO
Adi Balbinot Junior
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COMISSÃO DE AVALIAÇÃO E ACOMPANHAMENTO – PNAP
Alexandre Marino Costa
Claudinê Jordão de Carvalho
Eliane Moreira Sá de Souza
Marcos Tanure Sanabio
Maria Aparecida da Silva
Marina Isabel de Almeida
Oreste Preti
Tatiane Michelon
Teresa Cristina Janes Carneiro
METODOLOGIA PARA EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA
Universidade Federal de Mato Grosso
COORDENAÇÃO TÉCNICA – DED
Soraya Matos de Vasconcelos
Tatiane Michelon
Tatiane Pacanaro Trinca

AUTORA DO CONTEÚDO
Maria Paula Gomes dos Santos

EQUIPE DE DESENVOLVIMENTO DE RECURSOS DIDÁTICOS CAD/UFSC
Coordenador do Projeto
Alexandre Marino Costa
Coordenação de Produção de Recursos Didáticos
Denise Aparecida Bunn
Supervisão de Produção de Recursos Didáticos
Flavia Maria de Oliveira
Designer Instrucional
Denise Aparecida Bunn
Andreza Regina Lopes da Silva
Supervisão Administrativa
Érika Alessandra Salmeron Silva
Capa
Alexandre Noronha
Ilustração
Adriano Schmidt Reibnitz
Igor Baranenko
Lívia Remor Pereira
Projeto Gráfico e Finalização
Annye Cristiny Tessaro
Editoração
Annye Cristiny Tessaro
Rita Castelan
Revisão Textual
Gabriela da Costa Figueiredo
Créditos da imagem da capa: extraída do banco de imagens Stock.xchng sob direitos livres para uso de imagem.
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PREFÁCIO
Os dois principais desafios da atualidade na área
educacional do País são a qualificação dos professores que atuam
nas escolas de educação básica e a qualificação do quadro
funcional atuante na gestão do Estado Brasileiro, nas várias
instâncias administrativas. O Ministério da Educação está
enfrentando o primeiro desafio através do Plano Nacional de
Formação de Professores, que tem como objetivo qualificar mais
de 300.000 professores em exercício nas escolas de ensino
fundamental e médio, sendo metade desse esforço realizado pelo
Sistema Universidade Aberta do Brasil (UAB). Em relação ao
segundo desafio, o MEC, por meio da UAB/CAPES, lança o
Programa Nacional de Formação em Administração Pública
(PNAP). Esse Programa engloba um curso de bacharelado e três
especializações (Gestão Pública, Gestão Pública Municipal e
Gestão em Saúde) e visa colaborar com o esforço de qualificação
dos gestores públicos brasileiros, com especial atenção no
atendimento ao interior do País, através dos Polos da UAB.
O PNAP é um Programa com características especiais. Em
primeiro lugar, tal Programa surgiu do esforço e da reflexão de uma
rede composta pela Escola Nacional de Administração Pública
(ENAP), do Ministério do Planejamento, pelo Ministério da Saúde,
pelo Conselho Federal de Administração, pela Secretaria de
Educação a Distância (SEED) e por mais de 20 instituições públicas
de ensino superior, vinculadas à UAB, que colaboraram na
elaboração do Projeto Político Pedagógico dos cursos. Em segundo
lugar, esse Projeto será aplicado por todas as instituições e pretende
manter um padrão de qualidade em todo o País, mas abrindo
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margem para que cada Instituição, que ofertará os cursos, possa
incluir assuntos em atendimento às diversidades econômicas e
culturais de sua região.

Outro elemento importante é a construção coletiva do
material didático. A UAB colocará à disposição das instituições
um material didático mínimo de referência para todas as disciplinas
obrigatórias e para algumas optativas. Esse material está sendo
elaborado por profissionais experientes da área da Administração
Pública de mais de 30 diferentes instituições, com apoio de equipe
multidisciplinar. Por último, a produção coletiva antecipada dos
materiais didáticos libera o corpo docente das instituições para uma
dedicação maior ao processo de gestão acadêmica dos cursos;
uniformiza um elevado patamar de qualidade para o material
didático; e garante o desenvolvimento ininterrupto dos cursos, sem
paralisações que sempre comprometem o entusiasmo dos alunos.
Por tudo isso, estamos seguros de que mais um importante
passo em direção à democratização do ensino superior público e
de qualidade está sendo dado, desta vez contribuindo também para
a melhoria da gestão pública brasileira, compromisso deste governo.
Celso José da Costa
Diretor de Educação a Distância
Coordenador Nacional da UAB
CAPES-MEC




SUMÁRIO
Apresentação.................................................................................................... 9
Unidade 1 – Dimensões conceituais e históricas do Estudo dos Problemas e
Políticas Sociais
Introdução...................................................................................... 15
Pobreza, Desigualdade, Exclusão e Cidadania: correlações, interseções e oposições.... 16
Pobreza e desigualdade............................................................................. 18
Exclusão e cidadania............................................................................. 22
A Proteção Social promovida pelo Estado: histórico e mais alguns conceitos relevantes.. 26
Primórdios.................................................................................................... 28
O Plano Beveridge e as origens do Estado de Bem-Estar Social.................... 36
Bases econômicas do Estado de Bem-Estar Social: keynesianismo e fordismo...... 38
Modelos de Estado de Bem-Estar Social .................................................... 40
Os Estados de Bem-Estar Social na nova ordem mundial.............................. 46
As políticas de proteção social no Brasil: história e perspectivas................... 49
Evolução da proteção social brasileira no século XX: da década de 1920 à Constituição
Federal de 1988............................................................... 50
A Política Social após a redemocratização: da Constituição Cidadã de 1988 ao
Governo Lula......................................................................................... 56


Unidade 2 – Políticas Sociais do Estado Brasileiro
Introdução..................................................................................................... 73
Educação.................................................................................................. 75
Configuração institucional do sistema educacional brasileiro....................... 76
Recursos e financiamentos..................................................................... 82
Desafios do sistema educacional brasileiro.................................................... 84
Saúde.................................................................................................. 90
A Reforma Sanitária: um marco da política de saúde brasileira..................... 90
O Sistema Único de Saúde..................................................................... 94
O Programa de Saúde da Família.................................................... 97
Algumas considerações finais............................................................. 98
Assistência Social e Segurança Alimentar............................................................ 100
Programas de Assistência Social.............................................................. 101
O Programa Bolsa Família..................................................................... 102
O Sistema Único de Assistência Social.................................................... 107
Segurança Alimentar e Nutricional............................................................. 109
Órgãos colegiados das políticas de Assistência Social e Segurança Alimentar.... 111
Políticas Públicas de Trabalho e Geração de Renda......................................... 113
O Mundo do Trabalho na virada do século XXI............................................ 113
Estrutura e funcionamento do Mercado de Trabalho no Brasil..................... 117
As instituições do mercado de trabalho no Brasil......................................... 127
O sistema público de emprego no Brasil...................................................... 130
Referências.................................................................................................... 138
Minicurrículo.................................................................................................... 144



APRESENTAÇÃO
Caro estudante!
O programa que propomos para a disciplina O Estado e os
Problemas Contemporâneos não é, certamente, o único possível.
Nem é o único ajustável à Ementa definida para este Curso. Afinal,
os “problemas contemporâneos”, atualmente implicados com o
“Estado”, não são poucos. Mas, talvez, o primeiro destes, que merece
nossa consideração, seja um problema de ordem teórica, a saber:
qual o papel que o Estado pode e deve desempenhar na promoção de
soluções para os problemas da sociedade brasileira contemporânea.
Até há bem pouco tempo, o Estado, enquanto instituição,
vinha sendo visto como um “mal desnecessário”. Durante toda a
década de 1990, pelo menos, predominava no pensamento
acadêmico e nos circuitos políticos dos países capitalistas
avançados a interpretação de que o modelo de desenvolvimento
seguido por eles, e também pelos países periféricos, no pós-Segunda
Guerra Mundial (entre 1945 – 1970, mais ou menos), estaria
esgotado – modelo este conhecido como do Estado de Bem-Estar
Social, o qual se baseava em ampla participação do Estado no
suporte ao desenvolvimento econômico e social.

A doutrina neoliberal, que então passou a orientar as
decisões de política econômica no centro do capitalismo, asseverava
que, para se obter um maior crescimento econômico mundial, era
preciso deixar que o mercado agisse mais livremente. Assim sendo,
algumas ações foram empreendidas, em diversos países, para reduzir
os Estados a um tamanho mínimo, diminuindo também seu poder
de influência.

Contudo, esta expectativa não se confirmou na prática e,
como consequência, ingressamos agora numa era de “reencontro”
com o Estado, entendido como um ente coletivo capaz de intermediar
interesses e processar conflitos na sociedade e de organizar a
solidariedade social, necessária para a superação das desigualdades
sociais.

O que queremos no Brasil, no entanto, é um Estado diferente
daquele que já tivemos em outros tempos, que se caracterizou,
muitas vezes, pelo autoritarismo, pela ineficácia e pela corrupção.
Neste sentido, o que hoje se coloca aos brasileiros – e certamente,
a muitos outros povos – é a construção de um novo Estado.
Como mencionado, este programa poderia ser outro. Mas os
temas aqui escolhidos se justificam em função da sua dimensão
estratégica para as nossas possibilidades de futuro como nação.

Todos eles se referem, de uma maneira ou outra, à Questão Social,
que é sem dúvida, ao lado da Questão Ambiental, um dos grandes
desafios do nosso planeta: como fazer com que o conjunto dos povos
se beneficie, de maneira equânime, da riqueza produzida e das
conquistas tecnológicas obtidas pela humanidade.

No Brasil, em sua condição de país periférico
(ou,“emergente”, como querem alguns), a redução da pobreza e das
desigualdades sociais é crucial para o aprofundamento da
democracia e para a realização da nossa coesão social. Temos feito
esforços, sem dúvida. E temos conseguido alguns êxitos, na busca
destes objetivos. Os erros e acertos deste percurso, cabe a todos –
especialmente aos servidores públicos deste país – analisar e criticar.
E, sobretudo, reinventar caminhos.

Por isso, este Programa busca oferecer, aos que nele
mergulharem, a possibilidade de conhecer as principais discussões
teóricas que são travadas, na atualidade, acerca da Questão Social
e de sua abordagem pelo Estado; bem como de discutir os principais
problemas que afetam a sociedade brasileira e que requerem
políticas públicas eficazes para o seu equacionamento.

A “Questão Social” – entendida como uma expressão que
designa, no campo acadêmico, os dilemas da incorporação de vastos
contingentes da população à cidadania plena – aponta para um
amplo conjunto de políticas públicas que se referem, em primeiro
lugar, à Proteção Social. Ou seja, políticas que procuram garantir
condições dignas de existência àqueles segmentos sociais que, por
motivos diversos, não obtêm êxito na sociedade de mercado.
O carro-chefe destas políticas – consagradas tanto em boa
parte da literatura, como também na nossa Constituição Federal –
é a Seguridade Social. A “Constituição Cidadã”, de 1988, explicita,
em seu artigo 194: A Seguridade Social compreende um conjunto integrado
de ações de iniciativa dos poderes públicos e da sociedade,
destinadas a assegurar os direitos à saúde, à previdência e
à assistência social.

Além da Seguridade Social, um conjunto de problemas da
ordem social preocupa o Brasil contemporâneo: a Segurança
Pública; o acesso de amplas maiorias e minorias aos Direitos
Humanos; a qualificação da Educação; a inserção, ou reinserção,
no mundo do Trabalho, este bastante modificado pela reconfiguração
da economia mundial, ocorrida ao final do século XX.
Na Unidade 1, Dimensões conceituais e históricas no estudo
dos problemas e das políticas sociais, focalizaremos as questões
teóricas. Trataremos de conceitos relevantes e caros à tradição
democrática, como os de Justiça e Cidadania; e de sua relação com
o Estado Moderno, de inspiração republicana. Também analisaremos
a evolução do tratamento da questão social pelo poder público, ao
longo da história. Por fim, voltaremos nossa atenção para um
importante debate que se dá em torno das estratégias de abordagem
da questão social, a saber: a oposição entre universalização e
focalização das políticas sociais, e os efeitos a elas associados.
Na Unidade 2, Algumas políticas sociais do Estado
Brasileiro, iremos estudar questões relacionadas à Educação, à
Saúde, à Assistência Social e ao mundo do Trabalho. Assim sendo,
temos nesta disciplina os seguintes objetivos gerais:
estimulá-lo a refletir sobre o papel do Estado, na atual
fase do desenvolvimento capitalista, na tarefa de
superação de problemas persistentes na história da
sociedade brasileira, tais como a pobreza, a exclusão
e as desigualdades sociais; possibilitar o acesso a informações
e críticas sobre a agenda atual das políticas sociais no plano federal,
favorecendo a articulação e o diálogo entre os diversos
níveis de governo na implementação de políticas e
programas sociais que produzam efeitos necessários
e socialmente desejados.

Antes de concluir esta apresentação, vamos descrever alguns
pontos considerados fundamentais ao seu sucesso, nesta disciplina,
ou mesmo, no progresso de seus conhecimentos acerca dos temas
aqui abordados.

 Este texto não esgota, em nenhuma hipótese, as
informações e análises possíveis acerca destes temas.
Por isso, a leitura de bibliografia complementar é muito
importante, tanto as que foram aqui indicadas, quanto
outras que você puder obter.
O aprendizado na área das ciências sociais se faz a
partir de um acúmulo de leituras, discussões e da
reflexão através da produção de textos próprios. É
muito importante que você escreva suas próprias
interpretações do que foi lido, assim como procure
discuti-las com colegas, e tutores, mesmo que lhe
pareçam incompletas. Elas sempre o serão! Mas podem
evoluir com o esforço de síntese que estará fazendo.
 Mesmo que alguns termos ou conceitos lhe pareçam
obscuros, não desista da leitura por considerá-la
“difícil”. Como em todas as áreas, há nesta, também,
jargões acadêmicos, que vocês poderão compreender
e utilizar se não desistirem de pronto.
Bons estudos!



Professora Maria Paula Gomes dos Santos

UNIDADE 1

OBJETIVOS ESPECÍFICOS DE APRENDIZAGEM
Ao finalizar esta Unidade você deverá ser capaz de:
Compreender as teorias e os conceitos utilizados na abordagem
dos problemas sociais contemporâneos;
Verificar como estes problemas se tornaram preocupação
pública, na civilização ocidental, e como seu manejo se
organizou ao longo do tempo, segundo diversos modelos, em
diferentes contextos nacionais; e
Analisar a trajetória das políticas sociais no Brasil, buscando identificar
seu legado para a conformação atual da sociedade brasileira.

DIMENSÕES CONCEITUAIS E
HISTÓRICAS DO ESTUDO DOS
PROBLEMAS E POLÍTICAS SOCIAIS

INTRODUÇÃO
A análise proposta aqui vai nos servir de base para as
reflexões da Unidade seguinte, que vai ter como foco as formas
pelas quais o Estado brasileiro contemporâneo tem enfrentado
alguns dos principais problemas sociais que nos afetam na
atualidade.
Talvez você ache esta Unidade um tanto “histórica”,
privilegiando um olhar demasiadamente temporal nas questões
abordadas. Contudo, vale chamar a atenção para o fato de que, se
estamos procurando entender algumas instituições sociais atuais, é
necessário compreendermos como elas se tornaram o que são hoje.
Nenhuma instituição nasce pronta ou imutável. Todas elas
são fruto de movimentos da sociedade e das suas elites políticas,
que vão conformando arranjos diferenciados, ao longo do tempo,
em virtude de mudanças políticas, econômicas e culturais. Assim,
a análise de sua evolução histórica desvenda também o conjunto
de forças políticas e sociais que está na sua estrutura, bem como
as vitórias e derrotas de diferentes grupos de interesse e de seus
ideais, no processo de construção institucional do País.
Nosso objetivo, aqui, portanto, não é levá-lo a conhecer fatos
históricos em si próprios, mas sua articulação como fatos políticos,
culturais e sociais que resultam num processo o qual, certamente,
ainda está em andamento. É como se estivéssemos convidando você
a subir em um trem, que já vem de longa viagem, para segui-la
adiante, ajudando a lhe dar uma direção.
Mas, para saber que direção tomar, é preciso que você
conheça os caminhos já percorridos, os obstáculos encontrados e
as oportunidades de avanço.
Então, boa leitura e boa viagem!



POBREZA, DESIGUALDADE, EXCLUSÃO
E CIDADANIA: CORRELAÇÕES,
INTERSEÇÕES E OPOSIÇÕES

A pobreza, as desigualdades e a exclusão social têm se
constituído em objeto de preocupação no mundo contemporâneo,
como se pode constatar pela atenção que têm merecido das
agências multilaterais de fomento ao desenvolvimento, quais sejam,
a Organização das Nações Unidas (ONU) e o Banco Mundial.
Até a década de 1970, a tendência geral era considerarmos
esses problemas como dependentes do crescimento econômico.
Acreditávamos que, uma vez que este ocorresse a taxas razoáveis,
a distribuição da riqueza e da renda se daria de forma automática.
No entanto, àquela altura, a realidade não confirmava esta
expectativa. Isto fez com que as referidas agências – nas quais são
gestadas as principais orientações de política econômica no
capitalismo contemporâneo – incluíssem em suas políticas,
relatórios e programas a preocupação explícita com tais questões.
O mesmo tem se dado mais recentemente no Brasil, onde a
persistência dessas mazelas ao longo do tempo, bem como o
crescimento de outras, associadas a elas – a criminalidade violenta,
por exemplo – explica, em boa parte, a ênfase que é dada ao assunto
atualmente pelas elites brasileiras (REIS, 2000).
No nosso caso, como em muitas outras nações de renda
média – consideradas “em desenvolvimento” –, o foco das análises
tem se deslocado da pobreza, entendida em seu sentido estrito,
para o problema da desigualdade, como mostra a Figura 1. Esta
seria, segundo diversos pesquisadores, um importante mecanismo
de reprodução da própria pobreza, e que o combate à desigualdade
seria mais eficaz se feito através de políticas públicas de distribuição
de renda do que outras voltadas ao crescimento dela (PAES e
BARROS, MENDONÇA e DUARTE, 1997).

Figura 1: Desigualdade social
Fonte:

Vale assinalar, desde já, que qualquer definição que
venhamos a adotar aqui – ou que qualquer autor utilize – será
sempre provisória e incompleta. Mas, mesmo correndo o risco da
simplificação extrema, entendemos que vale a pena tentarmos
demarcar o significado dos termos centrais à problemática de que
estamos tratando, para que sua utilização, mais adiante, seja a mais
precisa possível.


POBREZA E DESIGUALDADE
Qual a principal distinção entre estes dois termos?
A primeira e mais importante diferença é que, enquanto a
pobreza é uma condição que afeta os indivíduos – ou seja, os
membros de uma população –, a desigualdade refere-se ao
conjunto população em sua totalidade.
A pobreza é uma condição de indivíduos ou grupos os
quais se encontram privados de meios adequados de subsistência.
Já a desigualdade é uma propriedade da distribuição da
riqueza, em uma dada população ou sociedade.


Pobreza
Uma das formas mais tradicionais de se caracterizar a
pobreza tem sido defini-la como “insuficiência de renda”. Para
medir sua incidência sobre as populações, são utilizados indicadores
tais como o PIB (Produto Interno Bruto) per capita de um país e/ou
um percentual da renda média/mediana de seus habitantes.
Como afirma Rocha (2008), esses instrumentos são
adequados para economias amplamente baseadas em trocas
monetárias, nas quais o atendimento às diversas necessidades é
garantido através do dinheiro. Contudo, pode ser um parâmetro
problemático, já que, em muitos contextos socioeconômicos, as
trocas ou a obtenção do bem-estar não se dão apenas através do
dinheiro. Muitas pessoas pobres não se utilizam de renda financeira
para adquirir bens como alimentos, pois estes muitas vezes são
obtidos em suas próprias hortas, pomares e criações.
De qualquer forma, este tipo de indicador é ainda muito
utilizado em diversos programas de combate à fome e à miséria,
inclusive no Brasil. Através dele, podemos estabelecer um critério
Está relacionada à qualidade de vida. Traduz a existência, na
vida do indivíduo e das famílias, em conjunto de pré-condições, tais
como habitação sadia, acesso a alimentos, a
serviços de saúde, educação, saneamento etc.

Todos que estão abaixo da “linha de indigência”.
de “pobreza absoluta*”, demarcando quem são os pobres e os
indigentes em uma dada população. Ou seja, podemos determinar
assim uma “linha de pobreza”, representada por um valor de renda
(individual ou familiar) capaz de garantir a satisfação de
necessidades básicas, sejam elas alimentares ou outras (vestuário,
habitação, educação, etc.).
Assim, aqueles cuja renda se situe abaixo do custo dessas
necessidades são considerados pobres. E, aqueles que têm
rendimentos ainda menores, os quais não permitem a aquisição
sequer de uma cesta de alimentos básica, essencial ao suprimento
de necessidades nutricionais mínimas, são denominados indigentes.
Por outro lado, fixar o custo de necessidades básicas não
alimentares é ainda mais complexo, já que, além de estas variarem
qualitativamente entre os diversos contextos socioculturais, variam
também seus custos monetários, de uma realidade para outra. Desta
forma, mesmo uma linha de pobreza absoluta estaria atravessada
por critérios “relativos” (ROCHA, 2008).


Por causa destas dificuldades, muitos estudiosos e técnicos
envolvidos com o tema têm preferido utilizar o conceito de “pobreza
relativa”, que leva em conta, em sua medição, o padrão de vida de
cada sociedade específica. As linhas de pobreza relativas têm por
base a renda média ou mediana de toda uma população, e mostram,
principalmente, como estão distribuídos os recursos econômicos e
sociais entre os diversos grupos populacionais deste conjunto.
Para Rocha (2008), tal conceito é o mais adequado para a
identificação e análise dos bolsões de pobreza em contextos
socioeconômicos mais desenvolvidos, onde algumas necessidades
básicas já se encontram atendidas. O que o conceito de pobreza
relativa expressa, afinal, é quanto determinados grupos sociais estão
distantes do padrão de vida médio de uma dada sociedade.
Contudo, em países como o Brasil, o uso da renda como
critério de pobreza ainda é útil, não só porque a economia é
fortemente monetizada, como porque se dispõe, no País, de dados
estatísticos suficientes para se estimar a renda mínima necessária
à sobrevivência de indivíduos e famílias, bem como para se
identificar quem não a alcança (ROCHA, 2008).


*Pobreza absoluta – situação na qual a renda dos indivíduos ou famílias
está abaixo do valor considerado mínimo para a satisfação de necessidades essenciais –
alimentação, habitação etc. Este valor, como indica o texto, é estimado a partir do custo monetário
da obtenção destes bens e serviços.

Mas esse critério apresenta, ainda, mais uma limitação, que
se refere ao fato de que, ao focalizarmos estritamente a renda das
famílias, não contabilizamos os eventuais ganhos de bem-estar de
uma população, obtidos por meio de investimentos públicos em
serviços essenciais, tais como saneamento, saúde e educação.
Desta forma, podemos nos perguntar: a renda expressa a
qualidade de vida de uma sociedade?
Não, pois mesmo que ocorressem
investimentos públicos, ainda que em grande
magnitude – caso em que as famílias teriam
custos baixos com diversas necessidades –, ou
se não se recebesse qualquer outro
investimento – caso em que as privações
seriam ainda maiores –, a renda por si só não
expressaria a qualidade de vida, uma vez que
existem outras necessidades a serem
atendidas.
Assim, à abordagem da renda como
critério de pobreza se sobrepôs aquela
chamada de “necessidades básicas”. Segundo
esta visão, pobreza é considerada uma
situação de privação, determinada por
diversas dimensões, tais como: acesso ao
saneamento, à habitação, à educação, à saúde,
à cultura e até mesmo à liberdade. Neste
sentido, analistas e órgãos internacionais se
colocaram, ao longo das décadas de 1970 e
1980, à busca de indicadores que dessem
conta desta multiplicidade de fatores.
A partir de diversas tentativas, o Programa das Nações
Unidas para o Desenvolvimento (PNUD) propôs, em 1996, o Índice
de Desenvolvimento Humano (IDH). Este é composto a partir de
PNUD – Programa das nações Unidas
para o Desenvolvimento
É a rede global de desenvolvimento da
Organização das Nações Unidas, presente
em 166 países. Seu mandato central é o
combate à pobreza. O PNUD conecta países
a conhecimentos, experiências e recursos,
ajudando pessoas a construirem
uma vida digna e trabalhando conjuntamente
nas soluções traçadas pelos países membros.


Fonte:
pnud/>. Acesso em: 20 out. 2009.


IDH
O objetivo da elaboração do Índice de Desenvolvimento
Humano é oferecer um
contraponto a outro indicador muito utilizado,
o Produto Interno Bruto (PIB) per
capita, que considera apenas a dimensão
econômica do desenvolvimento. Fonte:
. Acesso
em: 20 out. 2009.
Saiba mais

...indicadores de renda e também da taxa de alfabetização e da
expectativa de vida, ao nascer, dos indivíduos, em diferentes países.
Os dois últimos índices refletem, respectivamente, os níveis
de educação e de saúde da população, e, ao serem compostos com
a renda, permitem classificar as populações segundo seu nível de
bem-estar.


Contudo, o IDH, em sua história, apresenta a preocupação
crescente dos estudiosos do campo da pobreza em ampliar este
conceito e torná-lo útil para o entendimento deste fenômeno em
suas diversas dimensões e contextos, bem como das múltiplas interrelações
entre todas essas dimensões.


Desigualdades Sociais
O uso crescente da expressão “desigualdades sociais” ao
lado do termo “pobreza” está fortemente relacionado às mudanças
de enfoque no entendimento da própria problemática da “pobreza”,
assim como ao reconhecimento de que a persistência da pobreza –
ou seja, o aprisionamento de determinados grupos sociais nesta
situação – é consequência das enormes desigualdades de renda e
de acesso a serviços existentes entre grupos de uma dada sociedade.
Muitos países como o Brasil não são pobres, mas são tão
desiguais que, apesar de apresentarem importante evolução do seu
PIB (Produto Interno Bruto) e significativas melhorias das condições
de vida de alguns setores (os mais ricos), permanecem abrigando
uma enorme quantidade de pobres, que, por sua vez, têm
baixíssimas perspectivas de mobilidade social ascendente.
Para alguns economistas, a desigualdade seria
tolerável se houvesse boas perspectivas de
mobilidade social – o que depende, por sua vez, da
ocorrência de altas taxas de crescimento econômico
(acima de 5% ao ano), durante algum tempo. Estimase,
por outro lado, que a implementação de políticas...


vVocê vai perceber, na
disciplina Indicadores
Sociais, que o IDH não
substitui outros
indicadores e apresenta
também suas limitações.

...de redistribuição de renda seria um meio mais efetivo
de redução do número de pobres do que de um
crescimento econômico sustentado que ocorresse a
taxas consideradas plausíveis, na economia
contemporânea (3% ao ano, por exemplo).
No Brasil, como diversos estudos têm demonstrado, este
quadro decorre do fato de que nosso processo de industrialização e
modernização social, ocorrido a partir dos anos 1930, não
incorporou grandes parcelas da população. Desde então, constituiuse
uma sociedade segmentada, composta, de um lado, por indivíduos
detentores de direitos sociais – os cidadãos; e de outro, de pessoas
sem acesso a serviços e benefícios – os excluídos.
Veremos mais adiante, no item Evolução das políticas de
proteção social no Brasil, que as conquistas sociais obtidas nos
primeiros anos do processo (entre as décadas de 1930 e 1970,
aproximadamente), só foram consagradas aos trabalhadores
urbanos e formais, gerando, desde então, diferenciais no acesso,
não só à renda, mas aos serviços sociais que o Estado garantia
(assistência à saúde, previdência social etc.).


EXCLUSÃO E CIDADANIA
Estes termos, frequentemente associados, fazem referência
ao indivíduo ou grupo de indivíduos, em uma dada população,
podendo ser tomados praticamente como antônimos, na literatura
contemporânea sobre políticas sociais.

Exclusão
O que você entende por exclusão?
A exclusão, em sua semântica original, significa o não
pertencimento a determinado grupo ou condição. A princípio, a
exclusão de alguém de determinado grupo não é necessariamente
problemática, dependendo de que grupo se esteja falando.
Os estudos desenvolvidos pela Antropologia Social indicam que a
construção de identidades sociais – ou seja, o processo de
identificação e pertencimento de um indivíduo a um grupo social –
se faz por inclusões e exclusões. Grupos religiosos, famílias, tribos,
nações etc. usam critérios para classificar os “de fora”, os quais são
essenciais para que se possa, também, especificar quem está “dentro”.
Estes critérios que podem se referir ao local de nascimento, à
ancestralidade, ao uso de uma língua, à cor da pele, a convicções
políticas ou morais, bem como a diversos outros atributos, adquiridos
ou herdados. Desta forma, os grupos identitários* se constituem,
sempre, a partir de fronteiras, mais ou menos rígidas, que eles próprios
estabelecem para delimitar seus limites.
Contudo, quando nos referimos à exclusão no contexto da
dinâmica social do mundo capitalista contemporâneo, estamos nos
referindo precisamente às barreiras impostas a alguns indivíduos,
num determinado país, no seu caminho de acesso a benefícios
garantidos pelo Estado, ou mesmo que podem ser adquiridos através
do mercado. Estes indivíduos, na prática, não pertencem à
comunidade constituída por este Estado-Sociedade-Mercado.
As graves crises econômicas que afetaram o Brasil nas
décadas de 1980 e 1990, decorrentes das transformações do
capitalismo global, naquele período, contribuíram para a
permanência e o agravamento da exclusão, originada em nosso
processo de industrialização.
Embora formalmente diversos direitos sociais tivessem sido
estendidos ao conjunto da população, desde os anos 1970, e...


*Identitários – relacionados
com a identidade
(ôntica, lógica, filosófica).
Fonte: Houaiss
(2007).

...especialmente após a Constituição de 1988, poucos são, ainda, os
que conseguem usufruir deles.
Veremos mais detalhadamente esses acontecimentos quando
chegarmos ao item História das políticas de proteção social
no Brasil, ainda nesta Unidade.


Cidadania
É neste contexto que o termo
“cidadania” – conceito que foi consagrado
por Marshall, em meados do século XX –
ganha sentido, expressando o oposto da
exclusão. Um indivíduo que desfruta da
condição de cidadão é aquele que goza dos
direitos consignados pelo Estado, bem como
da possibilidade de acesso a uma renda
adequada, que lhe permita desfrutar de um
padrão de vida comum a seus concidadãos.
Segundo Marshall, a cidadania
implica um sentimento de pertencimento e
lealdade a uma civilização, que se constitui
em patrimônio comum de uma dada
coletividade. Tal pertencimento, por sua vez,
se estabelece a partir dos deveres de cada
indivíduo para com o Estado, mas também – e sobretudo – pelos
direitos que este Estado lhe garante:
direitos civis, que consistem na liberdade individual,
como de expressão e circulação, por exemplo;
direitos políticos, que fazem referência ao ato de votar
e ser votado; e...


Thomas Humphrey Marshall
Sociólogo inglês, nascido em
1893 e falecido em 1981. Foi
professor da London School of
Economics and Political
Science durante 31 anos (de
1925 a 1956). Teve uma carreira
acadêmica diversificada, tratando de temas
que vão da Sociologia às Políticas Sociais,
trazendo para as últimas aplicações práticas
da primeira. É até hoje um autor muito
influente, através de seus diferentes ensaios
em que explora as relações entre as instituições
da cidadania e as classes sociais,
de uma perspectiva histórica e comparativa.
Saiba mais

...direitos sociais, que dizem respeito a um conjunto de
garantias legais que assegurem bem-estar econômico,
segurança contra riscos sociais e acesso aos bens e
serviços essenciais à sobrevivência.
Para Marshall, haveria uma sucessão histórica na conquista
desses direitos, já que o usufruto dos direitos civis teria permitido a
demanda e obtenção dos direitos políticos; e estes teriam aberto o
caminho para a conquista, pela via democrática, dos direitos
sociais. Assim, a história da sociedade ocidental, nos últimos 250
anos, seria a história destas conquistas.
Muito debate acadêmico já se realizou em torno desta
interpretação, havendo analistas que apontam que tal sucessão só
se aplicaria, efetivamente, ao caso da Inglaterra – terra de Marshall.
No caso brasileiro, por exemplo, os direitos sociais começaram a
existir em plena ditadura varguista (anos 1930), ou seja, na ausência
de direitos políticos.
Não obstante, a concepção marshalliana nos ajuda a
compreender por que, aqui, a concessão desses direitos acabou
contribuindo para a emergência de uma “sociedade partida”: na
medida em que ela se deu sob um regime autoritário, tais direitos
foram atribuídos de forma discriminatória e excludente, sem que
houvesse a possibilidade dos setores excluídos de reivindicarem sua
participação nos benefícios.
Na próxima seção, trataremos da história das iniciativas
públicas de proteção social no Ocidente, o que nos ajudará a
compreender a existência de uma diversidade de arranjos,
segundo os quais têm se organizado as políticas sociais no
mundo contemporâneo.


A PROTEÇÃO SOCIAL PROMOVIDA PELO
ESTADO: HISTÓRICO E MAIS ALGUNS
CONCEITOS RELEVANTES

A intervenção do Estado na proteção dos indivíduos, dos
riscos impostos pelo mercado, inaugurou uma nova etapa do
desenvolvimento do mundo capitalista ocidental. A importância
deste passo pode ser medida pelos altos níveis de desenvolvimento
econômico e de bem-estar alcançados pelas sociedades europeias,
a partir de meados do século XX.
Cabe advertirmos, contudo, que embora tal processo
tenha ocorrido em diversos países, importantes
diferenças podem ser observadas nas formas como
cada um deles organizou seus sistemas de proteção
social: seu custeio, seus benefícios, assim como sua
administração.
Responsáveis por parcelas significativas do gasto público nas
diversas nações – ainda que em montantes diversos, dependendo
do país –, os Estados de Bem-Estar Social chegaram à década de
1990 profundamente questionados e acusados de provocarem
déficits nas contas públicas, bem como de impedir o crescimento
econômico. Estas convicções provocaram uma onda de Reformas
do Estado, que buscavam reduzir as responsabilidades deste na
proteção social, comprimindo seus gastos e deixando ao mercado
a tarefa de prover, comercialmente, esquemas de proteção, tais
como planos de saúde e de previdência privados, seguros de vários
tipos e financiamentos imobiliários.
As consequências destes processos foram diversas – e,
novamente, distintas, em razão dos modelos de proteção existentes
em cada país. Mas, indiscutivelmente, o conjunto delas resultou
num aumento significativo da vulnerabilidade dos segmentos
trabalhadores, em diversos países, assolados também por uma
grande redução dos postos de trabalho, por causa da extensa
reestruturação produtiva ocorrida na mesma época.
Na região latino-americana, os efeitos destas reformas foram
especialmente graves, dada a inexistência prévia, na maioria dos
países, de sistemas de proteção social sólidos e abrangentes, à
exceção honrosa do Brasil, que, apesar das pressões internacionais
e domésticas, manteve e até ampliou a proteção aos seus cidadãos,
nos últimos 20 anos.
No final dos anos 2000 – e, particularmente, a partir da
crise financeira mundial de 2008 –, assistimos a uma nova inflexão
das teorias acerca da intervenção do Estado. Observamos, desde
então, um retorno à percepção do Estado como entidade
mediadora das relações de mercado, seja na proteção dos
cidadãos, seja do próprio capital.
Esta seção se ocupará da análise deste processo, em perspectiva
histórica, com o propósito de oferecer a você os elementos
que o ajudarão a compreender melhor o panorama atual das
políticas sociais no País e suas conexões internacionais.

PRIMÓRDIOS
A preocupação com a problemática da pobreza
e da exclusão social está diretamente associada ao
surgimento do capitalismo e da sociedade de mercado.
Ambos emergiram na Europa Ocidental num período
conhecido como a Modernidade, que vai, aproximadamente,
do século XVI ao XIX.
Foi neste momento que começaram a “aparecer”,
de maneira significativa, os “pobres”: indivíduos que
vagavam nas cidades e entre elas, em busca de meios
de sobrevivência. Durante a Idade Média, este fenômeno
era pouco sensível. Lembra das aulas de História Geral, do ensino médio, nas
quais vimos que a sociedade medieval se caracterizava pela
organização feudal?
Neste período a estrutura social apoiava-se em três estratos:
o Clero, os proprietários de terra (Senhores), e os trabalhadores
destas terras (Servos da Gleba), que eram subordinados aos
Senhores. Estes Servos eram os pobres de então. Viviam nas terras
dos Senhores, prestando-lhes serviços, cultivando a terra, cuidando
dos rebanhos e realizando diversas outras atividades, inclusive
domésticas.
Os Servos tinham o direito a utilizar parte das terras do
Senhor, o chamado “manso servil”, para o seu próprio consumo.
A divisão do trabalho servil se dava no interior das próprias famílias
e comunidades, onde cabiam funções aos diversos membros. Neste
contexto, o sustento era garantido a todos, ainda que em níveis
bastante elementares e à custa de muito trabalho e exploração. De
qualquer forma, e ainda que em condição subalterna, os Servos
eram pobres “incluídos” no sistema feudal.
Fonte:

Havia, contudo, outros “pobres”, naquele contexto. Eram
indivíduos que, por razões diversas – muitas vezes, insubordinação
e desobediência aos Senhores –, não encontravam lugar nos feudos.
A fábula de Robin Hood representa bem esta situação: homens,
mulheres e crianças que viviam à margem do sistema, em bosques
e terras coletivas, ao longo de estradas, praticando assaltos ou
pedindo esmolas.
Estas pessoas, contudo, não eram objeto de qualquer
preocupação humanitária dos Senhores feudais (os quais se
constituíam na autoridade política da época). E suas práticas eram
combatidas com violência, pelos cavaleiros do feudo.
Só a partir do período conhecido como de “acumulação
primitiva de capital” é que este fenômeno ganhou mais visibilidade.
Neste momento, se dá a transferência de grandes massas do campo
para as cidades – que então cresciam e se multiplicavam – e
importantes mudanças acontecem, nas formas e nas relações de
trabalho. Entre os séculos XVI e XVII, aumenta muito a circulação
de pessoas na Europa, em busca de trabalho, o que levaria ao
aprofundamento da pauperização.
Este fato fez com que, na
Inglaterra, o governo editasse
algumas leis – “Leis dos Pobres”,
vista na disciplina Estado, Governo
e Mercado – com o propósito não
só de proteger as pessoas nesta
condição, mas também de controlar
as ameaças que elas, aos seus olhos,
representavam: crimes, doenças,
degradação dos costumes.
A primeira Lei dos Pobres foi
editada sob o reinado de Elizabeth I,
e outras se sucederam, na própria
Inglaterra e em outros países, no
continente europeu. Elas tanto
obrigavam ao trabalho – a todos aqueles que apresentassem
condições para tanto –, como buscavam promover o alívio da...


vCaso não tenha assistido
a este filme ainda,
procure-o numa locadora
próxima de sua casa, vale a pena!
Elizabeth I (1533 - 1603)
O seu reinado é conhecido na história
com o título de Período
Elisabetano, uma época de
florescimento econômico e cultural,
sob inspiração do renascimento italiano
e flamengo. Ela herdou um reino
dividido pelas dissensões religiosas. Interessada em
promover o desenvolvimento do país, dona de uma
personalidade forte, realmente carismática,
Elizabeth elaborou uma política independente das
influências do parlamento e de seus próprios conselheiros
de confiança. 


Disponível em:
tinyurl.com/ykmuvsx>. Acesso em: 28 out. 2009.
Saiba mais

...situação de miséria, através da distribuição de alimentos e de
“abonos” (que consistiam de complementação salarial ou da
concessão de uma renda mínima), bem como do acolhimento dos pobres
em asilos e “casas de trabalho”. Estas Leis são reconhecidas,
na literatura especializada, como as primeiras iniciativas governamentais
voltadas à proteção social. Até porque, vale lembrarmos, é aí que
começa a se constituir o Estado Moderno, instituição fundamental para o aparecimento do que
conhecemos hoje como “Políticas Públicas”. Constituindo-se como autoridade única sobre um território
e um povo, e possuindo o monopólio da violência legítima, como
definiu Max Weber, o Estado Moderno se torna um “mediador
civilizador”, isto é, uma instituição que ordena a vida social e política
nos territórios antes fragmentados do feudalismo; e assume, então,
funções de regulação social e de provisão de bens públicos. Sua
consolidação, que vai aproximadamente do século XVII ao XVIII,
passa por diversas fases: do despotismo monárquico à República.
Através delas, é incorporada, sucessivamente e em graus cada vez
maiores, a participação dos governados.
A emergência do Estado Moderno é, portanto, uma condição
essencial para o surgimento de políticas de proteção social, as quais
se consagraram, posteriormente, como “Políticas Sociais”.
Com a intensificação da industrialização nos séculos XVIII
e XIX, a questão da pobreza assume gravidade ainda maior. Como
bem traduziu Karl Polanyi (1980),
[...] No coração da Revolução Industrial do século dezoito
ocorreu um progresso miraculoso nos instrumentos de produção,
o qual se fez acompanhar de uma catastrófica desarticulação
nas vidas das pessoas comuns. [...] Que “mo-...


Maximillian Carl Emil Weber (1864 - 1920)
Nasceu na Alemanha, viveu no período
em que as primeiras disputas
sobre a metodologia das ciências
sociais começavam a surgir na Europa,
sobretudo em seu país, a Alemanha.
Publicou A Ética Protestante e o
Espírito do Capitalismo, que se tornaria
sua obra mais notável. Disponível em:
educacao.uol.com.br/biografias/ult1789u508.jhtm>.
Acesso em: 20 out. 2009.
Saiba mais

...inho satânico” foi esse que triturou os homens transformando-
os em massa? [...] Qual foi o mecanismo por cujo
intermédio foi destruído o antigo tecido social e tentada,
sem sucesso, uma nova integração homem-natureza?
(POLANYI, 1980, p.51).
A vida dos trabalhadores havia se transformado. O sustento
das famílias dependia, agora, de uma nova condição: o
assalariamento. A comida, a habitação, as vestes e tudo o mais
que fosse necessário à sobrevivência deveriam ser obtidos por meio
dos ganhos auferidos com o trabalho assalariado, ou seja: a venda,
pelo trabalhador, de sua força de trabalho. Quem não conseguisse
uma posição no então nascente mercado de trabalho, estaria excluído
desta sociedade. Desta forma, os riscos inerentes à vida humana também se
modificaram. A doença, a velhice ou a morte do provedor não
podiam mais ser suportadas por sua família ou comunidade.
O desemprego retirava das pessoas sua renda e lhes lançava na
incerteza. E, por muito tempo ainda, os trabalhadores tiveram de
conviver com ela, socorrendo-se, na melhor das hipóteses, da
caridade alheia. A instituição de “sistemas” de proteção social só viria a
ocorrer, de fato, na virada do século XIX para o XX. Ao longo do
século XIX, as Leis dos Pobres foram sendo abolidas, na medida
em que se difundiam, no mundo capitalista, as ideias liberais,
fundamentadas nas formulações econômico-filosóficas de Adam
Smith e David Ricardo. Estes pensadores – como mencionado na disciplina Estado,
Governo e Mercado – introduzem a tese de que o bem-estar coletivo,
numa comunidade, se daria a partir da busca, por cada indivíduo,
do seu máximo interesse individual, num mercado livre e
competitivo. Assim, o Estado não deveria interferir nas relações de
mercado nem se ocupar com a provisão do bem-estar de quem
quer que fosse, uma vez que este seria obtido por cada indivíduo,
através de trocas no mercado.

O trabalhador deveria buscar, no mercado, não só os
meios para sua sobrevivência, mas quaisquer bens ou
serviços que desejasse.
Acreditava-se, então, que ações estatais de proteção
tenderiam a inibir o interesse e a disposição dos indivíduos para o
trabalho. Alguns pensadores da época, como Malthus – também
apresentado na disciplina Estado, Governo e Mercado –, entendiam
inclusive que a pobreza e a miséria decorriam da incapacidade,
incompetência ou indolência dos indivíduos. Esta tese também foi
muito divulgada pela Igreja Protestante, surgida no século XVIII,
que identificava na prosperidade dos indivíduos um indício da graça
divina alcançada por eles.
Esta concepção tem como fundamento também o princípio,
muito caro ao pensamento liberal, da liberdade individual, em que
os indivíduos devem ser livres para exercer suas escolhas, ao mesmo
tempo que devem pagar o preço por elas. O sucesso ou fracasso no
mercado são, segundo esta ótica, decorrência das escolhas
individuais. Este ponto de vista imperou na sociedade ocidental ao
longo de todo o século XIX, tendo se renovado e ganhado grande
aceitação nos últimos anos do século XX, sobre o substrato da
doutrina neoliberal.
Justiça: mérito ou necessidade?
As diversas interpretações acerca do que são, ou devem ser,
as relações entre o indivíduo, a sociedade e o Estado têm uma
relação direta com as formas de se definir o que seja a justiça. Este
conceito, fundamental hoje para a avaliação ética e política das
relações Estado-sociedade, se refere não a coisas, mas à distribuição
de benefícios e custos entre os membros de uma dada comunidade.
Neste sentido, Justiça é, antes de tudo, como propõe Oppenheim
(1986), uma “noção ética fundamental e não determinada”. Tratase
de um conceito que atribui valor a um ato ou a uma regra, mas
que não descreve o seu sentido, à diferença de outros, como “igualdade” e “liberdade” que,
[...] embora abstratos e teóricos, podem ser definidos de tal modo
que as afirmações em que se evidenciam são verificáveis, de um
modo geral, pelo simples confronto com a evidência empírica.
(OPPENHEIM, 1986, p. 660). Com o surgimento do Estado Moderno
fundado no Direito, enquanto ordenamento normativo da convivência social, a Justiça se
torna uma instituição formal, e o que é justo ou injusto depende de sua conformidade ou não
com as leis. Contudo, essas mesmas leis podem ser,
sob distintos pontos de vista, consideradas injustas. Por isso, como argumenta Kelsen, o
conceito de justiça não se fundamenta em critérios objetivos ou racionais, mas em
princípios éticos e morais. Sua definição resulta de um juízo de
valor determinado de maneira subjetiva (KELSEN, 1963 apud OPPENHEIM, 1986).
Por esta razão, a definição de Justiça tem variado ao longo do tempo, em função das

ideias predominantes no pensamento social e dos conflitos que afloram, em
um ou outro momento, em torno da distribuição da riqueza e do poder na sociedade.
Para os liberais, a justiça social tem por fundamento o “mérito” do indivíduo. Isto é, 

o direito a receber algo deve...





 

Hans Kelsen
Nascido em Praga, na República
Tcheca, em 1881,
faleceu na Califórnia, Estados
Unidos, em 1973. Foi
perseguido pelo nazismo e
emigrou para os Estados Unidos, onde
viveu até seus últimos dias, exercendo o
magistério na Universidade de Berkeley.
A perseguição intelectual sofrida pelo jurista
não foi restrita aos adeptos do fascismo.
Ele também sofreu severas críticas
de militantes da doutrina comunista. É
considerado o principal representante da
chamada Escola Positivista do Direito.
Apesar disso, os princípios fundantes de
seu raciocínio jurídico-científico prevaleceram
e hoje são respeitados e amplamente
acatados, servindo de base para
muitas das instituições jurídicas que sustentam
o Estado Democrático de Direito.




...corresponder a um esforço anteriormente realizado. Segundo este
princípio, portanto, a justiça é feita quando é dado “a cada um
conforme o seu mérito”.
Ao princípio do mérito se opõe, por sua vez, aquele que se
fundamenta na ideia de “necessidade”. Isto é: justo é aquele sistema
ou ato que distribui benefícios segundo as necessidades de cada
um; ou, pelo menos, que o faz de modo a satisfazer as necessidades
básicas de todos. Vale notar que é o princípio da necessidade que
está na base dos programas políticos dos partidos socialistas e social-democratas,
desde o século XIX, mas que só se converteram em experiências concretas no
século XX. Com base no princípio da necessidade, e a partir das lutas operárias
pela redução da jornada de trabalho (que não possuía qualquer regulamentação, até
então), ressurgem, ao final do século XIX, os sistemas de proteção social. Além do
interesse dos capitalistas em conter a expansão do nascente movimento operário
de ideologia socialista, também contribuíram para este fato o próprio
amadurecimento do capitalismo industrial e sua necessidade de maior e melhor
organização do mercado de trabalho. Não foi por acaso que o primeiro destes sistemas nasceria
na Alemanha, terra de Karl Marx, onde florescia um robusto partido operário:

o Partido Social-Democrata Alemão. O projeto saiu da
cabeça de Otto von Bismarck, o todo-poderoso chanceler do Reich,
em 1883. Era um sistema baseado em “seguros sociais” e,
inicialmente, atendia apenas os trabalhadores das indústrias. Era
financiado por contribuições feitas pelo Estado, pelos próprios
trabalhadores e pelos empregadores. E os benefícios auferidos –
em dinheiro ou serviços assistenciais – eram proporcionais às
contribuições efetuadas pelos trabalhadores. Configurava-se, assim,
Otto von Bismarck Chamado chanceler de ferro, foi o estadista mais importante da
Alemanha do século XIX. Coube a ele lançar as bases do II Reich
(1871-1918), que fizeram com que o país conhecesse pela primeira
vez na sua longa história a existência de um Estado nacional único. Contudo, para
formar a unidade alemã, Bismarck desprezou os recursos do liberalismo político, apostando
sempre numa política de força (dita de sangue e ferro), moldando assim o novo Estado
alemão dentro da blindagem do antigo sistema autoritário prussiano.


Fonte:
tinyurl.com/yzweatg>. Acesso em: 20 out. 2009.
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como um programa baseado no princípio do
mérito (“a cada um conforme sua contribuição”),
decorrência da grande proeminência, ainda, da
ideologia liberal. Embora fosse bastante difundido em toda
a Europa em princípios do século XX, o sistema
de Seguros Sociais era insuficiente: poucos
trabalhadores contavam com uma pensão por
velhice (aposentadoria) ou por morte, para legar
a suas famílias. A maioria deles falecia jovem ou
trabalhava até idades bem avançadas (60 anos),
terminando seus dias, em geral, como dependentes
de seus filhos. Suas mulheres, que a eles
sobrevivessem, caíam em estado de desamparo.
Àquela altura, ser ancião das classes trabalhadoras
significava, quase sempre, ser pobre.
A Primeira Grande Guerra destrói a
maioria dos sistemas de proteção social
existentes, ou lhes impõe severos limites, em
função do esforço de guerra. Só apó s a Segunda Guerra Mundial
que novos sistemas aparecem; e, então, se expandem em escala
sem precedentes.




O PLANO BEVERIDGE E AS ORIGENS DO ESTADO DE
BEM-ESTAR SOCIAL


Em 1941, em plena guerra, o governo britânico encomendou
a uma Comissão Interministerial, presidida por Beveridge, um
estudo para a reforma do sistema de seguros sociais inglês. O
produto deste estudo – o Plano Beveridge – deu origem a uma nova
configuração da seguridade social inglesa, que só foi posta em
prática em 1946, após o fim do conflito mundial.


Beveridge
Nasceu em 1879, em Bengala
(hoje Bangladesh), e
faleceu em 1963, na Inglaterra.
Em 1908 já era considerado
a principal autoridade
britânica em seguro-desemprego.
Após a Primeira Guerra se tornou
ministro da Alimentação, saindo
do governo logo depois para se tornar
diretor da London School of Economics
and Political Science. Em 1941, recebeu
do governo a incumbência de preparar
um relatório sugerindo programas e políticas
que ajudassem a Inglaterra a se
reconstruir, após a Segunda Guerra.
Suas propostas deram fundamento à
criação do Estado de Bem-Estar Social.
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Em linhas gerais, Beveridge propunha a extensão da
proteção social a todos os residentes da Grã-Bretanha, segundo o
princípio da “necessidade”. Os benefícios seriam igualitários, salvo
por variações de estado civil ou sexo, sem importar a renda anterior.
As contribuições também deveriam ser as mesmas para todos,
variando apenas segundo o sexo.
Neste cenário, ocorreu a unificação de todas as instituições
de seguros sociais em um único Serviço Público, sob o Ministério
da Seguridade Social. Também foram simplificadas as formalidades
administrativas. A este respeito vale citarmos as palavras de
Beveridge: “All benefits in the form of one stamp on a single
document” (“Todos os benefícios em um único carimbo sobre um
único documento”).


Um sistema de pensões se complementava com um Serviço
Nacional de Saúde (National Health Service) e políticas de pleno
emprego. O Plano Beveridge, de fato, significou uma ruptura radical
com o modelo anterior de política social e se propagou rapidamente,
especialmente na Europa, nos anos 1940 e 1950, se convertendo
em modelo para as políticas de proteção social posteriores, em todo
o mundo, agora sob a denominação de Estado de Bem-Estar Social,
ou Welfare State.


Estamos falando de Estado de Bem-Estar Social, mas você
sabe o que este termo significa?
O Estado de Bem-Estar Social pode ser definido como aquele
que assume a proteção social de todos os cidadãos, patrocinando
ou regulando fortemente sistemas nacionais de Saúde, Educação,
Habitação, Previdência e Assistência Social; normatizando relações
de trabalho e salários; e garantindo a renda, em caso de desemprego.
A proteção seria prestada a todos, contra todas as contingências sociais.



BASES ECONÔMICAS DO ESTADO
DE BEM-ESTAR SOCIAL:
KEYNESIANISMO E FORDISMO

As condições econômicas do pósguerra foram essenciais para permitir o
desenvolvimento do Estado de Bem-Estar Social. A reconstrução da Europa, depois
do conflito armado, se baseou amplamente nas teorias do economista John Maynard
Keynes, que propôs uma mudança radical na forma de conduzir a política
econômica, à época. Em vez de um mercado livre e altamente competitivo – o
laissez-faire, que predominara até o início do século XX, nas economias ocidentais,
e dera origem a graves crises, como o crack da Bolsa de Nova Iorque, em 1929 –,
Keynes propunha o planejamento econômico a partir do Estado. O Estado
deveria fazer investimentos públicos na produção para garantir o pleno emprego.
Se todos trabalhassem, haveria renda para que todos consumissem. Assim ficaria criado um ciclo virtuoso
de produção e consumo, que garantiria o funcionamento do capitalismo.


John Maynard Keynes
Nasceu em Cambridge, na Inglaterra,
em 1883, e morreu em
Firle, East Sussex (também Inglaterra),
em 1946. Teve ideias
inovadoras que se chocaram
com as doutrinas econômicas vigentes em sua
época, além de terem enorme impacto sobre a
teoria política e a política fiscal de muitos governos.
Keynes defendeu o papel regulatório do
Estado na economia, através de medidas de
política monetária e fiscal, para mitigar os efeitos
adversos dos ciclos econômicos. Keynes é
considerado um dos pais da moderna teoria
macroeconômica.
Saiba mais


Vale lembrar que, àquela altura, a experiência socialista da
União Soviética, com sua economia planejada, já estava em curso,
apresentando sinais de sucesso, em termos de crescimento.
Juntamente com os investimentos na produção, o Estado
deveria também regular as relações de trabalho e oferecer serviços
sociais básicos, de modo a permitir que as pessoas trabalhassem
tranquilas e que pudessem destinar suas rendas ao consumo de
bens. Os serviços públicos, por sua vez, também geravam empregos,
dinamizando ainda mais a economia. Neste sentido, o Plano
Beveridge era parte integrante da proposta keynesiana.
Este modelo já vinha sendo adotado nos Estados Unidos,
desde a década de 1930, pelo presidente Roosevelt, com o objetivo
de tirar aquele país da grande recessão em que mergulhara, a partir
da crise da Bolsa de Nova Iorque. Foi aplicado na Europa em
reconstrução com grande êxito, permitindo um ciclo de crescimento
acelerado e grande abundância no capitalismo ocidental. Resultou
nos “anos de ouro”, como ficaram depois conhecidos, e que
duraram até o início da década de 1970. 


Observe a Figura 2.
Figura 2: Tempos modernos
Fonte:

A este modelo econômico se somava um modelo industrial
de produção em massa, desenvolvido inicialmente na fábrica
americana de automóveis Ford, no início do século XX. O princípio
era “produção em massa para consumo de massa”. Ou seja, deveriase
primeiramente produzir em grandes quantidades, para os que
adotaram os métodos de administração científica de Taylor e Fayol.
Estes métodos consistiam, entre outras coisas, em se
decompor o processo de trabalho industrial em movimentos
estudados e preestabelecidos, o que permitia controlar melhor o
tempo de trabalho e reduzir o desperdício deste. Além disso, era
preciso estimular o consumo, o que foi feito mediante acordos
coletivos com os trabalhadores, em torno de ganhos de produtividade
do trabalho. Paralelamente, a publicidade e a propaganda, que
então ganhavam impulso, se encarregavam de estimular, em grande
escala, a demanda por bens duráveis, de base industrial e
tecnológica: geladeiras, carros, máquinas de lavar roupas etc.


MODELOS DE ESTADO DE BEM-ESTAR SOCIAL
A despeito da semelhança entre as
condições econômicas dos diversos países
em que floresceu o Estado de Bem-Estar
Social, os modelos adotados por cada um
deles diferem significativamente. Os tipos de
benefícios e serviços oferecidos, as formas de
sua provisão, bem como de seu financiamento,
variam bastante de um contexto nacional para
outro, o que tem levado os analistas do
campo a procurarem entender estas
diferenças e os fatores que as determinam.
O cientista social Esping-Andersen
estudou os arranjos de proteção social de
um conjunto de 18 países que fazem parte
vSe você ainda não o
assistiu ao filme Tempos
Modernos, de Charles
Chaplin, tente assisti-lo,
pois nele o autor faz uma
crítica irônica e
contundente da nova
linha de produção
introduzida pelas novas
teorias da administração
e depois popularizada
pelo fordismo.
Esping-Andersen
Nascido na Dinamarca, Gosta
Esping-Andersen é formado
em sociologia e economia pela
Universidade de Copenhague e
PhD pela Universidade de
Wisconsin-Madison. Atualmente
leciona sociologia na Universidade
Pompeu Fabra, em Barcelona, na
Espanha. Ficou conhecido por seu livro Les
Trois Mondes de l’État Providence, que se tornou
um clássico no âmbito dos estudos sobre os
welfares e as políticas sociais. Fonte:
www.esping-andersen.com/>. Acesso em: 21
out. 2009.
Saiba mais
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Especialização em Gestão Pública Municipal
da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico
(OCDE). São eles: Alemanha, Austrália, Áustria, Bélgica, Canadá,
Dinamarca, Estados Unidos, Finlândia, França, Irlanda, Itália,
Japão, Noruega, Nova Zelândia, Países Baixos, Reino Unido, Suécia
e Suíça.
Através desta pesquisa, Esping-Andersen concluiu que os
modelos se distinguem, ou se assemelham, em três aspectos básicos.
São eles:
�� grau de participação do Estado nas despesas com a
proteção social;
�� grau de abrangência da cobertura aos cidadãos; e
�� grau de proteção que o sistema oferece ao trabalhador,
garantindo-lhe condições básicas de sobrevivência,
independentemente de ele possuir ou não um emprego.
A esta última variável, ele chamou de “grau de
descomodificação da força de trabalho”.
O estudo de Esping-Andersen apresenta um “índice de
descomodificação” calculado a partir de diversos indicadores. Quanto
maior o valor deste índice, maior é, segundo esta tese, a capacidade
de um sistema de seguridade social de emancipar os indivíduos de
sua dependência do mercado (ESPING-ANDERSEN, 1990).
Você deve estar se perguntando: o que é descomodificação?
Podemos entender descomodificação como um neologismo
derivado da palavra inglesa commodity, que significa, no âmbito
do comércio, uma mercadoria barata. Segundo este autor, o
capitalismo industrial teria transformado o trabalho assalariado em
commodity, na medida em que a sobrevivência do trabalhador
dependeria inteiramente dos ganhos obtidos por ele, com sua força
de trabalho. Ou seja, do seu salário.
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Unidade 1 – Dimensões conceituais e históricas do Estudo dos Problemas e Políticas Sociais
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Módulo Básico
A descomodificação se dá quando o indivíduo tem acesso
aos bens e serviços de que necessita para sua sobrevivência, através
do Estado, enquanto um “direito social” (tal como entendido por
Marshall). Desta forma, ele não necessita “comprá-los” com seu
salário, o que lhe garante maior poder de barganha em suas
negociações relativas a emprego e renda. A garantia de direitos
sociais mínimos aos trabalhadores permitiria a estes, segundo essa
visão, valorizar sua força de trabalho. Daí a ideia de
descomodificação.
Diante do exposto, cabe elencarmos as cinco variáveis existentes
para identificação do índice de descomodificação. São elas:
�� pensão mínima, enquanto percentual dos ganhos de
um trabalhador normal, para uma pessoa;
�� taxa bruta de reposição de uma pensão-padrão, para
uma pessoa;
�� número de anos de contribuição requerido para fazer
jus ao benefício; e
�� alíquota do valor da pensão que é financiada pelos
indivíduos (alíquota de contribuição individual).
Os valores destas variáveis são somados e pesados pelo
percentual de pessoas acima da idade mínima de direito a
aposentadoria, que estejam efetivamente recebendo pensões. Para
os benefícios relativos à saúde e ao seguro-desemprego, os
procedimentos foram idênticos, com as seguintes exceções: foi
incluída apenas a taxa de reposição para benefícios-padrão; a
alíquota de contribuição individual foi omitida; e incluiu-se o prazo
de carência requerido para recebimento dos benefícios, bem como
o número de semanas de sua vigência.
De acordo com Esping-Andersen, os sistemas de proteção
social também variam conforme a quantidade de pessoas cobertas
e os critérios utilizados para incluí-las ou excluí-las de tal cobertura.
Neste sentido, os Estados de Bem-Estar Social podem ser:
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Especialização em Gestão Pública Municipal
�� universalistas – quando atendem a todos indiferenciadamente;
�� corporativos – aqueles restritos a corporações profissionais;
ou
�� residuais, isto é, focalizados em alguns beneficiários –
geralmente os mais necessitados (os mais pobres, os
mais velhos, as crianças ou os portadores de
deficiência, por exemplo). Destes, o sistema exige que
comprovem sua necessidade através de “testes de
meios”.
Esping-Andersen calcula, então, uma taxa média de
universalidade para cada um dos países, a qual expressa o grau
que cada sistema de proteção cobre seus cidadãos.
Por fim, o grau de participação do Estado nas despesas
com a seguridade social seria, no entendimento de Esping-Andersen,
um terceiro aspecto a explicar a variação dos regimes de proteção
social. Este índice expressaria a relação entre financiamento público
e privado de um sistema e, afinal, o grau de efetivo do “esforço de
proteção” de uma determinada nação.
A partir da análise destas variáveis nos diversos países
selecionados, Esping-Andersen conclui que haveria três modelos
de Estado de Bem-Estar Social, os quais ele chama de “regimes”:
�� O regime social-democrata apresentaria grande capacidade
de descomodificar a força de trabalho, contribuindo
fortemente para a desproletarização do trabalhador.
Os países identificados com este regime – Suécia,
Dinamarca, Noruega e Finlândia – também
apresentariam os maiores índices de universalidade.
Finalmente, é nestes países que ocorre a maior
participação do Estado no gasto com a seguridade social.
�� Os regimes conservadores são aqueles que apresentam
taxas médias de descomodificação da força de
trabalho. Quanto à universalidade na provisão de
serviços sociais, embora a maioria dos cidadãos esteja
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Unidade 1 – Dimensões conceituais e históricas do Estudo dos Problemas e Políticas Sociais
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Módulo Básico
coberta, esta cobertura se dá pela via corporativa. Ou
seja, a partir de sua inserção no mercado de trabalho,
segundo sua categoria ocupacional. Isto significa que,
para obter proteção, o indivíduo precisa estar
empregado; e seus benefícios e direitos dependem de
sua profissão e/ou emprego, e do sindicato ao qual
está vinculado. Trata-se de um modelo bem semelhante
àquele introduzido por Bismarck na Alemanha, no final
do século XIX, como vimos anteriormente. E não
surpreende que este seja o modelo que vige até hoje
naquele país, bem como em diversos outros da Europa
Continental, tais como França, Bélgica, Áustria, Países
Baixos, Itália e Suíça. O maior problema deste arranjo
é que ele gera significativas diferenças entre os direitos
sociais dos indivíduos, em função de sua categoria
profissional, bem como entre os incluídos e os
excluídos do mercado de trabalho. Nestes países, a
participação percentual do Estado no gasto com
benefícios sociais também é alta, mas, neste caso, isto
se deve principalmente ao expressivo gasto realizado
com o pagamento de benefícios a funcionários
públicos, dos quais o Estado é o patrão. Pode-se
observar, também, grande participação do
financiamento privado a benefícios sociais, tais como
aposentadorias e pensões complementares, que são
instituídos pelas próprias categorias profissionais.
�� O regime liberal se caracteriza por: baixos índices de
descomodificação da força de trabalho; reduzida
universalidade dos benefícios – com o predomínio do
uso de teste de meios (teste de pobreza) para o acesso
dos cidadãos a eles; e pela baixa participação do
Estado nos gastos, em comparação à alta participação
dos esquemas privados no financiamento destes.
Os países incluídos neste regime são Estados Unidos,
Austrália, Canadá, Nova Zelândia e, a partir das
reformas dos anos 1980, o Reino Unido.
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Especialização em Gestão Pública Municipal
Para uma melhor compreensão do que abordamos até aqui,
observe o Quadro 1 que traz, segundo Esping-Andersen, os modelos
de Estado de Proteção Social.
VARIÁVEIS
Grau de
descomodificação
Grau de
universalidade
Grau de participação
do Estado
Países
Quadro 1: Modelos de Estado de Proteção Social
Fonte: Adaptado de Esping-Andersen (1990)
Ao explicar as diferenças entre estes tipos, Esping-Andersen
afirma que elas se devem, em grande medida, às distintas trajetórias
históricas destes países, especialmente no que diz respeito à
evolução do seu mercado de trabalho, bem como das suas relações
trabalhistas e sindicais. Aponta também para a grande importância
da existência, ou não, de partidos políticos ligados aos sindicatos,
na determinação dos modelos.
A Suécia, um expoente do regime socialdemocrata, teria o
seu padrão de proteção social explicado pela força do partido socialdemocrata
naquele país, em sua íntima relação com os poderosos
sindicatos de trabalhadores lá localizados. Já o regime de proteção
“minimalista” dos Estados Unidos seria determinado pela
fragilidade do movimento sindical americano e sua pouca ligação
com os partidos políticos.
MODELOS
LIBERAL
baixo
baixo
baixo
Estados Unidos,
Canadá, Inglaterra
(pós-1980).
SOCIALDEMOCRATA
alto
alto
alto
Suécia, Noruega,
Finlândia, Dinamarca.
CONSERVADOR
médio
médio
alto
(pelo grande
gasto com funcionários
públicos)
Alemanha, França,
Itália, Bélgica,
Holanda etc.
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Unidade 1 – Dimensões conceituais e históricas do Estudo dos Problemas e Políticas Sociais
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Módulo Básico
No entanto, os países da Europa
Continental teriam sido indelevelmente
marcados pela tradição histórica das guildas
e corporações de ofício (mais uma vez,
lembre-se das aulas de História do ensino
médio!), as quais, desde a Idade Média,
organizavam a proteção social aos seus
membros. Estes países, mesmo tendo sido
posteriormente governados por partidos
políticos de esquerda, não lograram reverter
os arranjos corporativistas já consagrados por
aquela tradição (ESPING-ANDERSEN, 1990).
O modelo de Esping-Andersen,
reproduzido esquematicamente no Quadro 1,
atribui forte poder explicativo a fatores
políticos na determinação das diferenças
entre os tipos de Estado de Bem-Estar Social,
identificando a influência de três variáveis
específicas:
�� o padrão de formação da classe trabalhadora; o processo de construção

de coalizões políticas, durante
o florescimento da sociedade industrial; e a herança recebida por cada sociedade, relativa à
hierarquia de seus grupos de status e à distribuição de privilégios entre estes.
Esping-Andersen (1990) busca oferecer uma alternativa às
teorias do Estado de Bem- Estar Social que o explicam apenas como
resultado do poder de mobilização da classe trabalhadora, realçando
a importância da mediação deste poder, seja pelas instituições
políticas (parlamentos, partidos e competição eleitoral), seja pelas
instituições sociais (formais e informais), como os sindicatos e
os grupos de status, que refletem a estratificação social nos diversos países.
Guildas, corporação artesanal, ou corporações de ofício
Eram associações de artesãos de um mesmo ramo, isto é, pessoas que desenvolviam
a mesma atividade profissional, e que procuravam, através de sua associação,
garantir os interesses de classe. Ocorreram na Europa, durante a Idade Média e
mesmo após. Apesar de a maioria das guildas se limitarem às fronteiras da cidade
ou comuna, algumas se formaram sobre espaço geográfico amplo, por vezes
uma nação inteira. O segredo industrial era parte importante da instituição das
guildas. A passagem para o grau de mestre normalmente acontecia com a revelação
destes segredos. Fonte: Elaborado pela autora.
Saiba mais

OS ESTADOS DE BEM-ESTAR SOCIAL
NA NOVA ORDEM MUNDIAL

Ao final dos anos 1970, passados menos de 50 anos de sua
fase áurea, o Estado de Bem-Estar Social foi colocado sob forte
questionamento. Para tanto, contribuíram fatores como o
envelhecimento da população, nos diversos países (menor número
de nascimentos com maior longevidade) – o que aumentou muito
os gastos com aposentadorias e pensões –, e a redução dos postos
de trabalho, motivada pelas inovações tecnológicas – o que levou à
drástica queda da arrecadação tributária sobre o trabalho
assalariado. Cada vez mais, portanto, passaram a recair sobre o
tesouro dos Estados os encargos com os programas sociais.
No final dos anos 70, a economia mundial entra em crise,
em consequência dos choques do petróleo e da redução das taxas
de crescimento. Estes teriam sido os determinantes para que o capital
transbordasse para além das fronteiras dos Estados nacionais,
dando início ao estabelecimento de uma nova ordem econômica
mundial e à chamada globalização.
O fenômeno da globalização, para Gorz (1999), teria
sido motivado pelo divórcio entre os interesses do Estado e
os interesses do Capital. A crise do crescimento revelou que
o Estado não era mais capaz de contribuir para a expansão
do Capital, conforme ocorreu no pós-guerra, através das políticas
keynesianas.
A introdução de inovações tecnológicas, por sua vez –
a automação, a microeletrônica e os novos materiais, entre outras –,
transformaram o processo produtivo, as comunicações e os
transportes, ampliando em escala geométrica o fluxo do comércio
internacional e dos capitais.
Ocorreu, ainda, o surgimento de instituições supranacionais
voltadas para a redução das barreiras entre as trocas internacionais
de bens e serviços, como a Organização Mundial do Comércio
(OMC), que levou o mercado financeiro a se descolar das economias
reais, ocasionando a “desterritorialização” do capital financeiro e
sua predominância sobre o capital produtivo.
Tudo isso gerou uma significativa perda de soberania
dos Estados nacionais, no que toca à sua capacidade
para implementar políticas econômicas e sociais.
Para enfrentar a volatilidade do capital, a saída apontada a
partir do campo conservador (neoliberal) foi o corte de gastos do
Estado. O Estado de Bem-Estar Social passou a ser visto como
oneroso, inflacionário e inimigo do crescimento econômico.
Caberia, assim, suprimi-lo ou reduzi-lo ao mínimo, transferindo-se
a prestação de serviços sociais – de saúde, educação, habitação,
previdência social – para os agentes privados, com financiamento
dos próprios usuários.
Nas palavras de Standing (1999), a era da regulação pelo
Estado (ou, da regulação estatutária) foi então substituída pela era
da regulação pelo mercado. Isto significou, entre outras coisas, a
passagem de uma sociedade estável para a classe trabalhadora –
sustentada pelo pleno emprego, pelo consumo de massa e pelos
direitos do trabalho – para outra, marcada pela flexibilidade e a
insegurança.
Desta forma, a resposta dos governos nos últimos anos do
século XX e início deste, inclusive os de tendência social-democrata,
tem sido a revisão do Estado de Bem Estar. O modelo de Seguridade
Social proposto por Beveridge chega, portanto, ao século XXI sob
fortes ataques – ainda que ele tenha sido, indiscutivelmente o maior
responsável pelas excelentes condições sociais existentes nos países
de capitalismo central, durante a segunda metade do século XX.
Por outro lado, é fato também que tal modelo jamais chegou a atingir
a mesma eficácia – os mesmos graus de cobertura e generosidade
– nos países do capitalismo periférico, como os da América Latina,
onde foi razoavelmente difundido.
v
Até então era
reconhecido como um
poderoso mecanismo de
redistribuição da renda
social.

A seguir, veremos como evoluíram as políticas sociais no
Brasil. Podemos adiantar que as novas tendências da
seguridade social apontam no sentido de cada vez maior
complementaridade entre o Estado e o Mercado na provisão
de benefícios sociais.

AS POLÍTICAS DE PROTEÇÃO SOCIAL NO
BRASIL: HISTÓRIA E PERSPECTIVAS

O drama social observado no Brasil contemporâneo reflete,
em grande medida, a história das políticas sociais no País,
especialmente o fato de que, nos primeiros 40 anos de sua
industrialização e modernização, apenas algumas poucas categorias
de trabalhadores podiam contar com direitos básicos de proteção
social (assistência médica e previdência social). A maneira como
esses direitos foram inicialmente atribuídos também determinou
sobremaneira o nível das desigualdades entre os brasileiros, assim
como a exclusão de vastos de seus contingentes da condição de
cidadania.
A partir da década de 1960 – e a despeito das marchas e
contramarchas verificadas na normalidade democrática do País –,
a proteção social garantida pelo Estado foi sendo progressivamente
ampliada, o que se refletiu também no maior comprometimento do
orçamento público com serviços e benefícios sociais. Mas ela só
avançou de forma mais consistente durante a reconstrução
democrática dos anos 1980, tornando possível a inscrição, na Carta
Constitucional de 1988, de um projeto de Estado de Bem-Estar
Social universalista.
Podemos afirmar que o Brasil conta hoje com um arcabouço
constitucional que tem permitido importantes avanços no combate
à pobreza e às desigualdades. Porém ainda há muito o que caminhar
para que nos tornemos um país mais justo.
vA partir da inserção
formal dos indivíduos no
mercado de trabalho.

Na próxima seção trataremos do percurso histórico cumprido
até aqui e das conquistas e perdas eventualmente existentes,
preparando você para analisar e discutir as tarefas que ainda
se impõem ao poder público, no sentido de realizar a justiça
social em nosso país.


EVOLUÇÃO DA PROTEÇÃO SOCIAL BRASILEIRA
NO SÉCULO XX: DA DÉCADA DE 1920
À CONSTITUIÇÃO FEDERAL DE 1988

Conforme já mencionado no início desta unidade, as
políticas governamentais de proteção social tiveram início no Brasil,
de forma consistente, junto ao processo de industrialização e
urbanização do País. A literatura especializada é amplamente
convergente ao apontar o ano de 1923 como o marco inicial deste
processo.
Naquele ano, foi estabelecida a primeira política pública de
previdência social para trabalhadores, através do Decreto n. 4.682,
conhecido como Lei Eloy Chaves.
O decreto determinava a criação obrigatória, em cada
ferrovia do País, de um fundo de aposentadorias e pensões, as
Caixas de Aposentadoria e Pensões – CAPs. A proposição
foi baseada na legislação argentina e contou com o lobby dos
ingleses, proprietários da São Paulo Railway Company.
Três anos depois (1926), o sistema das CAPs foi estendido
aos trabalhadores de docas e navios e, posteriormente, a outros
setores produtivos. As CAPs eram organizadas por empresas, e o
Estado não participava nem do seu financiamento nem da sua
administração, tendo apenas um papel de controle, a distância: o
Ministério do Trabalho era chamado a mediar os conflitos que
porventura se apresentassem, entre as diversas partes envolvidas
nas CAPs.


v Este nome faz referência
ao deputado federal
paulista que a propôs.
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Unidade 1 – Dimensões conceituais e históricas do Estudo dos Problemas e Políticas Sociais
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Módulo Básico
De acordo com Oliveira e Teixeira (1985), esta seria a
primeira fase da Política Social no Brasil, que se prolongaria até
a Revolução de 1930, quando direitos sociais foram então
atribuídos a um maior número de trabalhadores.
Segundo estes autores, esta fase (1923/1930) seria marcada
por três características, que a distinguiriam da política social pós-
1930:
�� relativa amplitude no plano de atribuições das
instituições. “Amplitude” porque a Lei Eloy Chaves
previa tanto benefícios pecuniários – tais como
pensões por morte, aposentadorias, pensão de 50%
dos vencimentos aos que fossem chamados ao serviço
militar (enquanto durasse tal serviço) –, como
serviços assistenciais – socorro médico e
medicamentos. Enquadravam-se como beneficiários
todos os membros da família do trabalhador que
habitassem “sob o mesmo teto e sob a mesma economia”.
Além disso, a partir de 1926, foram estabelecidos também
o auxílio-funeral e o pecúlio por morte.
�� prodigalidade nas despesas. O modelo seria “pródigo”
porque, além do grande número de benefícios e
serviços oferecidos, havia facilidades para a sua
obtenção, e o gasto, por segurado, era bem maior do
que nas décadas seguintes (1930/1940). De acordo
com Oliveira e Teixeira, o valor das aposentadorias,
em fins da década de 1930, correspondia a 1/3 do
valor pago em fins da década de 1920.
�� natureza basicamente civil privada daquelas
instituições, terceira característica marcante. As CAPs
eram geridas por comissões integradas por três
representantes da empresa, entre os quais o presidente
da Comissão e dois representantes dos empregados,
eleitos diretamente. Quanto ao seu custeio, também
não havia participação do Estado. Os empregados
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Especialização em Gestão Pública Municipal
pagavam 3% de seus vencimentos, as empresas
contribuíam com 1% de sua renda bruta, e os usuários
dos serviços (estradas de ferro e portos) pagavam uma
sobretaxa de 1,5% sobre as tarifas, que era destinada
às CAPs.
Assim, se entendermos que a não participação direta do
Estado, seja na administração ou no financiamento das Caixas,
caracteriza-as como entidades privadas, podemos dizer que estas
se constituíram nas iniciativas mais antigas de previdência privada
no Brasil. Contudo, se levarmos em conta que essas entidades foram
instituídas por leis, emanadas do Estado, elas devem ser
enquadradas como as primeiras experiências de previdência pública
do País – como, aliás, tem sido a praxe entre os diversos autores.
A Revolução de 1930, liderada por Getúlio Vargas,
desencadeou grandes transformações no País. Ela marcou o início
da Era Vargas, que durou até 1945, e da qual o País emergiu bastante
diferente do que quando entrara. Naqueles 15 anos, o Brasil se
industrializou fortemente, o que provocou mudanças substanciais
na estrutura ocupacional da população e na sua alocação entre
setores econômicos (agricultura, indústria e serviços). A quantidade
de pessoas empregadas na indústria cresceu muito, o que provocou
o crescimento das cidades e dos problemas sociais típicos da
escassez urbana: falta de saneamento básico, de habitação e de
assistência à saúde, como mostra a Figura 3.
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Unidade 1 – Dimensões conceituais e históricas do Estudo dos Problemas e Políticas Sociais
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Módulo Básico
Figura 3: Operários em tecelagem paulistana; início do século XX
Fonte:
Segundo Oliveira e Teixeira (1985), este período
corresponderia à segunda fase da seguridade social pública em
nosso país. A partir de 1933, Vargas criou diversos Institutos de
Aposentadoria e Pensão (IAPs), que eram instituições vinculadas
aos sindicatos de trabalhadores, destinadas a prover a estes a
assistência médica e outros benefícios sociais, tais como
aposentadorias e pensões.
Assim como os sindicatos, os IAPs eram tutelados pelo
Ministério do Trabalho, e seus dirigentes escolhidos por ele.
O primeiro destes institutos foi o IAPM (Instituto de Aposentadorias
e Pensões dos Marítimos), fundado em 1933. Em 1934, foi a vez
dos bancários, para os quais foi destinado o IAPB. Em 1938, foram
criados o IAPIs, dos industriários; o IAPETEC, dos empregados de
carga; e o IPASE, dos Servidores do Estado.
Contudo, cada Instituto possuía organização e administração
próprias e oferecia benefícios e serviços diferenciados a sua
clientela. Por causa do seu atrelamento aos sindicatos, só estavam
cobertos os trabalhadores que eram sindicalizados. E como só
algumas categorias profissionais eram sindicalizadas – já que a
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O Estado e os problemas contemporâneos
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Especialização em Gestão Pública Municipal
Lei de sindicalização, de 1931, estabelecia que a criação de um
sindicato dependeria de autorização do Estado –, um grande
contingente de trabalhadores, tais como autônomos, domésticos e
rurais, permanecia à margem do sistema.
O sistema de proteção social brasileiro desenvolveuse
de forma fragmentada.
Além disso, a composição da cesta de benefícios de cada
IAP estava associada ao poder de pressão de cada categoria e de
seu sindicato, junto ao Ministério do Trabalho. É preciso lembrar
que este período corresponde ao momento da construção do
Trabalhismo e do partido que veio a representá-lo. Isto foi feito
através da cooptação das lideranças sindicais, que ofereciam seu
apoio ao Partido Trabalhista Brasileiro (e, por conseguinte, a Vargas)
em troca de privilégios – como benefícios sociais específicos para
suas categorias profissionais. O governo, por sua vez, estimulava a
competição entre as categorias, através da concessão de benefícios
diferenciados, entre os IAPs. Isto resultou num sistema de proteção
social muito heterogêneo e estratificado, que acabou impactando
negativamente a estrutura social, reforçando a desigualdade em seu
interior (WERNECK VIANNA, 1998).
Sem dúvida, a criação dos IAPs aumentou muito o número
de segurados em relação aos que eram protegidos pelas CAPs. Este
número saltou de 140.000 em 1930, para cerca de 2.800.000 em
1945 (Oliveira e Teixeira, 1986), representando uma importante
expansão da cidadania social no País. Apesar disso, os gastos por
segurado decresceram muito, em contraste com o período anterior,
seja em razão da expansão da cobertura, seja em função de um
esforço deliberado do Governo de conter as despesas
previdenciárias.
O período seguinte, demarcado pelos anos de 1945 a 1964,
é conhecido na História do Brasil como o do interregno democrático.
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Ou seja, um estreito pedaço de tempo caracterizado pelo
funcionamento “quase regular” das instituições democráticas.
Diz-se “quase”, pois, embora funcionassem o parlamento e diversos
partidos políticos, o Partido Comunista Brasileiro, o PCB, por
exemplo, só esteve na legalidade por dois anos (entre 1945 e 1947).
Os sindicatos, embora tivessem alcançado o direito de se articular
com partidos, ainda seriam alvo de uma política bastante repressiva
durante o Governo Dutra (SANTOS,1979).
Esta época ficou conhecida também como “populista”, uma
vez que os governos pareciam preocupados exclusivamente em
responder às demandas mais estridentes dos grupos organizados
da sociedade, mesmo que isto implicasse um aumento de gastos
sem previsão das devidas fontes de recursos.
O populismo, neste sentido, é também a característica
que marca a Política Social deste período, pelo menos
até 1960, na medida em que a expansão dos benefícios
sociais permanecia sendo feita através de barganhas
políticas particularizadas entre sindicatos e o Estado.
Desta forma, podemos afirmar que o gasto social aumentou
consideravelmente com relação ao período anterior (1930 a 1945).
E, só em 1960, este quadro começou a se alterar, quando da
aprovação pelo Congresso da Lei Orgânica da Previdência Social
(LOPS), que, após tramitar por 14 anos, estabeleceu a
homogeneização dos planos de contribuição e de benefícios entre
os diversos institutos. Com isso, pôs fim, também, ao processo de
utilização da previdência como objeto de barganha entre lideranças
sindicais e governo.
Em 1966 os diversos Institutos são unificados no Instituto
Nacional da Previdência Social (INPS), já sob uma ordem política
autoritária, inaugurada com o Golpe Militar de 1964.
Aparentemente, o regime fechado teria sido condição necessária
para tal unificação, que fora tentada diversas vezes, mesmo durante
a ditadura Vargas. Fazendo uso dos dispositivos autoritários, o
governo conseguiu calar as lideranças sindicais, que até então
resistiam à unificação dos Institutos.
Segundo Santos (1979), as oligarquias sindicais foram os
setores que mais resistiram à unificação do sistema previdenciário,
à medida que a autonomia e independência dos IAPs e seu
atrelamento aos sindicatos conferiam grande poder político aos seus
líderes.
No Instituto Nacional de Previdência Social (INPS), a
representação dos trabalhadores e dos empregadores no conselho
gestor foi extremamente reduzida, e a hegemonia, no novo Conselho
da Previdência, passou a ser exercida pelos representantes do
governo militar. Por outro lado, a unificação da previdência social
tinha justificativas técnicas, tais como racionalidade e eficácia
administrativa e necessidade de saneamento financeiro.


A POLÍTICA SOCIAL APÓS A REDEMOCRATIZAÇÃO:
DA CONSTITUIÇÃO CIDADÃ DE 1988 AO GOVERNO LULA

Os anos 1980 foram marcados por forte recessão
econômica, não apenas no Brasil, mas em toda a América Latina,
por causa da crise da dívida externa dos países da região. Inflação,
estagnação econômica e desemprego, que caracterizaram a
economia deste período, viriam a reduzir as receitas oriundas de
tributos e contribuições, comprometendo os investimentos públicos
e, consequentemente, o gasto social no País.
Diante deste cenário, a Previdência Social – principal política
pública no setor –, foi afetada por um crescente déficit contábil,
não só pela redução de sua receita, ocorrida pela queda no ritmo
de incorporação de novos contribuintes, mas também pelo aumento
das suas despesas, decorrente do amadurecimento do sistema. v
Neste momento, muitos dos seus filiados já
estavam “em gozo de benefícios”, ou seja, já eram aposentados ou pensionistas, o que
aumentara o volume de pagamentos num momento de receita decrescente.

É nesta década também que o Brasil foi tomado por uma
grande expansão dos movimentos sociais de oposição ao regime
militar. A redemocratização permitiu novamente a mobilização dos
diversos interesses societais, e de sua vocalização nas arenas
decisórias.
A movimentação pela derrubada do regime de exceção –
que teve seu ponto alto na campanha pelas “Diretas Já”, em 1984
– trouxe em sua esteira um conjunto de demandas da sociedade
organizada relativas a uma nova configuração do sistema público
de proteção social, baseado na universalização, democratização e
descentralização das políticas sociais. As demandas por
reconstrução da democracia e da cidadania trouxeram para o centro
do debate também a questão das desigualdades sociais e a da
pobreza, que assolavam um grande contingente da população.
Recuperando as ideias de Marshall, os movimentos sociais
apontavam a necessidade da efetivação de um conjunto de direitos
sociais universais, para toda a população, ao lado dos direitos
políticos.

Veja a Figura 4.
Figura 4: Diretas Já
Fonte:

A questão da descentralização das políticas sociais também
era uma reivindicação importante naquele momento e se identificava,
segundo Almeida (1995), com a própria luta contra o autoritarismo,
na medida em que sua histórica ineficiência, assim como a corrupção
que as assolava, era percebida como consequência da extrema
centralização decisória e falta de transparência do governo federal,
que ocorrera durante a gestão dos militares.
A nova Constituição Federal, promulgada em 1988, reflete
amplamente estas demandas. Tornou-se conhecida como
“a Constituição Cidadã” exatamente por trazer em seu texto um
extenso capítulo sobre a Ordem Social, que veio a garantir amplos
direitos sociais a toda população. Ao menos, na letra da lei, como
veremos adiante. Seu Artigo 194 especifica:
[...] A Seguridade Social compreende um conjunto integrado
de ações de iniciativa dos poderes públicos e da sociedade,
destinadas a assegurar os direitos à saúde, à previdência
e à assistência social”.
Inspirada nos mesmos princípios do Plano Beveridge, o texto
constitucional prevê, para os serviços sociais:
�� universalidade da cobertura e do atendimento;
�� uniformidade e equivalência dos benefícios às
populações urbanas e rurais;
�� irredutibilidade do valor dos benefícios; e
�� democratização da gestão do sistema, com a
incorporação de trabalhadores, empregadores e
demais representantes da sociedade civil nos
Conselhos da Previdência e de Saúde.
À semelhança dos regimes de Estado de Bem-Estar Social
democratas (segundo a tipologia de Esping-Andersen, que você viu
anteriormente), a Constituição brasileira adotaria como categoria
central o conceito de Seguridade Social, para expressar o novo...
v
Vimos este assunto no
início desta Unidade, em
caso de dúvida, faça uma
releitura cuidadosa do
tema e se for preciso
entre em contato com
seu tutor.

...pacto que se pretendia construir. Um pacto que se fundaria na
solidariedade da sociedade para com o indivíduo em situação de
risco social. Este formato era bastante distinto do de “Seguro Social”,
que marcara o sistema de proteção social brasileiro desde a Era
Vargas.
Segundo Vianna (2003, p. 2),
[...] a opção pela expressão Seguridade Social, na Constituição
brasileira de 88, representou um movimento concertado
com vistas à ampliação do conceito de proteção
social, do seguro para a seguridade, sugerindo a subordinação
da concepção previdenciária estrita, que permaneceu,
a uma concepção mais abrangente. Resultou de intensos
debates e negociações, e significou a concordância
(relativa, na verdade) de diferentes grupos políticos com a
definição adotada pela OIT: seguridade indica um sistema
de cobertura de contingências sociais destinado a todos
os que se encontram em necessidade; não restringe
benefícios nem a contribuintes nem a trabalhadores; e estende
a noção de risco social, associando-a não apenas à
perda ou redução da capacidade laborativa – por idade,
doença, invalidez, maternidade, acidente de trabalho –,
como também à insuficiência de renda, por exemplo.
De acordo com estes princípios, a Constituição introduziu
algumas modificações importantes na proteção social aos
brasileiros. Em primeiro lugar, equalizou os benefícios
previdenciários dos trabalhadores rurais aos dos urbanos,
garantindo àqueles que sobrevivem da agricultura familiar (que
possuem baixíssima capacidade contributiva) a condição de
“segurado especial”, isto é, beneficiário isento de contribuição.
Além da inclusão previdenciária do trabalhador rural pobre,
a Constituição determinou também a concessão de um benefício
não contributivo a trabalhadores (urbanos ou rurais) com mais de
65 anos ou portadores de deficiência, cuja renda mensal familiar
seja inferior a um quarto do salário-mínimo por pessoa (e em caso...


vO benefício recebido é de
1 salário-mínimo e
resultou, a partir de
1991, num importante
incremento da renda das
populações rurais
pobres, especialmente
dos segmentos mais
idosos, e na região
Nordeste.

...de nenhuma pessoa da família receber seguro-desemprego ou
qualquer outro benefício da previdência social).
Este benefício, que depois foi regulamentado e batizado com
o nome de Benefício de Prestação Continuada (BPC), é o substituto
de outro, a “Renda mensal Vitalícia”, de propósitos semelhantes,
que foi instituída no País em 1974 e extinta em 1991, com a
importante diferença de reduzir em cinco anos (de 70 para 65) a
idade para que o candidato se habilite a ele.
Tanto este benefício quanto a aposentadoria rural têm tido
significativa importância no combate à pobreza desde que foram
regulamentados, ainda que o universo de seus beneficiários
potenciais não tenha sido plenamente atingido.
Para implementar o conceito de Seguridade Social como uma
ampla rede de proteção aos riscos sociais inerentes ao modelo
econômico e à perversa distribuição de renda do País, a Constituição
previu também a criação do “Orçamento da Seguridade Social” e
a unificação dos Ministérios da Saúde, Previdência e Assistência
Social, no Ministério da Seguridade Social, o que favoreceria a
integração dos recursos e a sinergia das ações de todas estas pastas.
Para tanto, este orçamento deveria dispor de fontes diversas
e exclusivas de financiamento, oriundas de contribuições de toda a
sociedade: trabalhadores e empresários; União, Estados e
municípios; além das receitas oriundas de loterias.
Contudo, a regulamentação dos dispositivos constitucionais
que lhe dariam consistência legal foi sistematicamente obstruída
nos anos seguintes. Para isso pesaram, de um lado, restrições
econômicas e orçamentárias. A inflação no período chegava a
1.500% ao ano. De outro lado, também teve início uma reação
organizada pelos grupos conservadores, que voltavam então ao
combate, após terem sido vencidos nas votações do Capítulo da
Ordem Social, durante a Constituinte.
O Orçamento da Seguridade jamais ganhou
institucionalidade.
Trataremos dveste
assunto com mais
detalhes na Unidade 2.
Com esta decvisão,
buscou-se garantir a
preservação dos
recursos para estes
setores, contra as
pressões das demais
áreas de política pública.

Nesta “reação conservadora” se inclui a própria eleição de
Fernando Collor de Mello, ocorrida em 1989, que postergou o quanto
pôde a regulamentação dos artigos da Ordem Social, dando grande
contribuição para a descaracterização do projeto da Seguridade
Social.
Collor também transformou o então Instituto Nacional de
Previdência Social (INPS) em Instituto Nacional do Seguro Social
(INSS), vinculando-o, como no passado varguista, ao Ministério
do Trabalho. Com este ato, logrou reverter o modelo proposto na
Constituição – fundado no princípio da necessidade –, retomando
a velha ideia de proteção social como “mérito”, expressa num
seguro social, de caráter contratual e individual.
É preciso ter em consideração que, àquela altura, os
organismos financeiros internacionais recomendavam que os países
endividados – especialmente da América latina – realizassem um
“ajuste estrutural”, tendo em vista sua estabilização monetária e
fiscal. Para isso, propunham, entre outras coisas, a redução do gasto
social pelo Estado, mediante a privatização dos serviços e esquemas
de proteção social, e o direcionamento das políticas sociais ao
atendimento apenas dos mais pobres, na escala de rendas.
Os anos que se seguiram foram caracterizados pelo
subfinanciamento da área social.
De acordo com Médici (1995 apud Abrahão e Cardoso Jr.,
2005), o gasto social em 1992 foi de apenas US$ 43 bilhões, quando
este já havia atingido a marca de US$ 50 bilhões, antes da
promulgação da Constituição. A área da Saúde foi especialmente
atingida, sofrendo uma redução de mais de 30% nos seus gastos,
entre 1990 e 1992.
O Governo Itamar Franco, que substituiu o de Collor após
seu impeachment, em fins de 1992, retomou o processo de
regulamentação infraconstitucional da Seguridade Social dando início...


vFundo Monetário
Internacional, Banco
Mundial e Banco
Interamericano de
Desenvolvimento.

...à sua subsequente aplicação, sempre de maneira estranha à que havia
sido prevista no texto da Carta Magna. Quando isto, por fim, ocorreu,
as políticas de Saúde, Previdência e Assistência Social permaneceram
em Ministérios independentes, e as diversas receitas do Orçamento
da Seguridade foram divididas e centralizadas no Tesouro.
Não obstante, foi possível implementar a extensão da
cobertura previdenciária aos trabalhadores rurais, que foi talvez a
medida de maior impacto neste período, tanto ao nível social – na
medida em que ampliou em quase um terço do número de benefícios
concedidos, em dois anos –, quanto em termos financeiros, uma
vez que levou a um aumento expressivo da despesa previdenciária.
Vale notar que os trabalhadores rurais não haviam contribuído da
mesma forma que os urbanos para a previdência social.
A proposta dos constituintes era que o Tesouro Nacional
subsidiasse este gasto com recursos provenientes das diversas fontes
previstas na composição do Orçamento da Seguridade. Uma vez
que este foi descaracterizado, o pagamento dos benefícios passou
a contar apenas com a receita das contribuições de empresários e
trabalhadores, o que era, necessariamente, insuficiente. Daí a
geração de um déficit nas contas do INSS, o qual deu ensejo, logo
em seguida, à defesa, pelo campo conservador, de uma reforma da
previdência social. Esta passou a ser vista, então, como um “doente
terminal”; e seu equacionamento só seria viável através da
privatização, tal como ocorrera no Chile, em 1981.
Você já ouviu falar sobre a reforma previdenciária ocorrida no
Chile no ano de 1981?
Então, esta foi a primeira e mais radical reforma
previdenciária do continente latino-americano, tendo privatizado o
sistema e alterado seu regime financeiro, de repartição simples para
capitalização individual, à semelhança do sistema brasileiro de
previdência complementar privada. O novo
sistema oferece apenas os benefícios de pensão
por velhice, pensão por invalidez e pensões a
dependentes e tem apresentado taxas de cobertura
inferiores às do anterior, além de altos custos de
administração. Isto vem reduzindo sobremaneira
o valor das pensões.
Contudo, foi com a Constituição de 1988,
que previa, no seu “Ato das Disposições
Constitucionais Transitórias” (Art. 3º), uma
revisão de seu próprio texto, num prazo de 5 anos,
em 1993, que foram colocadas em debate diversas
propostas de reforma previdenciária “a la
chilena”, ou seja, privatização e individualização
do sistema de previdência social.
Tal proposta, entretanto, não prosperou,
tendo encontrado fortes resistências, tanto no
parlamento, quanto no interior da própria
burocracia previdenciária. Um dos argumentos
contra ela foi o que alegava os altos “custos de
transição” desta reforma. Estes custos foram
estimados em cerca de 2,5 vezes o PIB do País, o
que tornaria a privatização contraproducente.
O déficit nas contas da previdência, por outro lado, levaram
o Ministério da área a suspender os repasses que fazia ao Ministério
da Saúde, desde o início dos anos 1980. Isto fez com que esta área
sofresse uma enorme crise de financiamento em 1993, que só foi
parcialmente sanada com a criação da CPMF (Contribuição
Provisória sobre a Movimentação Financeira), cuja receita seria em
princípio exclusivamente destinada à área. Com o tempo, contudo, o
governo federal também transferiu parte desta receita para outras
áreas, deixando a Saúde em condições bastante precárias.
Custos de transição
Referem-se à privatização de um sistema
previdenciário público para outro
de natureza privada, que tem de
passar por uma transição, na qual
aqueles trabalhadores que já contribuíram
para o sistema público, ao se
aposentarem, devem receber seus
benefícios das mãos do Estado. Mas,
como após a privatização o Estado não
mais arrecada contribuições (que passam
a ser feitas diretamente às instituições
previdenciárias privadas), ele
tem de pagar os benefícios com recursos
próprios, sem possuir receitas
específicas para isso. Os "custos de
transição" consistem, portanto, da
despesa com que o Estado tem de arcar
para pagar as aposentadorias e
pensões, sem cobertura de receita.
Fonte: Elaborado pela autora.
Saiba mais

O desempenho do gasto social nos governos de FHC
foi um pouco melhor do que o das duas gestões que
lhe antecederam, especialmente no primeiro mandato
(1995-1998). A estabilização da moeda, a partir do
Plano Real, permitiu certo nível de crescimento da
economia e do consumo, aumentando as receitas de
impostos e contribuições.
Apesar disso, os investimentos sociais permaneceram
submetidos às políticas de ajuste macroeconômico e foram, em
grande medida, redirecionados para programas sociais focalizados.
Por focalização entendemos a eleição de um segmento específico
da população como alvo de uma política ou programa social – como
os mais pobres, os portadores de deficiências, os idosos, ou qualquer
outro grupo delimitado segundo critérios.
Contrastando com as políticas focalizadas, temos as políticas
universais, que se aplicam a toda a população, sem restrições de
qualquer natureza. O Sistema Único de Saúde, por exemplo, é
universal, já que todos os brasileiros (ou estrangeiros no País) têm
direito ao acesso a ele.
A orientação para conferir prioridade a políticas focalizadas,
assim como a de ampliar a participação do setor privado na
provisão dos serviços sociais, em forma de empresas ou ONGs,
decorria das recomendações do “Consenso de Washington”, que
então se espalhavam por toda a América Latina. Esta orientação,
por sua vez, viria a distanciar ainda mais a política social praticada
do modelo universalista previsto na Constituição, alimentando, com
intensidade ainda maior, um debate entre grupos de acadêmicos e
operadores políticos em torno da dicotomia “universalismo x
focalização” das políticas sociais.
Assim, temos de um lado os focalistas, para quem os
programas sociais universalizados – isto é, bens e serviços sociais
essenciais ofertados a toda a população de uma certa localidade,
pelo Estado – são caros, ineficientes e geradores de incentivos
perversos para a economia. A aposta é de que um desempregado
que tenha direito a receber um seguro-desemprego por muito tempo
não vai se preocupar em procurar emprego, aumentando a taxa de
desemprego global e comprometendo a eficiência alocativa do
mercado de trabalho (CAMARGO, 2003).
Em outra direção, postam-se os universalistas, que temem
que a utilização de programas focalizados, em substituição à
garantia de direitos sociais universais, congele as desigualdades e
perpetuem a pobreza, jamais realizando a inclusão. Seja porque
o fim destes direitos desprotege aqueles que só escapam da
condição de pobres pelo acesso que têm a bens e serviços sociais
públicos (os “quase pobres”, como já vimos anteriormente); seja
porque a qualidade destes bens e serviços tende a decair muito, na
medida em que seu público-alvo tem menor visibilidade e, portanto,
menor capacidade efetiva de vocalizar seus interesses. A focalização
consagraria ainda a separação entre serviços sociais “para os que
podem e os que não podem pagar”, aprofundando as desigualdades
e o apartheid social.
O fato é que a política social brasileira se tornou, de 1988
para cá, um composto de medidas e ações universalistas – como a
Saúde e a Educação Fundamental –, com outras de caráter
meritocrático – os programas contributivos da previdência social –,
bem como com programas focalizados em alguns segmentos da
população (como o Bolsa Família e o Benefício de Prestação
Continuada), sem que haja necessariamente uma efetiva
complementaridade entre estes dispositivos.
Agora retorne ao período presidencial de Fernando Henrique
Cardoso e pesquise sobre o gasto social federal do período.
Observe que, apesar de a política social ser composta de
medidas e ações universais, esta pode vaiar bastante de um dado
período para outro. Foi o que aconteceu no mandato de Fernando
Henrique Cardoso. Em seu primeiro mandato (entre 1995 e 1998),
ele apresentou um crescimento positivo de 22%, mas este mesmo
gasto teve uma queda de 1% ao final do segundo mandato (2002)
(CASTRO e CARDOSO Jr., 2005).
vVeremos mais sobre este
tema na Unidade 2.

Contribuíram para isso dois acordos firmados com o FMI –
um em 1998 e outro 2002 – que estabeleciam metas rígidas de
superávit fiscal; bem como a crise cambial que afetou o País, no
início de 1999. Ambos implicaram uma desaceleração da economia
e profundos cortes nos investimentos públicos, especialmente na
área social. O valor do gasto social do governo FHC em 2002 foi o
mesmo do realizado em 1998, R$ 219 bilhões, segundo apuração
de Castro e Cardoso Jr. (2005), uma vez que, nos anos anteriores
(de 1999 a 2001), tal número se apresentou ainda inferior (R$ 213
bilhões, em média).
Já no período presidencial de Lula, que principiou em 2003,
a situação não mudou muito. Em seu início, o governo não só
manteve os rigores do ajuste fiscal, como os aprofundou, na medida
em que fixou metas de superávit primário superiores às que teriam
sido acordadas com o FMI. O próprio ano de 2003 foi muito
negativo para a economia brasileira, em consequência dos temores
do mercado financeiro quanto à eleição de Lula.
Contudo, a partir de 2004, o crescimento foi retomado,
mantendo trajetória ascendente até o final de 2008, quando se
abateu sobre a economia global a crise originada da bolha
imobiliária americana. Neste período, a arrecadação do Tesouro –
tanto a tributária, quanto a previdenciária – cresceu
expressivamente, permitindo maior folga nas contas públicas.
O governo Lula preferiu manter a mesma orientação
de seu antecessor, de focalização dos gastos sociais. O
carro-chefe de sua política no setor tem sido o Programa
Bolsa Família, voltado aos segmentos mais pobres.
No restante da área social, de acordo com vários analistas,
os gastos públicos totais encolheram. Considerando Pochman (2005),
em 2004, o orçamento social do governo federal teria sido reduzido,
em termos reais (isto é, considerando, na sua evolução, as perdas
ocasionadas pela inflação e pelo aumento da população), a apenas...


v O real se desvalorizou
muito em relação ao
dólar, e a atividade
econômica sofreu
recessão, só vindo a se
recuperar no final do
ano.

...91,7% do seu valor real em 2001. Lavinas (2007) aponta, sobretudo,
a redução dos investimentos “em algumas funções imprescindíveis
para a redução da desigualdade, como habitação e saneamento”.
Vale notar, contudo, que os cortes foram seletivos, não
atingindo as rubricas da previdência e da assistência social, que
são garantidas constitucionalmente. A renda distribuída através
destes dois programas tem sido fundamental para a redução das
desigualdades e expansão do consumo no País, nos últimos anos.
Complementando......
Esta Unidade não esgota os temas abordados, sob nenhuma hipótese.
Assim, é desejável que você complemente seu estudo com a leitura de
outras obras. Oferecemos abaixo um conjunto de títulos, entre os quais
estão alguns clássicos da literatura neste campo.
��A atualidade de T. H. Marshall no estudo da cidadania no Brasil – de
Lea G. Souki. Porto Alegre: Civitas, v.6, n.1, 2006. Disponível em:
. Acesso
em: 17 out. 2009.
��Estado de Bem-Estar Social: padrões e crises – de José Luís Fiori.
Disponível em: .
Acesso em: 17 out. 2009.
��Transformações do Estado Capitalista: refletindo e refratando
transformações na questão social – de Andrea Valente Heidrich.
Disponível em:
article/viewFile/1019/799>. Acesso em: 17 out. 2009.
��Bem-estar, pobreza e desigualdade de renda: uma avaliação da
evolução histórica e das disparidades regionais – de Ricardo Paes e
Barros; Renata Mendonça; Renata P. N. Duarte. Disponível em:
/www.ipea.gov.br/pub/td/td0454.pdf>. Acesso em: 17 out. 2009.
��Seguridade Social e Combate à Pobreza no Brasil – artigo de Maria
Lúcia Werneck Viana publicado no livro Proteção Social: dilemas e
desafios. Lendo este texto você vai entender melhor a importância das
transferências de renda do Estado às populações mais vulneráveis,
para a redução da pobreza e das desigualdades sociais.
��A política social na América Latina: o que ensinam as experiências
recentes de reformas? – de Sonia Draibe, publicado no livro Reforma
do Estado e Democracia no Brasil, organizado por Eli Diniz e Sérgio
Azevedo e editado pela UnB/ENAP. Neste artigo você vai conhecer
mais sobre o assunto – Chile 1981.

Resumindo
Nesta Unidade, nos dedicamos a explorar alguns conceitos
essenciais ao debate contemporâneo sobre a Questão
Social e seu enfrentamento pelo Estado. Assim, analisamos
os significados dos termos Pobreza, Desigualdade, Exclusão
e Cidadania, tal como são utilizados na literatura; e
as relações que estes termos guardam entre si.
Tratamos ainda da história da Proteção Social promovida
pelo Estado, assim como a das políticas sociais no Brasil,
desde os seus primórdios, buscando deixar clara a importância
da política e do Estado como instâncias necessárias
à superação da dívida social que o País tem com grande
parte de seus cidadãos.

Atividades de aprendizagem
Na próxima unidade trataremos de um conjunto de políticas
sociais em sua especificidade, analisando as características
de seu desenho, bem como avaliando seu desempenho
recente.
1) Com base em tudo o que você leu até agora, comente (no máximo
em duas páginas) a afirmação: A existência de grandes contingentes
abaixo da linha de pobreza no Brasil não será resolvida apenas
com o crescimento econômico do país.
2) Reúna um grupo de amigos ou familiares numa tarde de lazer e
proponha um debate a partir das seguintes perguntas:
a) O que é justiça?
b) O que é um direito?
c) É justo alguém receber aposentadoria do INSS sem jamais
ter feito qualquer contribuição?
Considere que estas respostas variam conforme os princípios
éticos e políticos com que as pessoas se identificam. Assim,
procure anotar as diversas respostas surgidas.
3) Comente, em duas páginas, a relação entre Justiça e Cidadania,
tendo em vista o conceito de cidadania de Marshall apresentado
nesta Unidade.
Estado e Problemas Grafica GPM.pmd 69 10/12/2009, 18:45
O Estado e os problemas contemporâneos
70
Especialização em Gestão Pública Municipal
4) Com base no que vimos nesta Unidade, argumente, em cerca de
duas páginas, sobre as seguintes afirmações:
a) Keynesianismo e Estado de Bem-Estar Social são duas
faces da mesma moeda.
b) Cada modelo de Estado de Bem-Estar Social, tal como
elaborado por Esping-Andersen, responde a diferentes
princípios de justiça e promove a inclusão social de maneira
distinta.
5) Elabore um texto, em uma página, sobre as vantagens e desvantagens
dos diversos modelos de Estado de Bem-Estar Social frente
às condições macroeconômicas impostas pela “Nova Ordem Mundial”
(globalização, “financeirização” etc.).
6) Com base no que você estudou até agora, discorra sobre as relações
entre o modelo de proteção social instaurado no Brasil na Era
Vargas e as desigualdades sociais que encontramos hoje no País.
7) Tendo em vista o esquema classificatório de Esping-Andersen,
procure identificar as características da Política Social brasileira
antes e depois da Constituição de 1988. Utilize como ferramenta
o quadro a seguir.
PERÍODO
Antes de 1988
Depois de 1988
GRAU DE
UNIVERSIDADE
GRAU DE PARTICIPAÇÃO
DO ESTADO
GRAU DE
DESCOMODIFICAÇÃO DA
FORÇA DE TRABALHO
8) Discuta, em três a quatro páginas, a relação entre pobreza, desigualdade
e gasto público.

UNIDADE 2
OBJETIVOS ESPECÍFICOS DE APRENDIZAGEM
Ao finalizar esta Unidade você deverá ser capaz de:
�� Conhecer as principais políticas sociais em curso no país;
�� Ter acesso a diversas fontes de informação, bases de dados e
literatura especializada sobre as políticas sociais aqui tratadas,
bem como as que não tratamos diretamente;
�� Interpretar a lógica das políticas sociais implementadas; e
�� Contribuir para sua critica.


POLÍTICAS SOCIAIS DO
ESTADO BRASILEIRO


Unidade 2 – Políticas Sociais do Estado Brasileiro
73
Módulo Básico
INTRODUÇÃO
Conforme indicamos na apresentação desta disciplina, os
problemas sociais selecionados para este estudo não esgotam o
conjunto de componentes do drama social brasileiro contemporâneo.
Sua escolha justifica-se pela centralidade que os temas escolhidos
têm adquirido nas políticas públicas brasileiras, nos últimos anos.
Ademais, são questões que frequentemente têm se traduzido em
ações, cujo sucesso depende de fortes articulações entre os diversos
níveis de governo no País.
As políticas de Saúde e Educação – é até desnecessário dizer
– são de absoluta importância neste curso, não só pelo papel
estratégico que têm na construção do futuro do País – um futuro
mais justo e mais igual para os brasileiros –, mas também pelo fato
de que, desde a Constituição de 1988, sua execução ter sido
descentralizada para os Estados e Municípios, com transferência
de responsabilidades e recursos a estas esferas de governo.
A política de Assistência Social, incluindo aí a questão da
Segurança Alimentar, tem merecido explícita prioridade
governamental, desde, pelo menos, a chegada ao poder do
Presidente Lula. A criação (ou remodelagem) de programas de
combate à fome e de transferência de renda são evidências desta
prioridade, do mesmo modo que trazem à luz a enorme
complexidade e os inúmeros dilemas envolvidos na sua
implementação.
A temática do Trabalho e da Geração de Renda, já de longo
tempo consagrada ao âmbito das preocupações sociais do Estado
brasileiro, ganhou contornos especiais a partir do final do século
XX, quando o padrão de acumulação capitalista sofreu profundas
modificações. A partir delas, alteraram-se significativamente os
modos e as regras de acesso, pelos indivíduos, ao trabalho e aos
direitos sociais tradicionalmente vinculados a ele. Não fossem estas
razões suficientes para sua inclusão nesta agenda de trabalho, vale
a pena lembrar ainda que boa parte das políticas públicas referidas
ao mundo do trabalho impõe uma ativa cooperação de todas as
instâncias governamentais.
Com esta agenda – que, vale repetir, não esgota o conjunto
de desafios contemporâneos que o Estado tem a enfrentar –
acreditamos que você, estudante, poderá alcançar um razoável
entendimento das principais políticas sociais em curso no País. Além
de obter condições de acesso a diversas fontes de informação, bases
de dados e literatura especializada, para seguir adiante em seus
estudos e práticas relativos ao tema.

EDUCAÇÃO
A despeito dos significativos avanços alcançados nos anos
recentes pela Educação brasileira, esta área de política ainda
apresenta grandes desafios a serem enfrentados pelo Estado
brasileiro. Mesmo que tenhamos atingido praticamente a
universalidade da cobertura da população em idade escolar do nível
fundamental (estudantes de 7 a 14 anos), a qualidade do ensino e
da gestão escolar e das desigualdades nas condições de acesso e
permanência das crianças e jovens na escola e nas universidades
ainda são problemas graves.
Você conhece os dados estatísticos a respeito da educação no
Brasil?
O analfabetismo atinge ainda cerca de 10% dos brasileiros
com 15 anos ou mais (IBGE, 2006); as matrículas no nível médio
são insuficientes; o acesso ao ensino superior é restrito; e a
repetência no País é alarmante. Apenas 47% dos jovens entre 15 e
17 anos cursavam o ensino médio no ano de 2006, enquanto 15,5%
destes estavam fora da escola, sem ter completado esta fase
educacional (IPEA, 2008).
Para o ensino superior, dados de 2003 indicam que havia,
no Brasil, apenas 213 estudantes universitários para cada grupo
de 10 milhões de habitantes, taxa muito inferior à da Argentina
(531/10 milhões), da Bolívia (347/10 milhões) ou do México (225/
10 milhões) (IPEA, 2008). Ademais, segundo Soares (2007), a
comparação internacional indica que só em Angola – país africano
vitimado por guerra civil há mais de 20 anos –, o fenômeno da
repetência é tão expressivo quanto no Brasil.
Contudo, não há dissenso quanto ao fato de que a melhoria
dos indicadores educacionais seja condição essencial à promoção
do desenvolvimento e à redução das desigualdades sociais no Brasil.
E é também evidente que o País tem feito importantes esforços neste
campo, nos últimos 20 anos, tendo logrado alguns bons resultados,
já mencionados.
Contudo, é preciso que continuemos trabalhando – e muito!
Neste sentido, esta seção procura oferecer algumas
informações e reflexões que contribuam para que o servidor e o
gestor público, especialmente dos governos subnacionais, possam
avaliar criticamente a política nacional de educação e colaborar
na implementação e no aperfeiçoamento das soluções propostas.


CONFIGURAÇÃO INSTITUCIONAL DO SISTEMA
EDUCACIONAL BRASILEIRO

O sistema educacional brasileiro está estruturado conforme
especificado no Quadro 2:
v
Não há político ou
autoridade pública que
não defenda a prioridade
da Educação como
política pública.

Educação infantil
Ensino
fundamental
Ensino médio
e médio
profissionalizante
Ensino superior
destinada a crianças de 0 a 6 anos de idade. Compreende
creche e pré-escola.
abrange a faixa etária de 7 a 14 anos e com duração de 8
anos. É obrigação do Estado garantir a universalidade
da educação neste nível de ensino.
Duração variável entre 3 e 4 anos.
Compreende a graduação e a pós-graduação. Os cursos
da graduação têm duração de 4 a 6 anos. Na pós-graduação,
a duração varia de 2 a 4 anos, para os cursos de
mestrado, e entre 4 a 6 anos, para o doutorado.
Além desses níveis, o sistema educacional atende aos
alunos portadores de necessidades específicas, preferencialmente,
na rede regular de ensino. Esse atendimento
ocorre desde a educação infantil até os níveis
mais elevados de ensino. Atende, também, ao jovem e
ao adulto que não tenham seguido ou concluído a
escolarização regular, na idade própria, através dos cursos
e exames supletivos.
Quadro 2: Sistema educacional brasileiro
Fonte:
A inscrição da Educação como “direito de todos” já constava
da Constituição de 1934, elaborada nos primórdios da Era Vargas.
Datam daquele período, também, os primeiros esforços para a
implantação de um sistema educacional de âmbito nacional. Mas
foi apenas na Constituição de 1988 que ela tornou-se um “dever
do Estado”, devendo ser provida de forma universal, ao menos no
nível básico. Da mesma forma, é nesta Carta que foram definidas
as responsabilidades e competências dos diversos níveis de governo
para sua oferta, bem como as fontes de recursos para o seu
financiamento.
A configuração do sistema educacional brasileiro, tal como
o conhecemos hoje, foi dada ainda pela Lei de Diretrizes e Bases
da Educação (Lei n. 9394 de 20/12/1996 – LDB), aprovada pelo
Congresso Nacional em 1996. Esta Lei introduziu diversas
exigências aos entes federados, tais como as relativas a um gasto
mínimo por aluno, que cada um deve realizar, em sua jurisdição.
Além disso, estabeleceu o aumento do número de dias letivos em
todos os estabelecimentos do País (para 200 dias letivos, perfazendo
um total de 800 horas-aula anuais); a progressiva ampliação da
carga horária diária da educação básica para tempo integral; e
medidas destinadas à maior qualificação e valorização dos
profissionais do ensino.
De acordo com a CF-88 e com a LDB, as competências
governamentais na área da Educação se distribuem conforme o
Quadro 3, apresentado a seguir. A oferta privada ou filantrópica
de serviços educacionais também é garantida por estes instrumentos
legais, desde que normatizada e supervisionada pelos Conselhos
de Educação, em nível federal, estadual e municipal.
Quadro 3: Política educacional – atribuições segundo esferas de governo
Fonte: Adaptado de IPEA (2007)
Dada a estrutura federativa do Estado brasileiro, o princípio
que rege o sistema público de ensino é o da colaboração e da
solidariedade entre as esferas de governo. Cada uma delas possui
sua própria estrutura regulatória (os Conselhos já referidos) e
executiva (Secretarias Estaduais e Municipais de Educação).
O Ministério, por sua vez, organiza-se de forma bastante ampla,
dispondo de órgãos internos que atuam, de acordo com suas
competências, nos diversos níveis e nas diversas modalidades de ensino.
Assim, fazem parte do organograma do MEC a seguintes
Secretarias:

Secretaria de Educação Básica (SEB): é
responsável pela educação infantil e pelos ensinos
fundamental e médio.
Secretaria de Educação Profissional e
Tecnológica (SETEC): comanda a política de
ESFERA
União
Estados
Municípios
ATRIBUIÇÕES
Organizar o sistema federal de ensino, financiar as instituições
federais, bem como apoiar técnica e financeiramente
(de forma supletiva e redistributiva) as instituições estaduais,
municipais e do Distrito Federal.
Atuar prioritariamente no ensino fundamental e médio.
Atuar prioritariamente no ensino fundamental e na educação
infantil.
educação profissional e tecnológica, em todo o
território nacional.
Secretaria de Educação Superior (SESU): encarregada
da Política Nacional de Educação Superior,
incluindo a manutenção, supervisão e o desenvolvimento
das Instituições Públicas Federais de Ensino
Superior, bem como a supervisão das instituições privadas
neste nível.
Secretaria de Educação Continuada, Alfabetização
e Diversidade (SECAD): criada em 2004,
ocupa-se da alfabetização e educação de jovens e
adultos, educação do campo, educação ambiental,
educação escolar indígena e diversidade étnico-racial,
com o objetivo de promover a redução das desigualdades
e oportunidades de grupos sociais considerados
minoritários na sociedade brasileira.
 Secretaria de Educação Especial (SEESP): tem
a atribuição de implementar no País a Política Nacional
de Educação Especial, voltada para alunos portadores
de deficiências, transtornos globais de desenvolvimento
e com altas habilidades (superdotação).
Secretaria de Educação a Distância (SEED):
dedica-se a estimular e fomentar a incorporação das
tecnologias de informação e comunicação aos métodos
didático-pedagógicos e a disseminar as técnicas de
educação a distância.
O Ministério conta ainda com diversos órgãos vinculados,
cujas tarefas variam desde a oferta direta de educação (básica,
especial e superior), até a realização de pesquisas e avaliações sobre
o sistema de ensino, em todo o País, como é o caso do Instituto
Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio
Teixeira (INEP), cujo trabalho tem sido fundamental nos esforços
de melhoria da qualidade da educação no País. Observe a Figura 5.

Figura 5: Organograma do Ministério da Educação
Fonte:
O INEP realiza regularmente as seguintes avaliações:
Censo Escolar: levantamento de informações
estatístico-educacionais de âmbito nacional, realizado
anualmente.
Censo Superior: coleta, anualmente, uma série de
dados do ensino superior no País, incluindo cursos de
graduação, presenciais e a distância.
Avaliação dos Cursos de Graduação: é um
procedimento utilizado pelo MEC para o
reconhecimento ou a renovação de reconhecimento
dos cursos de graduação representando uma medida
necessária para a emissão de diplomas.
Avaliação Institucional: compreende a análise dos
dados e das informações prestados pelas Instituições
de Ensino Superior (IES) no Formulário Eletrônico, e
a verificação, in loco, da realidade institucional, dos
seus cursos de graduação e de pós-graduação, da
pesquisa e da extensão.
 Sistema Nacional de Avaliação da Educação
Superior (Sinaes): criado pela Lei n. 10.861, de 14
de abril de 2004, o Sinaes é o novo instrumento de
avaliação superior do MEC/Inep. Ele é formado por
três componentes principais: a avaliação das
instituições, dos cursos e do desempenho dos
estudantes.
Exame Nacional do Ensino Médio (Enem): exame
de saída facultativo aos que já concluíram e aos
concluintes do ensino médio, aplicado pela primeira
vez em 1997.
Exame Nacional Para Certificação de Competências
(Encceja): é uma proposta do Ministério da
Educação de construir uma referência de avaliação
nacional para jovens e adultos que não puderam concluir
os estudos na idade própria. Sistema Nacional de Avaliação da Educação
Básica (Saeb): pesquisa por amostragem, do ensino
fundamental e médio, realizada a cada dois anos.
Além dos levantamentos estatísticos e das avaliações, o INEP
promove encontros para discutir os temas educacionais e
disponibiliza também outras fontes de consulta sobre educação.

v
Conheça mais acessando
o site do INEP:
www.inep.gov.br/
institucional/>.

RECURSOS E FINANCIAMENTOS
A Constituição de 1988 estabeleceu que a União, os Estados
e os municípios deveriam vincular parte das receitas de seu
orçamento ao custeio da educação, em todos os níveis de ensino.
Esta medida, a rigor, já constava da Constituição de 1934, mas foi
suspensa durante o regime militar, voltando a vigorar em 1983, por
força de uma Emenda Constitucional promulgada pelo Congresso
(EC 24/1983). Em 1996, outra Emenda, desta vez aplicada à
Constituição de 88 (EC/96), determinou que as vinculações se
dessem segundo as alíquotas de 25% para a União e 18% para
Estados e municípios.
Atualmente, o financiamento à educação no País provém de
diversas fontes, sendo sua composição múltipla e complexa. A cada
nível governamental correspondem fontes distintas, oriundas dos próprios
orçamentos públicos, bem como de transferências federais e estaduais.
O Quadro 4, a seguir, apresenta de forma sintética estas fontes.
Quadro 4: Fontes de custeio da educação no Brasil
Fonte: Adaptado de IPEA (2007)
O MEC centraliza boa parte das receitas e dos recursos
destinados à política educacional, redistribuindo-os através de
transferências. O grande “caixa” da Educação é o Fundo
Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE), onde
estas receitas são reunidas. Organizado como uma autarquia ligada...


DENOMINAÇÃO
Recursos orçamentários
(18%);
Contribuições Sociais
(salário-educação, Contribuição
sobre o Lucro
Líquido, Contribuição
para a Seguridade Social;
receitas de loterias);
Fundo de Combate à
Pobreza;
Outros.
ESTADOS
Recursos orçamentários
(25%);
Transferências do Gov.
Federal (Fundef, FNDE,
entre outras);
Contribuições sociais
(salário-educação estadual);
Outros.
MUNICÍPIOS
Recursos orçamentários
(25%);
Transferências estaduais
e federais
(Fundef e FNDE).
Outros.
v
O Previsto no artigo 212,
§ 5º, da CF-88, a partir da
Emenda Constitucional n.
14 de 1996. Foi
regulamentado pelas leis
n. 9.424/96 e 9.766/98,
pelo Decreto n. 6003/
2006 e pela Lei n. 11.457/
2007.

...ao Ministério da Educação, aplica recursos nos Estados, no Distrito
Federal, nos municípios e em organizações não governamentais para
atendimento às escolas públicas de educação básica, além de
financiar diversos programas, tais como o Programa Nacional de
Alimentação Escolar, o Programa Nacional do Livro Didático, o
programa Brasil Alfabetizado, entre outros.
Os recursos para tais programas são oriundos de parte das
receitas vinculadas constitucionalmente nos orçamentos públicos,
além de diversas outras fontes. Dentre estas podemos destacar o
Salário-Educação, uma contribuição social prevista na
Constituição Federal de 1988 paga pelas empresas e entidades públicas
vinculadas ao Regime Geral da Previdência Social, com base na alíquota
de 2,5% sobre o valor total das remunerações dos trabalhadores com
carteira assinada. Do total de recursos do Salário-Educação, 10% são
destinados ao FNDE. Os outros 90% são distribuídos entre os diversos
entes governativos, em parcelas correspondentes a 1/3 para o governo
federal e 2/3 para Estados e municípios.
Desde 2004, a cota estadual e municipal dessa contribuição
é integralmente redistribuída entre o Estado e seus municípios, de
forma proporcional ao número de alunos matriculados no ensino
fundamental, nas respectivas redes de ensino, conforme apurado
pelo censo educacional. Esta mudança na distribuição dos recursos,
estabelecida pela Lei n. 10.832/2003, visava aumentar a
participação dos municípios no consumo do “bolo”, pois antes a
definição das parcelas dos municípios dependia de lei estadual.
Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação
Básica e de Valorização dos Profissionais da Educação
É proveniente também da Emenda Constitucional n. 14/96
(parágrafo 3º) a obrigatoriedade da União de fazer dotações de
recursos complementares a Estados e municípios, para educação
básica. Para tanto, foi criado inicialmente o Fundo de Manutenção
e Desenvolvimento do Ensino Fundamental (Fundef) e de
Especialização em Gestão Pública Municipal
Valorização do Magistério, que vigorou até 2006.
Desde então, o Fundef foi substituído pelo Fundeb.
Este dispositivo tem como principal
objetivo promover a redistribuição dos recursos
recolhidos pela União, destinados à educação,
complementando o que é aplicado pelos Estados
e municípios, nas regiões em que o gasto por
aluno é inferior a um valor mínimo, estipulado
pelo MEC a cada ano. A dotação é feita de acordo
com o número de alunos da educação básica,
aferido pelo censo escolar do ano anterior. O MEC
espera que sua aplicação seja fiscalizada por
conselhos especificamente criados para esse fim,
nas diversas esferas de governo, os quais são
integrados por representantes dos governos e da
sociedade civil.


DESAFIOS DO SISTEMA EDUCACIONAL BRASILEIRO
Os desafios colocados para a educação brasileira são
diversos e têm sido objeto de muita reflexão, assim como de esforços,
de diversos atores sociais – não apenas governos, mas entidades
da sociedade civil.
Para enfrentá-los, o MEC lançou em 2007 o Plano de
Desenvolvimento da Educação (PDE), colocando à disposição
dos Estados, municípios e do Distrito Federal instrumentos de
avaliação e implementação de políticas destinadas à melhoria da
qualidade de ensino. Para participar do programa, os governos
subnacionais elaboraram seus respectivos Planos de Ações
Articuladas (PAR), nos quais definem metas e ações passíveis
de acompanhamento público e controle social.
O PDE estrutura-se em torno de quatro eixos de ação, os
quais abrangem:...


Fundeb/Fundef
Criado pela Lei n. 9.424, de 24 de dezembro
de 1996, dispõe sobre o Fundo
de Manutenção e Desenvolvimento do
Ensino Fundamental e de Valorização
do Magistério, na forma prevista no
art. 60, § 7º, do Ato das Disposições
Constitucionais Transitórias da CF-88.
O Decreto n. 2.264, de 27 de junho DE 1997,
regulamenta a Lei n. 9.424 no âmbito
federal, e dá outras providências. Para
saber mais, consulte a Lei em
www. p e d a g o g i a e m fo c o . p r o . b r /
l9424_96.htm> e
p e d a g o g i a e m f o c o . p r o . b r /
d2264_97.htm>. Acesso em: 18 out. 2009.
Saiba mais
v
Para uma apresentação
completa do programa,
acesse o Livro do PDE
disponível em:
portal.mec.gov.br/
arquivos/pdf/
livromiolov4.pdf>.

... Educação Básica; Educação Superior;
 Educação Profissional; e Alfabetização e Educação Continuada.
A cada um desses eixos, correspondem ações, expressas em
programas novos ou redesenhados.
É importante destacarmos ainda que o Plano foi concebido
a partir da identificação e priorização de algumas mazelas da
Educação nacional. Sem pretender esgotar o elenco destes desafios,
apontamos a seguir alguns que merecem destaque.
Mais qualidade na Educação Básica
A quase universalização do ensino fundamental no País,
evidenciada pelo fato de que, já em 2003, 97% das crianças entre
7 e 14 anos encontravam-se matriculadas na escola, não cumpriu
ainda o maior propósito do sistema educacional neste nível, que é
o de garantir aos estudantes as habilidades de leitura e escrita, bem
como a de efetuar as operações matemáticas básicas.
O sintoma mais alarmante deste fato é o chamado
analfabetismo funcional, que se caracteriza pela incapacidade
do indivíduo para interpretar o que lê. Este afeta boa parte das
crianças oriundas principalmente das escolas públicas. Segundo
dados do Sistema Nacional de Avaliação da Educação
Básica (Saeb) de 2003, 60% dos alunos do 5º ano destas escolas
apresentavam desempenho “crítico”ou “muito crítico” em Língua
Portuguesa (IPEA, 2007). Em 2002, o analfabetismo funcional
atingia cerca de 26% dos brasileiros com 15 anos ou mais, segundo
o IBGE.
A defasagem, a repetência e a evasão escolar também
incidem fortemente sobre o sistema, comprometendo a continuidade
da escolarização das crianças e jovens, no País. Dados de 2005
(INEP/MEC apud IPEA, 2007) indicavam que apenas 54% dos
estudantes que ingressaram no ensino fundamental em 1997...
v
Mais informações sobre
a metodologia do SAEB
você encontra em:

download/imprensa/
2005/censoescolar/
relatorio_qualidade.doc>
e
www.pedagogiaemfoco.pro.br/
esaeb.htm>.

...concluiriam este ciclo em 2004 – ou seja, no período de 8 anos,
previsto para este ciclo de ensino.
De acordo com o censo escolar de 2007, cerca de 30% dos
alunos dos anos finais do ensino fundamental tinham idade superior
a 14 anos, o que significa que estariam passando mais tempo neste
nível do que o adequado. Isto é ainda mais grave no Nordeste, onde
é de quase 40% a proporção de alunos com mais de 14 anos nesta
situação. Essas distorções decorrem das altas taxas de repetência
no ensino fundamental, tendo como uma de suas repercussões a
evasão escolar.
Por outro lado, essa situação se reflete também no reduzido
número de ingressantes no ensino médio, em idade apropriada (15
anos). Segundo a PNAD de 2006 (IBGE, 2006), havia no País
10.424.755 pessoas de 15 a 17 anos, das quais apenas 47,7%
estavam frequentando o ensino médio. A boa notícia contida nestes
dados é que este percentual praticamente dobrou em relação a 1996,
quando apenas 24% desta população chegava ao ensino médio.
Contudo, apenas 37% dos que ali ingressavam conseguiam concluir
a etapa (IPEA: Radar Social, 2005).
É importante destacarmos, com base nos dados do
IPEA, que no caso brasileiro o cumprimento da etapa
do ensino médio atinge uma população muito menor
do que nos demais países latino-americanos, ainda
que esteja aumentando, em termos de frequência
líquida, ou seja: o número de matriculados, na faixa
etária adequada, em relação ao total da população
desta faixa etária.
A qualidade no Ensino Médio, principalmente nas escolas
públicas, também é baixa, o que está evidenciado nas informações
colhidas pelo Saeb (INEP/MEC, 2004, apud IPEA, 2007). Segundo
esta fonte, houve redução do desempenho dos alunos tanto em
Língua Portuguesa, quanto em Matemática, entre os anos de 1995
e 2003 (IPEA, 2007).
Estes problemas estão na mira do PDE, e a partir da
implementação das ações nele previstas o governo espera que tal
quadro esteja modificado pelo menos até o ano de 2022. Para isso,
desenvolveu um indicador de qualidade para medir o desempenho
dos alunos e das escolas de educação básica de todo o País – o
IDEB – que permite, além de acompanhar os avanços alcançados,
detectar as escolas e regiões que mais precisam de apoio.
O Índice de Desenvolvimento da
Educação Básica (IDEB) foi criado em 2007,
e seu cálculo leva em conta dois números: o
primeiro, expressa o desempenho apresentado
pelos estudantes em avaliações específicas,
promovidas pelo Instituto Nacional de
Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio
Teixeira (INEP). O segundo é oriundo das taxas
de aprovação de alunos em cada escola.
O índice varia de 0 a 10, e foi medido pela
primeira vez em 2005, antes mesmo da sua institucionalização.
Nesta primeira avaliação, a média obtida pelo conjunto de escolas
brasileiras foi de 3,8. A meta do governo é que este índice chegue a
6,0 até o ano de 2022, valor estimado para o índice de qualidade
dos países capitalistas desenvolvidos. Em 2007 já havíamos atingido
a média de 4,2, considerada acima das expectativas. Neste sentido,
há grande esperança do MEC que o País atinja a meta estabelecida
antes do prazo previsto.
Ampliação do acesso à Educação Profissional e Superior
A pouca oferta tem sido o maior gargalo para a expansão
de ensino profissional técnico no País, sobretudo se comparada à
sua demanda potencial. Constituída pelo total de estudantes do
Ensino Médio, mais aqueles que frequentam os programas de
Educação de Jovens e Adultos (EJA), esta demanda era atendida
em apenas 11%, no ano de 2006 (INEP/MEC apud IPEA, 2008).


IDEB
O IDEB é calculado por escola, e, a
partir delas, são calculadas as médias
regionais e nacional. Para conhecer
mais sobre o IDEB, acesse o site
< h t t p : / / p o r t a l . m e c . g o v . b r /
index.php?option=com_content&view=
article&id=180&Itemid=286>.
Saiba mais

Além de insuficiente, a distribuição de vagas
neste nível também é bastante desigual no território
brasileiro. Cerca de 26% delas estavam no
Sudeste, enquanto apenas 8% se
encontravam no Nordeste do País, no mesmo
ano de 2006.
O foco do PDE está voltado especialmente
para este ponto e, segundo dados do
Educacenso 2008, o ensino profissional e
tecnológico cresceu, naquele ano, 14,7% em relação
a 2007, tendo sido o segmento que mais expandiu
seu número de matrículas, entre todos os níveis. A educação profissional
associada ao ensino médio teve aumento de 19,6%, enquanto
aumentaram em 10,5% as vagas preenchidas por aqueles
que já tinham concluído o ensino médio.
Segundo o próprio MEC, esse crescimento se deu
especialmente pelo aumento da oferta das redes estaduais, já que a
rede federal de escolas técnicas encontra-se ainda, em grande parte,
sendo ajustada às novas metas. O objetivo do Ministério é levar
214 novas escolas técnicas ao País até 2010, localizadas nas diversas
regiões brasileiras.
O baixo acesso à educação Superior no Brasil, por sua
vez, não se deve à pouca oferta de vagas em
Instituições, de maneira geral; mas à oferta limitada
de vagas em Instituições Públicas.
Cerca de 50% das vagas existentes no ensino superior
privado do País não foram preenchidas em 2004. Entre as vagas
ocupadas nestas instituições, apenas 7% o eram por estudantes
oriundos de famílias com renda familiar per capita de um salário-mínimo.
Nas instituições públicas, este percentual era de pouco mais de 15%.

Embora a taxa de frequência líquida (conforme definida
acima) neste nível de ensino tenha aumentado significativamente
entre 1996 e 2006 (em cerca de 117%), o número de estudantes de
graduação no País não passava, no último ano do período, de 12%
da população na faixa etária apropriada – jovens entre 18 e 24
anos. A expectativa do Plano Nacional de Educação, aprovado pelo
Congresso em 2001, era de que este percentual cheguasse a 30%,
em 2011.
Além de reduzida, a inserção de jovens neste nível de ensino
é também bastante desigual, em função da renda familiar. Aqueles
provenientes de famílias com até um salário-mínimo mensal
representavam 4% da população universitária, em 2006; enquanto
os ligados a famílias com mais de 5 salários-mínimos eram quase
60% desta população.
As dificuldades de acesso ao ensino superior no Brasil,
portanto, estão fortemente associadas aos diferenciais de renda da
população, o que o PDE tem procurado combater, tanto pelo
aperfeiçoamento de mecanismos de financiamento à educação em
instituições privadas – através do PROUNI, por exemplo –, como
pela expansão de vagas nas Instituições públicas e pelo incremento
à modalidade de ensino a distância, da qual este Curso é um bom
exemplo. 

v
Para mais informações
sobre o PROUNI, acesse

mec.gov.br/
PROUNI/
Oprograma.shtm>.

SAÚDE
O acesso ao tratamento da saúde no Brasil se caracterizou,
até os anos 1980, por se limitar aos trabalhadores vinculados ao
sistema previdenciário, por meio de relações de trabalho formais e
regulares (emprego de carteira assinada). Somente nos anos 80,
com a redemocratização do País, a política de saúde sofreu
mudanças que resultaram na universalização do acesso e na criação
de um novo sistema: Sistema Único de Saúde (SUS). Não cabe
aqui uma retrospectiva histórica abrangente sobre o tema. Mas,
para uma melhor compreensão dos limites e sucessos do modelo
brasileiro de gestão em saúde, é preciso analisá-lo, ainda que
rapidamente, a partir de alguns movimentos anteriores.


A REFORMA SANITÁRIA: UM MARCO NA POLÍTICA
DE SAÚDE BRASILEIRA

Conforme vimos na seção Políticas de Proteção Social no
Brasil, da Unidade 1, até o início dos anos 1980 a assistência
médico-hospitalar no Brasil era provida pelos Institutos
Previdenciários, instituições que, por delegação do Estado,
ofereciam à classe trabalhadora do País a assistência médica, além
aposentadorias e pensões, mediante contribuições de trabalhadores
e empresários.
O Estado, através de seus Ministérios e Secretarias, atuava
na chamada “saúde pública” – campanhas de vacinação, de
erradicação de doenças –, assim como na assistência médica e
hospitalar a indigentes, ou seja, todos aqueles excluídos da
cobertura previdenciária.
Desta forma, como é amplamente referido na
literatura, o sistema de saúde brasileiro desenvolveuse
de forma dual e fragmentada.
O crescimento da rede hospitalar privada no País, ao longo
da história, está bastante associado a este fato, uma vez que o
sistema previdenciário privilegiava a compra de serviços de
fornecedores privados, em detrimento do investimento em estrutura
própria de equipamentos e serviços. Além da contratação de leitos
e serviços aos particulares, o Estado também fazia parcerias com a
iniciativa privada por meio dos “convênios-empresa”, através das
quais as empresas empregadoras contratavam serviços e
estabelecimentos para a prestação direta de assistência médica a
seus empregados, cabendo à instituição previdenciária pública a
fiscalização dos padrões de atendimento e a participação no custeio
das despesas (DONNANGELO, 1975).
O Ministério da Saúde, por seu turno, caracterizou-se, por
muitos anos, por ocupar uma posição periférica no conjunto das
agências públicas (MELO, 1993).
O modelo assistencial, até a década de 80, era direcionado
à cura individual e ficou cada vez mais dependente da utilização
de tecnologia e do recurso a especialistas, os quais foram
progressivamente ocupando o espaço da clínica geral e favorecendo
a grande expansão do mercado de trabalho médico e das escolas
médicas ao longo da década de 1970.
A crise internacional do petróleo, nos anos 1970, agravou o
quadro econômico e social do País, explicitando problemas e
reforçando as lutas sociais e políticas por redemocratização. No
âmbito da Saúde, uma série de medidas de caráter compensatório...


vPara mais informações,
acesse o portal do
Ministério da
Saúde:
susdeaz/topicos/
topico_det.php?co_topico=
287&letra=A>.

...foi tomada, voltadas às camadas pobres
da população, particularmente àqueles
que viviam nas áreas rurais e nas
periferias das cidades (MENDES, 1994).
Neste sentido, foram reforçadas
ações no âmbito da atenção primária,
através das quais buscava-se conciliar
a demanda por inclusão com a
contenção dos gastos públicos. Eram,
contudo, ações ainda restritas, mas a
ênfase no atendimento primário viria a
se tornar central no modelo de saúde
gestado a partir do movimento
denominado de Reforma Sanitária
brasileira, que se organiza no final da
década de 70.
Não cabe, no espaço desta
disciplina, procedermos um relato
alentado sobre a Reforma Sanitária, até
porque muitos estudiosos já o fizeram,
com brilhantismo (ver especialmente o
texto de Sarah Escorel, de 2005, As
origens da Reforma Sanitária, publicado
em “Saúde e Democracia”, Nísia
Trindade Lima et al (org), Rio de
Janeiro: FIOCRUZ, p. 59-81). Contudo,
vale registrar que este foi um movimento
vitorioso, no sentido de que logrou
inscrever, na Constituição de 1988, o
direito a saúde como dever do Estado,
bem como garantir a montagem de um sistema assistencial público,
integrado e universal.
Vale mencionar ainda que tudo isto foi feito “na contramão
da história”. Ou seja, a Reforma Sanitária brasileira forçou a
reconfiguração do sistema de saúde, segundo moldes universalistas,
no exato momento em que a doutrina neoliberal, hegemônica nos
Níveis de atenção em saúde. No SUS, o cuidado com a saúde está ordenado
em níveis de atenção, que são a básica, a de
média complexidade e a de alta complexidade.
Atenção básica: Constitui o primeiro nível de atenção
à saúde e engloba ações de caráter individual
ou coletivo. Sendo o primeiro contato dos usuários
com o SUS, é realizada pelas especialidades
básicas da Saúde, que são: clínica médica,
pediatria, obstetrícia, ginecologia, inclusive as
emergências referentes a essas áreas. Cabe também
à atenção básica proceder aos encaminhamentos
dos usuários para os atendimentos de
média e alta complexidade.
Atenção de Média Complexidade: Ações e serviços
que demandem disponibilidade de profissionais
especializados e o uso de recursos tecnológicos
de apoio diagnóstico e terapêutico.
Atenção de Alta Complexidade: Procedimentos que
envolvem alta tecnologia e alto custo. Consistem,
entre outros, de: assistência ao paciente portador
de doença renal crônica; assistência ao paciente
oncológico; cirurgia cardiovascular; cirurgia
vascular; procedimentos da cardiologia
intervencionista; assistência em traumato-ortopedia;
procedimentos de neurocirurgia.


Para maiores informações acesse o portal do
Ministério da Saúde. Fonte:
s u s d e a z / t o p i c o s / t o p i c o _ d e t . p h p ?
co_topico=287&letra=A)>
Saiba mais

países capitalistas centrais, apregoava a necessidade de rompimento
com o padrão de proteção social público e universal; e ao mesmo
tempo que aprofundava-se, no Brasil, uma séria crise fiscal e
financeira.
Diversos fatores de natureza política e institucional levaram,
nos anos recentes, à frustração de muitas expectativas geradas com
a Reforma Sanitária. Embora ela tenha permitido a criação do SUS
(Sistema Único de Saúde), um dos maiores sistemas públicos de
saúde do mundo (Souza, 2002), o Sistema está longe dos ideais
que o motivaram. Isto vem se refletindo na crescente adesão dos
segmentos mais prósperos da sociedade a alternativas assistenciais
comercializadas no mercado – os Planos de Saúde – caracterizando
um fenômeno que Faveret e Oliveira (1990) chamaram de
“universalização excludente”. Ou seja, um processo de expansão
da cobertura que, contraditoriamente, expulsa do seu consumo
segmentos sociais mais bem situados na estrutura ocupacional e
de rendas.
Não obstante, a Reforma Sanitária tinha como propósito:
expandir a cobertura; propiciar a viabilidade fiscal e financeira do
sistema; melhorar a eficiência, a qualidade e a satisfação dos
usuários; criar novas funções do Estado na formulação e
implementação de políticas públicas de saúde; privilegiar a atenção
básica de saúde, assim como um sistema de referência e
contrarreferência. Esse último tornaria possível através de registros
confiáveis a obtenção de informações completas do paciente, e
criaria um sistema que funcionasse de maneira integrada,
permitindo o acesso a diferentes níveis de atendimento, desde o
básico até o mais complexo.
A instalação da Assembleia Nacional Constituinte, em 1987,
foi apresentada como o espaço privilegiado para discussão deste
novo modelo, e suas bases legais são lançadas no texto
Constitucional de 1988. Sua regulamentação foi concluída em 1990,
pelas Leis n. 8.080 e 8.142, em um ambiente de retrocesso político
das conquistas sociais obtidas na Constituição, conforme
mencionado na Unidade 1.
v
A partir dela foi
estabelecido o SUS, no
qual é adotado um
conceito ampliado de
saúde, que inclui, além
da dimensão biológica
dos indivíduos, suas
dimensões psicológica e
social.

v
Para conhecer o perfil
dos diversos conselhos
de saúde, acesse:
/tinyurl.com/yj67gx7>.


O SISTEMA ÚNICO DE SAÚDE
O novo Sistema Único de Saúde (SUS) prevê a
universalidade e equidade no acesso, a integralidade das suas ações
e a participação social na sua gestão. O princípio da universalidade
significa que, à diferença do que ocorria anteriormente, qualquer
brasileiro tem hoje o direito a serviços públicos de saúde,
independentemente de sua profissão ou de sua contribuição, através
do SUS. Já o da integralidade afirma que os serviços de saúde
devem levar em conta as necessidades de cada indivíduo, tomado
em suas múltiplas dimensões (biológica, psicológica e social).
O princípio da participação social, por sua vez, remete à
intervenção direta da sociedade no planejamento, acompanhamento
e na avaliação dos serviços de saúde. Esta ocorre através dos
Conselhos e das Conferências* de Saúde, que se organizam nos
diversos níveis de governo: nacional, estadual e municipal.
Os Conselhos contam com uma representação paritária de usuários,
governo, profissionais de saúde e prestadores de serviço, cabendolhes
o acompanhamento das ações em saúde, desde o seu
planejamento até a sua fiscalização. Hoje, a atuação destes
Conselhos é um dos itens avaliados pelo Ministério da Saúde para
a transferência de recursos aos municípios.
O sistema integra as ações de todas as instâncias de governo
(por isso ele é Único), prevendo a hierarquização e a regionalização
dos serviços, de modo que o atendimento à população é
responsabilidade compartilhada por municípios, Estados e pela
União, devendo ser provido por instâncias distintas segundo uma
hierarquia de graus de complexidade. Os municípios têm a função
prioritária de oferecer atenção básica, enquanto os demais entes
federados respondem pelos serviços mais complexos e
especializados.


*Conferências – As Conferências,
por sua vez, são
eventos periódicos, com
ampla participação popular,
que definem prioridades
e as formas de
ação da política de saúde.
Nelas são produzidos
relatórios, em que são
identificados os principais
problemas, bem
como os resultados alcançados
pela política.
Fonte: Elaborado pela
autora.

Estrutura Institucional e Financiamento do SUS
Até 1993, o INAMPS era a base física e financeira da nova
política de saúde, o que ocasionou a manutenção da lógica de
financiamento das ações daquela autarquia, nos três primeiros anos
de vigência do SUS: os recursos eram aplicados nas regiões que
mais recolhiam contribuições previdenciárias (Sudeste e Sul),
favorecendo a perpetuação das desigualdades regionais. Pouco antes
da extinção do INAMPS, em 1993, o Ministério da Previdência
deixou de repassar recursos para o SUS, gerando uma profunda
crise de financiamento do sistema, em 1993 e 1994.
Atualmente o SUS é de responsabilidade dos três níveis
de governo, com vinculação constitucional de receitas.
Contudo, 70% destas correspondem a recursos
federais, que são, em sua maioria, repassados para
fundos estaduais e municipais de Saúde, ou pagos
diretamente aos prestadores de serviços.
O Ministério reúne essas receitas no Fundo Nacional de
Saúde e as repassa para Estados e municípios, segundo critérios
que são permanentemente negociados entre os diversos níveis de
governo. Alguns Estados também repassam recursos para municípios e
há a tendência de que estes assumam cada vez mais a responsabilidade
pelo relacionamento com prestadores privados de serviços.
O processo decisório, no âmbito do SUS, culmina com a
instituição de Portarias Ministeriais, feitas em parceria com o
Conselho Nacional de Secretários Estaduais de Saúde (CONASS)
e o Conselho Nacional de Secretários Municipais de Saúde
(CONASEMS). Tais instrumentos definem as competências de cada
nível de governo, bem como os critérios para que Estados e
municípios se habilitem à gestão do sistema em seu território.
Os primeiros documentos estruturantes do sistema foram as
Normas Operacionais Básicas, editadas em 1991, 1992, 1996; e
as Normas da Assistência à Saúde, de 2001 e 2002 (NOB 1991;
NOB 1992; NOB 1996; NOAS 2001; NOAS 2002). Mas, desde
2007 encontra-se em vigor o “Pacto pela Saúde”, documento
que substitui as NOBs e NOASs anteriores, consolidando um
conjunto de reformas institucionais do SUS, negociadas entre as
três esferas de gestão. Os recursos destinam-se, agora, às seguintes
finalidades: Atenção Básica; Média e Alta Complexidade da
Assistência; Vigilância em Saúde; Assistência Farmacêutica; Gestão
(MS, 2008).
O processo de gestão descentralizada que caracteriza o SUS
requer muitas negociações, por causa da grande heterogeneidade
de condições e de interesses das diferentes unidades da federação.
Para realizá-las, o Sistema conta com as Comissões Intergestores,
que são de dois tipos:

Tripartite – CIT, que funciona em nível nacional,
com representantes das três esferas governamentais.

Bipartite – CIB, organizadas nos Estados, com
representantes dos governos estadual e municipais.


O PROGRAMA DE SAÚDE DA FAMÍLIA
Entre as estratégias de maior relevância para a superação
das dificuldades de acesso da população ao sistema de saúde,
encontramos o Programa de Saúde da Família (PSF).
Criado no ano de 1994, o PSF tem como propósito
fundamental fornecer atendimento integral à população, ao nível
básico da assistência. Sua atuação ocorre através do
acompanhamento de famílias residentes em determinado território...
v
Entre outras medidas, o Pacto estabelece uma
nova forma de transferência de recursos entre os entes federados.

...por equipes multiprofissionais formadas por, no
mínimo, um médico de família, um enfermeiro,
um auxiliar de enfermagem e seis agentes
comunitários de saúde. No entanto, os municípios
têm liberdade para formar equipes que incluam
outros profissionais, tais como fisioterapeutas,
dentistas, assistentes sociais etc.
Alguns municípios optam por modelos
próximos, mas não idênticos, ao definido pelo
Ministério. É o caso do município de Niterói (RJ),
que adotou o Programa Médico de Família,
inspirado no modelo cubano.
Falamos em agentes comunitários, mas quem
são estes indivíduos?
São pessoas físicas, com espírito de liderança e de
solidariedade, que conheçam muito bem a comunidade para que
possam, além de atender alguns cuidados primários de saúde,
realizar a mediação entre as famílias atendidas e os profissionais
de saúde. Imagine, por exemplo, que numa visita mensal corriqueira
o agente comunitário identifique a presença de uma gestante. Então,
o agente conversa com ela a respeito da importância do pré-natal,
e faz o encaminhamento para o Centro de Saúde. Ao mesmo tempo,
informa ao Centro de Saúde de sua referência que precisa se
programar para mais esse atendimento.
A inclusão dos Agentes Comunitários de Saúde nas equipes
do PSF decorre do entendimento de que alguns cuidados primários
de saúde podem ser estimulados e acompanhados.
Assim, podemos afirmar que cabe à equipe não só atender
aos pacientes, mas também contribuir para a redução de outros
problemas que possam causar doenças ou comprometer sua
prevenção. Tendo em vista o conceito de saúde adotado (ampliado),
o trabalho do PSF demanda visitas domiciliares às famílias, além
Equipe Cada equipe se responsabiliza pelo acompanhamento de cerca de

3 mil a4 mil e 500 pessoas, ou de mil famílias de uma determinada área, e estas
passam a ter corresponsabilidade no cuidado à saúde. A atuação das equipes
ocorre principalmente nas unidades básicas de saúde, nas residências
e na mobilização da comunidade, caracterizando-se como uma “porta” para o SUS. 


Fonte:
s a u d e . gov. b r / d a b /atenca o b a s i c a .
php#equipes>. Acesso em: 27 out. 2009.
Saiba mais

...de reuniões periódicas para discussão dos problemas sociais
existentes. Entre os resultados positivos da ampliação do PSF – hoje
uma estratégia consolidada nos diversos municípios brasileiros –,
podemos destacar a redução da mortalidade infantil. Pesquisa
realizada pelo Ministério da Saúde em parceria com a Universidade
de São Paulo e com a Universidade de Nova Iorque indica que a
cada 10% de aumento de cobertura pelo PSF, cai em 4,6% o índice
de mortalidade infantil no País.
Por outro lado, o programa apresenta uma fragilidade relativa
à frequente precariedade que caracteriza os vínculos de trabalho
dos profissionais de saúde às equipes do PSF. Constituídas por
profissionais sem vínculos estáveis ou mesmo formais com o SUS,
em alguns casos, as equipes têm, por vezes, altos índices de
rotatividade de pessoal, o que compromete o vínculo pessoal entre
profissionais e pacientes, aspecto este fundamental na concepção
do Programa.


ALGUMAS CONSIDERAÇÕES FINAIS
As mudanças ocorridas no sistema de saúde brasileiro a
partir da Constituição de 1988 tinham como propósito fazer valer
um conceito abrangente de saúde (que leva em conta, além dos
aspectos biológicos do indivíduo, suas dimensões psicológica e
social), além de garanti-la como direito universal de todos os
cidadãos brasileiros.
Contudo, as dificuldades para o seu financiamento,
encontradas desde sempre – e de forma ainda mais grave no
momento de fundação do SUS –, ao lado da renovada força dos
interesses privados vinculados ao chamado “complexo industrial
da saúde” (Bravo, 1998), tem comprometido o avanço deste projeto.


Para saber mais
acesse o site
dtr2004.saude.gov.br/
dab/index.php>.

O sistema de saúde brasileiro vem, crescentemente, sendo
consolidado como um sistema dual, ou híbrido, em que o SUS
atende às parcelas de menor renda da população, enquanto as mais
bem aquinhoadas recorrem crescentemente aos planos e seguros
privados (BAHIA, 2005; HEIMANN et al., 2005a).
Você deve estar se perguntando: e o restante da população?
Segundo dados do Datasus, 49 milhões de brasileiros pagam,
hoje, planos privados de saúde. Esse valor corresponde
praticamente ao mesmo valor que o governo federal gasta no
atendimento de 150 milhões de pessoas pelo SUS (MENDES, 2009).
Estes fatos têm um corolário* dramático: na medida em que sua
clientela é constituída pelos setores com menor poder de vocalização
de suas demandas – os pobres e excluídos –, a defesa do SUS se
fragiliza enormemente.
Por outro lado, a questão do controle social e da participação
popular no SUS sofre também de muitas moléstias. Ainda que todos
os conselhos municipais e estaduais cumpram as exigências formais
estabelecidas pelo Ministério da Saúde para sua instalação, muitos
deles são capturados pelos padrões clientelistas e corporativos que
caracterizam ainda – e infelizmente – as relações Estado-Sociedade,
no Brasil.
O mesmo podemos dizer das formas de inscrição de
participantes e da eleição de delegados para as Conferências de Saúde.


*Corolário – verdade que
decorre de outra, que é
sua consequência necessária
ou continuação natural.
Fonte: Houaiss
(2007).

ASSISTÊNCIA SOCIAL E
SEGURANÇA ALIMENTAR

Até a promulgação da Constituição Federal de 1988 (CF 88),
a Assistência Social no Brasil era prestada em bases voluntaristas
e eventuais, através da filantropia ou de programas governamentais
focalizados sobre clientelas, entre as consideradas mais
necessitadas.
Mesmo após a criação do Ministério da Previdência e
Assistência Social, em 1977, a proteção aos desfavorecidos da sorte
e excluídos do mercado de trabalho era marcada por ações pontuais
e descontínuas, cujos gastos eram condicionados pela política
macroeconômica, estando seus programas permanentemente sujeitos
a cortes. Os benefícios assistenciais ofertados não se configuravam
como direitos dos cidadãos que deles necessitavam, mas como
benesses do governo de plantão, ou caridade de particulares.
Contudo, foi só a partir do novo marco constitucional que a
Assistência Social tornou-se uma política de Estado. Sua
implementação, agora, independe da orientação política do governo
(ou partido político) que ocupa temporariamente o poder: ela é
obrigatória. Ele incorpora a Assistência no sistema de Seguridade
Social, o qual deve ser organizado pelo Estado e provido
universalmente, isto é, a todos os brasileiros.
Ainda faltam recursos públicos em quantidade
suficiente para o governo atender à demanda existente
na área, e saldar a imensa dívida social brasileira.


v A pedra fundamental
desta importante
mudança é o Artigo 194
da CF 88, já mencionado
diversas vezes neste
Curso.

A política de Segurança Alimentar, por sua vez, tem recebido
crescente importância no País nos últimos anos, com a criação do
programa Fome Zero, em 2003, e vem sendo estruturada como
política de Estado, ainda que careça de uma institucionalidade mais
consistente para se tornar mais efetiva. O tema é antigo na agenda
brasileira – tem estado presente, pelo menos, desde a década de 40 –,
mas o seu enfrentamento ainda carece de maior suporte político
entre as elites, o que fica claro pelas dificuldades encontradas na
sua implementação.


PROGRAMAS DE ASSISTÊNCIA SOCIAL
Atualmente, a política de Assistência Social e parte da política
de Segurança Alimentar estão sob a coordenação do Ministério
do Desenvolvimento Social e Combate à Fome (MDS).
Entre a promulgação da Constituição, em 5 de outubro de
1988, e o ano de 2004, quando o Ministério foi criado, a área
transitou por diferentes pastas, tendo sofrido, juntamente com as
áreas da Saúde e da Previdência Social, os efeitos deletérios da
não criação do Ministério da Seguridade Social e da não
regulamentação do orçamento da Seguridade.
Diante do exposto, podemos observar que são diversas as
atribuições atuais do MDS, dentre as quais se destacam:
�� Programa Bolsa Família (PBF), através da
Secretaria Nacional de Renda de Cidadania
(SENARC);
�� Sistema Único de Assistência Social (SUAS),
através da Secretaria Nacional de Assistência Social
(SNAS), onde se inclui o pagamento do Benefício de
Prestação Continuada (BPC); e
vNas próximas seções
aprenderemos mais
sobre os principais
programas
governamentais de
Assistência social,
ligados ao MDS, assim
como sobre o Fome Zero,
visando oferecer a você,
estudante, uma
cartografia das políticas
aqui tratadas.

diversos programas afetos à Segurança Alimentar
e Nutricional, através da Secretaria Nacional de
Segurança Alimentar e Nutricional (SESAN).
Para compreender melhor o arranjo institucional segundo o
qual a política do MDS está organizada, observe a Figura 6.
Figura 6: Organograma do MDS
Fonte: 


O PROGRAMA BOLSA FAMÍLIA
O Programa Bolsa Família (PBF) é um programa de
transferência de renda – talvez um dos mais amplos do mundo –
que beneficia famílias em situação de pobreza (com renda mensal
por pessoa de R$ 60,01 a R$ 120,00) e extrema pobreza (com renda
mensal por pessoa de até R$ 60,00). Ele é uma das medidas da
estratégia Fome Zero, que é coordenada pela Presidência da
República e envolve ações de diversos outros Ministérios, tais como
o Ministério do Desenvolvimento Agrário, o Ministério da Saúde, o
Ministério da Educação, o Ministério da Agricultura, Pecuária e
Abastecimento, do Ministério do Trabalho e Emprego, o Ministério
da Ciência e Tecnologia, o Ministério da Integração Nacional, o
Ministério do Meio Ambiente, o Ministério da Justiça, a Secretaria
Especial de Políticas de Promoção da Igualdade Racial, além do
Ministério da Fazenda.


O fluxograma apresentado na Figura 7, a seguir, representa
a configuração programática do Fome Zero.
Figura 7: Configuração programática do Fome Zero
Fonte:
No âmbito do MDS, o Fome Zero é implementado, entre
outras ações, através do Bolsa Família. Amparado na Lei n. 10.836
(de janeiro de 2004) e no Decreto n. 5.209, (de setembro de 2004),
o programa foi criado pela unificação de diversas bolsas e auxílios
que haviam sido criados no governo Fernando Henrique Cardoso e
nos primórdios do governo Lula, tais como: Bolsa-Escola,
administrado pelo Ministério da Educação; Bolsa Alimentação,
administrado pelo Ministério da Saúde; o Auxílio-Gás, vinculado
ao Ministério das Minas e Energia; e o Cartão Alimentação, já sob
a coordenação do Programa de Segurança Alimentar Fome Zero.
A partir de 2009, pelo Decreto n. 6.917, o pagamento dos
benefícios do PBF às famílias que se enquadram nos critérios de
vPara conhecer mais,
acesse
www.mds.gov.br/
bolsafamilia/
menu_superior/
legislacao_e_instrucoes/
decretos-1>.
Estado e Problemas Grafica GPM.pmd 103 10/12/2009, 18:45
O Estado e os problemas contemporâneos
104
Especialização em Gestão Pública Municipal
renda, já mencionados, impõe algumas condições (as
chamadas condicionalidades do programa). São
elas:
�� Educação: frequência escolar mínima de 85%
para crianças e adolescentes entre 6 e 15 anos e
mínima de 75% para adolescentes entre 16 e 17 anos.
��Saúde: acompanhamento do calendário de vacina
e do crescimento e desenvolvimento para crianças
menores de 7 anos; pré-natal das gestantes; e
acompanhamento das nutrizes na faixa etária de 14 a
44 anos.
�� Assistência Social: frequência mínima de 85% da
carga horária relativa aos serviços socioeducativos para
crianças e adolescentes de até 15 anos em risco ou
retiradas do trabalho infantil.
Os valores pagos pelo programa variam de acordo com a
renda das famílias. O Benefício Básico é de R$ 62,00 (sessenta
e dois reais) e destina-se àquelas consideradas extremamente
pobres, ou seja, com renda mensal de até R$ 60,00 (sessenta reais)
por pessoa. Nele se enquadram inclusive as famílias que não tenham
crianças ou jovens.
O Benefício Variável é de R$ 20,00 (vinte reais) por
mês, por pessoa, até o limite de três benefícios, isto é, até de R$
60,00 (sessenta reais). É pago às famílias com renda mensal de até
R$ 120,00 (cento e vinte reais) por pessoa, desde que tenham
crianças e adolescentes de até 15 anos.
Já o Benefício Variável Vinculado ao Adolescente
(BVJ) é de R$ 30,00 (trinta reais) e pago a todas as famílias do
PBF que tenham adolescentes de 16 e 17 anos frequentando a escola.
Cada família pode receber até dois benefícios variáveis vinculados
ao adolescente.
A despeito de seu reconhecimento como programa social de
grande alcance (atinge hoje cerca de 11,1 milhões de famílias em
Condicionalidades
A família tem de se comprometer
em manter as crianças e adolescentes,
em idade escolar, frequentando
a escola; a cumprir a vacinação
das crianças entre 0 e 6
anos; e a cumprir a agenda pré e
pós-natal das gestantes e mães
em amamentação. Fonte: Elaborada
pela autora.
Saiba mais
Estado e Problemas Grafica GPM.pmd 104 10/12/2009, 18:45
Unidade 2 – Políticas Sociais do Estado Brasileiro
105
Módulo Básico
v
Para calcular a Cesta
Básica, o DIEESE
desenvolveu
metodologia própria
disponível no texto Cesta
Básica Nacional
Metodologia – de DIEESE
(1993). Disponível em:

rac/metodologia.pdf>.


todos os municípios brasileiros, segundo o MDS) e “bem focalizado”
(por atender a famílias que dele necessitam, e que atendem aos
critérios da lei), o PBF tem recebido críticas de analistas do campo,
em basicamente dois aspectos.
Primeiro, por não se constituir num direito dos cidadãos
que dele necessitam. Ou seja, diferentemente de outros benefícios
(como o Benefício de Prestação Continuada, que veremos adiante),
o Bolsa Família é concedido conforme disponibilidade de recursos
do Orçamento. Sua concessão não é garantida por lei a
qualquer pessoa em estado de pobreza, fome e desnutrição. Caso
fosse assim, aqueles que dele necessitassem poderiam recorrer à
justiça para obtê-lo. Da forma como está regulamentado, o Bolsa
Família é pago apenas àqueles que o Ministério seleciona entre os
mais necessitados, do total daqueles que o pleiteiam. Além disso,
por não ser uma política de Estado, mas de Governo, ele pode
ser cancelado a qualquer momento, desde que não seja mais visto
como prioridade governamental (ZIMMERMANN, 2005).
Um segundo aspecto alvo de restrições são as
condicionalidades impostas. Embora pretendam buscar um
compromisso das famílias com a redução intergeracional da
pobreza, as condições relativas à Saúde e Educação nem sempre
podem ser cumpridas, não por displicência dos beneficiários, mas
pela falta de investimentos dos próprios governos (federal, estadual
e municipal), que nem sempre oferecem com adequação os serviços
públicos de saúde e educação (LAVINAS, 2007).
Há, por fim, de acordo com Zimmermann (2005), críticas ao
próprio valor do benefício, que não chega à cifra apurada pelo
Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos
(DIEESE), relativa ao custo de uma Cesta Básica, – ou seja, um
conjunto de alimentos de consumo essencial para um trabalhador.
O Benefício de Prestação Continuada de Assistência Social
A instituição do BPC é uma das principais medidas de
política social instituídas pela CF88, não só pelo número de pessoas
atingidas e o consequente impacto disto no mercado de bens de
consumo. Sua importância reside também na sua
institucionalidade.
Diferentemente do Bolsa Família, o BPC é garantido
constitucionalmente, se configurando como um direito de todos os
cidadãos que não podem mais trabalhar, como não puderam
realizar contribuições à Previdência Social. Sua concessão não está
sujeita a flutuações do orçamento público.
Este benefício consiste no pagamento de 01 (um) saláriomínimo
mensal a pessoas com 65 anos de idade ou mais, e
portadores de deficiências incapacitantes para o trabalho. Em ambos
os casos, a renda per capita familiar deve ser inferior a um quarto
do salário-mínimo.
Falamos do Benefício de Prestação Continuada de Assistência
Social e de seu amparo legal. Mas, a quem compete sua gestão?
Ao Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome
(MDS) compete sua gestão, acompanhamento e avaliação. Já sua
operacionalização está a cargo do Instituto Nacional do Seguro
Social (INSS), na medida em que este órgão previdenciário já
contava com infraestrutura de gestão e pagamento de benefícios,
bem como de aparato pericial para julgar os pleitos. Diferentemente
das aposentadorias e pensões, contudo, o BPC não tem base
contributiva, ou seja: o beneficiário não contribui para o seu custeio.
A fonte dos seus recursos é o Fundo Nacional de Assistência Social
(FNAS), criado em 1995.
O BPC é herdeiro do programa de Renda Mensal Vitalícia
(RMV), instituído em 1974 e extinto em 1991. Este benefício, por
sua vez, era concedido a pessoas com mais de 70 anos que tivessem
feito pelo menos 12 contribuições à Previdência Social, e que não
tivessem condições de trabalhar ou de se aposentar regularmente.
Os últimos benefícios deste programa foram concedidos em 1995 e
permanecerão em manutenção até a morte dos atuais beneficiários.
v O BPC também está
amparado na Lei n.
10.741, de 1º de outubro
de 2003, que institui o
Estatuto do Idoso.

O SISTEMA ÚNICO DE ASSISTÊNCIA SOCIAL
O Sistema Único de Assistência Social (SUAS) constitui-se
na regulação e organização dos serviços, programas, projetos e
benefícios da Assistência Social em todo o território nacional.
Com organização semelhante à do SUS (Sistema Único de
Saúde), este sistema também envolve, para sua implementação,
parcerias com a sociedade civil, além da pactuação entre as
diferentes esferas de governo, onde são negociadas
responsabilidades, competências e a transferência de recursos.
O Sistema emana da Lei Orgânica da Assistência Social
(LOAS), promulgada em 1996, e prevê uma organização participativa
e descentralizada da assistência social, com ações que têm como
foco a família. Estas ações, por sua vez, são de dois tipos:
�� Proteção Social Básica (PSB): destinada à proteção
daqueles que vivem em situação de vulnerabilidade
social, decorrente da pobreza, privação e/ou
fragilização de vínculos afetivo-relacionais e de
pertencimento social.
�� Proteção Social Especial (PSE): voltada para casos
de risco social de média e alta complexidade, tais como
famílias e indivíduos vítimas de abandono, maus-tratos
físicos e/ou psíquicos, abuso sexual, uso de
substâncias psicoativas, cumprimento de medidas
socioeducativas; além de moradores de rua e
trabalhadores infantis, entre outros.
Para a população-alvo da Proteção Social Básica, devem
ser ofertados serviços próximos do seu local de moradia, que
propiciem acolhimento, convivência e socialização de famílias e de
indivíduos, conforme a situação de vulnerabilidade apresentada.
Os serviços devem ser organizados em rede, de modo a inserir esta
clientela nas diversas ações ofertadas.

A concessão do Benefício de Prestação Continuada
(BPC), assim como de outros benefícios eventuais, compõe o
conjunto das ações da PSB. Estas ações são promovidas nos
municípios e no Distrito Federal através dos Centros de
Referência de Assistência Social (CRAS), que são unidades
públicas estatais, localizadas em áreas de maior vulnerabilidade
social. As equipes dos CRAS executam os serviços de proteção
social básica, bem como organizam e coordenam a rede prestadora
de serviços socioassistenciais locais.
Já a Proteção Social Especial (PSE) prevê serviços que têm
estreita interface com o sistema de garantia de direitos, exigindo,
muitas vezes, uma gestão mais complexa e compartilhada com o
Poder Judiciário, o Ministério Público e com outros órgãos e ações
do Executivo. Podem ser organizados em bases locais, em
municípios com maior incidência da violação dos direitos; por meio
de serviços de referência regional, coordenado e executado pelos
Estados; ou por intermédio de consórcios públicos entre
municípios. Suas unidades executivas são os Centros de
Referência Especializados de Assistência Social (CREAS).
Os casos avaliados como de média complexidade requerem
acompanhamento individual e maior flexibilidade nas soluções, em
comparação com aqueles a que se atribui baixa complexidade (alvo
da PBS). Os de alta complexidade, por sua vez, são aqueles que
necessitam de proteção integral, por exemplo, moradia, alimentação,
higienização e trabalho protegido.
A implantação do SUAS tem enorme significado no
contexto das mudanças no padrão de assistência
social no Brasil.
Através da articulação dos governos federal, estaduais,
municipais e do Distrito Federal, em estreita parceria com a
sociedade civil, o SUAS contempla com suas ações cerca de 50
milhões de brasileiros, em todas as faixas etárias, número jamais
alcançado antes da sua existência. Sua implantação foi marcada
pela aprovação, em 2005, da Norma Operacional Básica do SUAS,
pelo Conselho Nacional de Assistência Social (CNAS).


SEGURANÇA ALIMENTAR E NUTRICIONAL
No que diz respeito à Segurança Alimentar e Nutricional, o
MDS desenvolve outras ações que se incluem no Fome Zero através
da Secretaria Nacional de Segurança Alimentar
e Nutricional (SESAN). São elas:
�� Banco de Alimentos;
�� Carteira Indígena;
�� Cisternas;
�� Cozinhas Comunitárias;
�� Distribuição de Alimentos;
�� Educação Alimentar e Nutricional;
�� Programa de Aquisição de Alimentos
(PAA);
�� Restaurante Popular; e
�� Consórcios de Segurança Alimentar e Desenvolvimento
Local (CONSADs).
Estes últimos são organizações formais reunindo municípios,
constituídas por representantes do poder público e da sociedade
civil que desenvolvem diagnósticos e projetos de segurança alimentar
e nutricional e desenvolvimento local. Nos demais Ministérios estão
distribuídos outros importantes componentes do Fome Zero, entre
os quais se colocam: v
Consulte o portal do
Programa Fome Zero
para conhecer a relação
completa das ações
desenvolvidas
www.fomezero.gov.br/>.
CONSADs
Segundo o MDS, existem hoje 40
Consads, distribuídos em 26 Estados
brasileiros, envolvendo 580 municípios
e uma população de mais de 11
milhões de habitantes. Confira a lista
dos municípios brasileiros que pertencem
aos Consads no site
.
Saiba mais

�� A Política Nacional de Alimentação Escolar
(PNAE): através do Ministério da Educação, oferece
pelo menos uma refeição ao dia aos alunos da rede
pública de ensino, da Educação Básica.
�� O Programa Nacional de Fortalecimento da
Agricultura Familiar (PRONAF): liderado pelo
Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento,
desenvolve ações específicas na agricultura familiar,
destinadas à geração de renda no campo e ao aumento
da produção de alimentos para o consumo.
�� A Política Nacional de Alimentação e Nutrição
(PNAN): é desenvolvida pelo Ministério da Saúde, e
seus objetivos são assegurar a qualidade dos alimentos,
promover hábitos alimentares saudáveis, bem como
prevenir e controlar deficiências e doenças associadas
à má alimentação.
A mais recente novidade no âmbito da política de Segurança
Alimentar consiste na mobilização iniciada pelo CONSEA, e
apoiada por entidades públicas e da sociedade civil, para a
aprovação, pelo Congresso Nacional, da Proposta de Emenda
Constitucional que inclui a alimentação entre os direitos sociais
estabelecidos no Artigo 6º da Constituição (PEC-47). De autoria
do senador Antônio Carlos Valadares (PSB/SE), a proposta está
em tramitação desde 2003, o que demonstra desde já a hesitação
do parlamento em garantir tal direito à população brasileira.
Segundo fontes oficiais, os membros do CONSEA acreditam,
contudo, que ela possa vir a ser aprovada ainda em 2009.

ÓRGÃOS COLEGIADOS DAS POLÍTICAS DE ASSISTÊNCIA
SOCIAL E SEGURANÇA ALIMENTAR

As políticas e programas aqui apresentados estão assentados
em arranjos institucionais amplamente participativos, nos quais
figuram conselhos de representantes dos governos e da sociedade
civil, nos diversos níveis da administração pública.
O MDS conta com quatro órgãos colegiados em sua estrutura:
o Conselho Nacional de Assistência Social (CNAS); o
Conselho Gestor do programa Bolsa Família; o Conselho Consultivo
de Acompanhamento do Fundo de combate e Erradicação da
Pobreza; e o Conselho de Articulação de Programas Sociais.
Entre estes, tem especial importância o CNAS, que vamos
aqui abordar especificamente. Instituído pela Lei Orgânica da
Assistência Social – LOAS (Lei n. 8742, de 07 de dezembro de
1993) como órgão deliberativo – ou seja, com poder de decidir
sobre as políticas da área –, está vinculado ao Ministério do
Desenvolvimento Social e Combate à Fome. O CNAS replica-se ao
nível dos estados e municípios, através dos Conselhos Estaduais e
Municipais de Assistência Social Assistência Social.
O CNAS é composto por dezoito membros nomeados pelo
Presidente da República, que têm mandato de dois anos, permitida
uma única recondução por igual período. São eles:
�� nove representantes governamentais, incluindo um
representante dos Estados e um dos Municípios; e
�� nove representantes da sociedade civil, dentre
representantes dos usuários ou de organizações de
usuários, das entidades e organizações de assistência
social e dos trabalhadores do setor, escolhidos em foro
próprio sob fiscalização do Ministério Público Federal.
O CNAS é presidido por um de seus integrantes, eleito dentre
seus membros, para mandato de um ano; é permitida uma única
recondução por igual período. Conta também com uma Secretaria
Executiva, com sua estrutura disciplinada em ato do Poder Executivo.
No âmbito da Segurança Alimentar figura o CONSEA,
instalado em 30 de janeiro de 2003. Tem caráter consultivo e
assessora o Presidente da República na formulação da política. É
formado por 57 conselheiros (38 representantes da sociedade civil
e 19 ministros de Estado e representantes do Governo Federal),
além de 23 observadores convidados. Seu presidente é nomeado
pelo Presidente da República para mandato de dois anos. Sua
secretaria é chefiada pelo Ministro do Desenvolvimento Social.
v Para compreender
melhor esta conjuntura
volte ao organograma do
MDS que apresentamos
anteriormente.

POLÍTICAS PÚBLICAS DE TRABALHO
E GERAÇÃO DE RENDA

O acesso ao trabalho digno, bem remunerado e vinculado a
benefícios de proteção social é cada vez mais raro no mundo
contemporâneo.
No Brasil, particularmente, estas referências não alcançam mais
do que a metade da população trabalhadora. Aqui, a informalidade
sempre foi alta e decorre do próprio modelo de industrialização e
modernização adotado no País, desde os anos 1930.
Conhecer um pouco do processo que nos legou a atual
configuração do mercado de trabalho vai lhe ajudar não só a
compreender as políticas adotadas atualmente para ajustar este
mercado, mas também o imenso debate que se trava no campo
sobre a adequação ou não destas medidas. É este o objetivo
desta seção.


O MUNDO DO TRABALHO NA VIRADA DO SÉCULO XXI
A partir de meados da década de 1970, como já nos
referimos, o sistema capitalista viveu um conjunto de mudanças –
redução das taxas de crescimento, globalização, financeirização e
introdução de novas tecnologias na produção – que afetaram
profundamente o mercado de trabalho, em todo o mundo. Além do
desemprego, teriam ocorrido, segundo Antunes (2000), verdadeiras
metamorfoses* no mundo do trabalho, que resultaram na adoção
de novas formas de organização e gestão da força de trabalho, na
redução numérica da classe operária industrial e na precarização
do trabalho.
O fordismo, modelo de organização do trabalho industrial
que predominara até os anos 1970, é substituído por novos
processos de trabalho, cunhados a partir de experiências até então
periféricas, como o toyotismo, sistema forjado na empresa japonesa
Toyota que acabou por se propagar mundialmente.
Segundo Ricardo Antunes (2000), as principais
características do toyotismo seriam:
�� Processo produtivo flexível: o trabalhador é
polivalente e opera várias máquinas ao mesmo tempo.
O contraste com o fordismo se estabelece na medida
em que, sob este último, o trabalhador era especialista,
cumpria uma só função, diante da linha de produção.
�� Trabalho em equipe: um conjunto de operários opera
um conjunto de máquinas e busca soluções, em
conjunto, para eventuais problemas, formando-se uma
integração horizontal na organização da produção. No
sistema fordista, o operário da linha de produção
remetia-se a seu supervisor imediato, este a seu
gerente, e assim sucessivamente, segundo a hierarquia
da empresa. Tal organização constituía uma integração
vertical no processo produtivo.
�� Produção em pequena escala: de produtos
diferenciados, dirigidos a consumidores específicos (ou
a nichos de mercado), ao passo que, no fordismo,
produziam-se mercadorias padronizadas, em grande
quantidade, para uma massa de consumidores.
�� Estoque mínimo (just in time): enquanto a
organização da produção fordista supunha a...


*Metamorfose – mudança
relativamente rápida
e intensa de forma, estrutura
e hábitos que ocorre
durante o ciclo de vida
de certos animais. Fonte:
Houaiss (2007).

...manutenção de grandes estoques de peças e insumos,
a reposição destes, no toyotismo, se dá apenas após a
venda do produto.
Diante do exposto, podemos afirmar que, em vez de um
sistema de relações de trabalho institucionalizado, garantidor de
proteção e de direitos ao trabalhador, o toyotismo prevê relações
diretas e acordos individualizados entre empresas e empregados, e
regulação minimalista, a pretexto de favorecer a melhor eficiência
alocativa do insumo trabalho.
Ao lado da redução numérica de trabalhadores, este conjunto
de práticas teria colocado em xeque, também, o papel dos
sindicatos e seu poder de barganha, na medida em que enfraquecem
a identidade coletiva do trabalhador.
Este novo paradigma de produção faz emergir o tema
da flexibilização das relações de trabalho, colocando
em pauta a discussão sobre a desregulamentação do
mercado de trabalho, ou seja, a eliminação das regras
e leis de proteção ao trabalhador.
Para os críticos desta proposta, a desregulamentação implica
um trabalho precário, isto é, trabalho efêmero, instável, incerto,
sem proteção social e/ou com salários muito baixos, como afirmam
Antunes (2000); Belluzzo, (1996); Cardoso (2000); Mattoso (1996).
Vale registrarmos, ainda, que a flexibilização das relações
de trabalho foi introduzida nas economias centrais em condições
muito específicas, em ambientes onde vigiam sistemas de proteção
muito amplos e generosos.
Assim mesmo, na maior parte dos países da Europa (com
poucas exceções, entre as quais a Inglaterra, de Thatcher) as
mudanças introduzidas foram exaustivamente negociadas com
entidades de trabalhadores e empresários, através de instituições
sólidas de representação e de intermediação de interesses destes
grupos (sindicatos e associações empresariais). Contudo, apesar
da redução de alguns benefícios trabalhistas, foram preservados,
nestes casos, padrões básicos de relações e condições de trabalho,
assim como de seguridade social (MATTOSO e OLIVEIRA, 1996).
No Brasil, essas ideias chegaram para valer à agenda política
a partir do início do governo Fernando Henrique Cardoso, em 1995.
No bojo das reformas estruturais voltadas para o ajuste da economia
brasileira ao novo ambiente econômico internacional, foram
sugeridas mudanças na legislação trabalhista do País, considerada
“enrijecedora” do mercado de trabalho, por causa dos altos custos
que impunham às empresas.
Tal legislação daria ensejo ao desemprego e à
informalidade em nossa economia, por não favorecer
a mobilidade dos trabalhadores entre ocupações e
setores de atividade.
Segundo esta ótica, deveriam ser minimizadas as barreiras
para a contratação e demissão de trabalhadores, bem como o ajuste
de salários, em função da produtividade e das flutuações do
mercado (CAMARGO, 1996; PASTORE, 1997).
Por outro lado, críticos destas propostas entendiam que os
problemas de nosso mercado de trabalho estariam menos associados
ao seu marco jurídico-legal, e mais ao fraco desempenho recente
da economia, bem como ao processo de sua modernização, a partir
dos anos 1930, que teria excluído grandes contingentes da força de
trabalho do acesso a bons empregos.
Esse argumento será mais bem explorado nas próximas seções,
quando trataremos da configuração do mercado de trabalho
brasileiro; do marco legal que estabelece os parâmetros para
o seu funcionamento; e do seu desempenho nos anos recentes.

ESTRUTURA E FUNCIONAMENTO DO MERCADO DE
TRABALHO NO BRASIL

Existe um grande consenso entre estudiosos quanto à ideia
de que nosso mercado de trabalho não apresenta grandes barreiras
a demissões e contratações, pois apesar de a legislação impor alguns
custos a elas, estes custos seriam baixos (CARDOSO, 2000).
O mercado de trabalho brasileiro teria, ainda, como
principais características, uma grande heterogeneidade e
segmentação, seja do ponto de vista das relações de trabalho, seja
sob a ótica da estrutura das ocupações.
O primeiro aspecto – heterogeneidade das relações de
trabalho – se expressaria em dois níveis:
�� uma grande multiplicidade de relações contratuais –
trabalhadores com carteira assinada, trabalhadores
sem carteira, trabalhadores terceirizados, servidores
públicos civis e militares; e
�� uma enorme variedade de formas de apropriação de
renda pela População Economicamente Ativa
(PEA) – que não se constituem exatamente como
trabalho assalariado, por exemplo empregadores,
trabalhadores por conta própria, empregados
domésticos.
Quando falamos sobre o Mercado de Trabalho, é importante
destacarmos que este campo de estudo se utiliza de conceitos
específicos para designar os diferentes segmentos da população,
em função de sua participação no processo produtivo. São eles:
�� População em Idade Ativa (PIA): é uma
classificação etária que compreende o conjunto de
todas as pessoas teoricamente aptas a exercerem uma
atividade econômica. No Brasil, a PIA é composta
por toda população com 10 ou mais anos de idade e
Especialização em Gestão Pública Municipal
subdivide-se em População Economicamente Ativa e
a População não Economicamente Ativa.
�� População Economicamente Ativa (PEA):
compreende o potencial de mão de obra com que pode
contar o setor produtivo, isto é, a população ocupada
e a população desocupada.
�� População Ocupada: aquelas pessoas que trabalham,
incluindo:
�� Empregados: pessoas que trabalham para um
empregador ou mais, cumprindo uma jornada
de trabalho, recebendo em contrapartida uma
remuneração em dinheiro ou outra forma de
pagamento (moradia, alimentação, vestuário,
etc.). Incluem-se entre as pessoas empregadas
aquelas que prestam serviço militar obrigatório e
os clérigos. Os empregados são classificados
segundo a existência ou não de carteira de
trabalho assinada.
�� Conta Própria: aqueles que exploram uma
atividade econômica ou exercem uma profissão
ou ofício e não têm empregados.
�� Empregadores: aqueles que exploram uma
atividade econômica ou exercem uma profissão
ou ofício, com um ou mais empregados.
�� Não Remunerados: pessoas que exercem uma
ocupação econômica, sem remuneração, por pelo
menos 15 horas na semana, ajudando a um
membro da unidade domiciliar em sua atividade
econômica, ou ajudando instituições religiosas,
beneficentes ou cooperativas, ou, ainda, como
aprendiz ou estagiário.
�� População Desocupada: pessoas que não têm
trabalho, mas estão dispostas a trabalhar, e que, para
isso, tomam alguma providência efetiva (consultando
pessoas, jornais, etc.).

Diante do exposto, podemos afirmar que a População não
Economicamente Ativa (PNEA) ou a População
Economicamente Inativa (PEI) fazem referência às pessoas
não classificadas como ocupadas ou desocupadas, ou seja, pessoas
incapacitadas para o trabalho ou que desistiram de buscar trabalho
ou não querem mesmo trabalhar. Incluimos aqui os incapacitados,
os estudantes e as pessoas que cuidam de afazeres domésticos.
Além dos “desalentados”, que fazem menção às pessoas em idade
ativa que estão desempregadas e há mais de um mês não buscam
trabalho, uma vez que já o fizeram e não obtiveram sucesso. Temos
ainda o conjunto de pessoas com menos de 10 anos de idade, que
é denomidado como População em Idade Economicamente
Não Ativa (PINA).
Quanto ao segundo aspecto apontado – heterogeneidade
da estrutura das ocupações –, sua ocorrência se deveria à grande
diversidade de formas de organização do setor produtivo, o que
redundaria em práticas de apropriação do trabalho muito diferentes,
como também em níveis de remuneração muito diferenciados.
Tendo em vista este quadro, estudiosos têm distinguido o
mercado de trabalho brasileiro em dois grandes segmentos. Veja o
Quadro 5 a seguir:
Estruturado
Pouco estruturado
Onde se dão as relações empregatícias baseadas
em contratos legais, e cobertas pela legislação trabalhista
e social – ou seja, o “setor formal”.
Prevalecem relações trabalhistas informais e precárias,
além de boa parte das ocupações autônomas.
É chamado também de segmento "informal" do mercado
de trabalho.
Quadro 5: Segmentos do mercado de trabalho
Fonte: Adaptado de Cardoso Jr. (2005)
O núcleo estruturado é composto por trabalhadores com
carteira assinada, regidos pela CLT, inclusive domésticos, além dos
servidores públicos, civis e militares. Ao núcleo pouco estruturado
correspondem os trabalhadores assalariados sem carteira, os
autônomos não agrícolas, os domésticos sem carteira e os não
remunerados.

É no segmento de trabalho estruturado que encontramos os
setores mais dinâmicos da economia, especialmente na indústria,
oferecendo empregos mais bem pagos, estáveis, e que exigem certa
qualificação do trabalhador, ao mesmo tempo que lhe proporcionam
oportunidades de ascensão profissional.
Além de protegidos pela legislação trabalhista e social, os
trabalhadores deste segmento também contam, na maioria das vezes,
com o apoio de sindicatos fortes, uma vez que a força destas
entidades é, em grande medida, decorrente da força econômica
dos setores produtivos em que atuam os trabalhadores de suas
bases.
Assim, os trabalhadores dos setores de ponta (como a
indústria automobilística, por exemplo) contam, na maioria das
vezes, com melhor organização e poder de pressão do que os dos
pequenos empreendimentos, ou mesmo aqueles vinculados ao
comércio e aos serviços.
Agora você que você já sabe o que é segmento de trabalho
estruturado e quem pertence a este segmento, vamos definir o
que vem a ser segmento pouco estruturado.
O segmento pouco estruturado implica uma grande
variedade de ocupações, especialmente nos setores de comércio e
serviços, e também na agricultura, exercidas por trabalhadores de
baixa qualificação, não sindicalizados, que disputam severamente
empregos instáveis e sem perspectivas de ascensão.
Estes trabalhadores – que se constituem na grande base do
mercado de trabalho brasileiro – se apresentam em número bastante
expressivo, superando até a quantidade de pessoas inseridas no
segmento estruturado. Observe no Quadro 6.

Quadro 6: Participação percentual da população ocupada – Brasil, 1999 e 2005
Fonte: PNAD/IBGE, elaboração IPEA.j In: Cardoso Jr. 2007, p. 16
Com base nos dados apresentados,
podemos identificar que cerca de 45,6% da
População Ocupada (PO), em 2005, estava no
núcleo pouco estruturado do mercado de trabalho,
contra 43,1% que se inseriam no segmento
estruturado. Essa diferença já foi maior nos anos
1990: em 1999, 48% dos trabalhadores ocupados
estavam no núcleo pouco estruturado, enquanto
o núcleo estruturado absorvia apenas 39,5% dos
ocupados.
Tal distribuição se reflete, naturalmente,
nos níveis de renda apropriados pela população
trabalhadora. Enquanto os trabalhadores com
carteira recebiam, em média, R$ 820 por mês,
em 2005, os autônomos registravam uma renda
média mensal de R$ 623 e os assalariados sem
carteira, R$ 427. Disto resulta que o índice de
Gini – que mede a desigualdade de renda da
população ocupada – tenha apresentado, para o Brasil, nos últimos
20 anos, valores sempre acima ou próximos de 0,55. Segundo os
dados elaborados pelo IPEA, este índice, em 1995, era igual a 0,585,
tendo caído para 0,544 em 2005. Apesar dessa queda, a
desigualdade de renda continua ainda bastante alta, sobretudo se
consideramos que este índice não inclui os desempregados e
trabalhadores não remunerados. Observe no Quadro 7.
SEGMENTOS MT
Estruturado
Pouco Estruturado
1999
39,5
43,1
2005
48
45,6
Índice de Gini
É uma medida de concentração ou desigualdade
comumente utilizada na
análise da distribuição de renda, mas
que pode ser utilizada para medir o
grau de concentração de qualquer distribuição
estatística. Assim, pode-se
medir o grau de concentração de posse
da terra em uma região, da distribuição
da população urbana de um
país pelas cidades, de uma indústria
considerando o valor da produção ou
o número de empregados de cada
empresa, etc. Fonte:
www. i p e c e . c e .gov.br/publicacoes/
notas_tecnicas/NT_14.pdf>. Acesso
em: 27 out. 2009.
Saiba mais

Quadro 7: Renda média mensal – segmentos do mercado de trabalho Brasil 2005
Fonte: PNAD/IBGE, elaboração IPEA. In: Cardoso Jr. 2007, p. 16
Cabe destacarmos ainda que a grande concentração de renda
se dá no grupo de 1% dos mais ricos da população, os quais se
apropriam de cerca 13% da renda nacional, percentual semelhante
ao que é apropriado pelos 50% mais pobres (ROCHA, 2008).
A desigualdade social está profundamente associada
aos diferenciais de renda da população, oriundos, por
sua vez, da sua heterogênea inserção no mercado de
trabalho.
As raízes desta desigualdade são históricas. A começar pelo
escravismo, que impediu o desenvolvimento de um mercado de
trabalho livre no País, por longos 300 anos. Em meados do século
XIX, se constituía, já, um expressivo contingente de excluídos,
formado por homens brancos pobres e ex-escravos libertos –
estimados em cerca de 8 milhões, para o ano de 1870 –, que tiravam
seu sustento da agricultura de subsistência e de trabalhos urbanos
pesados ou domésticos.
Outro fator de peso nessas desigualdades foi a elevada
concentração da terra nas mãos de grandes proprietários, o que
ainda persiste em boa parte do País, condicionando um padrão de
relações de trabalho arcaicas e insustentáveis no campo, que
resultaram, ao longo do tempo, numa urbanização acelerada e
desordenada.
Quando da abolição, os escravos foram substituídos por mão
de obra europeia, que ocupou os postos de trabalho não só na...


SEGMENTOS MT
Assalariados com Carteira
Autônomos
Assalariados sem Carteira
RENDA MÉDIA MENSAL
R$ 820,00
R$ 623,00
R$ 427,00

...agricultura cafeeira, como também nas áreas urbanas,
especialmente nos polos mais dinâmicos de industrialização do País,
como Rio de Janeiro e São Paulo.
Segundo Kowaric (1994, apud THEODORO, 2005), 92%
dos trabalhadores industriais na cidade de São Paulo, no início do
século XX, eram estrangeiros, sobretudo italianos. No Rio de
Janeiro, os estrangeiros nesta ocupação representavam 43%, sendo
em sua maioria portugueses e espanhóis. A população de exescravos
– negros e mulatos – foi apenas parcialmente incorporada
neste processo de modernização econômica que então se iniciava.
A industrialização e a urbanização do Centro-Sul brasileiro,
no início do século XX, ao se fazerem por meio de mão de obra
estrangeira, introduziram, por sua vez, as desigualdades de cunho
regional no nosso nascente mercado de trabalho. Nos Estados do
Nordeste, onde a estagnação econômica se instalara desde meados
do século XIX, havia poucas alternativas de trabalho assalariado
para ex-escravos. Nas cidades daquela região, que eram poucas e
pequenas, havia apenas serviços instáveis e precários. No campo,
onde vivia cerca de 90% da população, a saída era a agricultura de
subsistência e o trabalho mal remunerado nas fazendas dos
“coronéis”, seja como assalariados, meeiros ou parceiros.
O esforço de industrialização realizado a partir dos anos
1930 também não permitiu a inclusão da maior parte da força de
trabalho disponível. Assim, apesar do grande crescimento
econômico ocorrido entre 1930 e 1980 (com taxas extraordinárias,
que representaram cerca de 380% no período), a incorporação
trabalhadores ao mercado formal de trabalho (de cerca de 30
milhões de pessoas) foi insuficiente. Pois a urbanização, então, se
deu de forma ainda mais acelerada e, mesmo nas cidades mais
dinâmicas, o número de boas oportunidades criadas (com carteira
assinada e benefícios) não atendia a demanda por trabalho.
Podemos identificar aí, portanto, a origem das mazelas das
periferias urbanas do País, marcadas pelo desemprego,...


vComo vimos na Unidade
1, a política trabalhista e
social de Vargas
favoreceu apenas
alguns segmentos de
trabalhadores
industriais.

...subemprego e bolsões de pobreza. Você consegue notar? Em
caso de dúvida, não hesite em consultar o seu tutor.
Nos anos 1980, a história da economia brasileira foi
marcada, como já vimos no início desta seção, pelas crises do
petróleo (1973 e 1979) e da dívida externa (a partir de 1982), que
redundaram em políticas econômicas contencionistas. Estas, por
sua vez, agravaram sobremaneira as condições do mercado de
trabalho.
Mas foi nos anos 1990 que repercutiram aqui no Brasil as
radicais transformações no mundo do trabalho, detonadas não só
pela recessão mundial, mas pelas mudanças tecnológicas
introduzidas nos processos produtivos e pela globalização dos
mercados. Após a liberalização comercial do País, iniciada no
governo Collor (1990-1992) e aprofundada durante o primeiro
período do governo de Fernando Henrique Cardoso (1995-1998),
aumentaram as taxas de desemprego (de cerca de 4% em 1981
para cerca de 10%, em 1998), a população ocupada no segmento
pouco estruturado aumentou, as condições de trabalho se
deterioraram, ao mesmo tempo que a renda média dos
trabalhadores permaneceu estagnada.
Tomando como indicadores apenas as partes da renda
apropriadas pelos trabalhadores e pelos capitalistas, como
proporção do PIB, observa-se que, enquanto em 1991 a
remuneração dos empregados importava em 37% do PIB, e a renda
dos capitalistas, 38,5%, em 1999, a primeira havia caído para
32,8%, enquanto a segunda cresceu para 41,4% (DEDECCA, 2003
apud CARDOSO Jr., 2007).
Contudo, desde o início dos anos 2000 – até o final de 2008,
quando teve início a última crise financeira internacional, originada
nos Estados Unidos – a economia brasileira vinha apresentando
sinais de recuperação que repercutiram favoravelmente sobre o
mercado de trabalho. Mas, foi especialmente a partir de 2004 que
observou-se uma redução significante da informalidade e do
desemprego, o que corresponde também a um aumento da proteção...


v Nesta época tivemos
uma piora significativa
da distribuição da renda.

...social dos trabalhadores, uma vez que mais empregos formais
significam mais trabalhadores cobertos pela previdência social.
Significando também mais receita para o sistema previdenciário,
na medida em que este é financiado pelas contribuições de
trabalhadores e empresas sobre a folha de salários.
Segundo dados do IBGE elaborados pelo IPEA, a taxa de
desemprego caiu de 9,6% em 2001 para 8,7% em 2007. Entre 2001
e 2005, o número de assalariados com carteira aumentou 20%,
passando a integrar cerca de 50,5% da força de trabalho ocupada
(CARDOSO Jr., 2007).
As razões para tantas mudanças – assim como sua
sustentabilidade durante os próximos anos – ainda se
mantêm objeto de debate por parte dos estudiosos.
Para Cardoso Jr. (2007), essas mudanças são atribuídas a
um conjunto de fatos e medidas de política econômica, não
necessariamente voltados para estes objetivos, mas que provocaram
reações positivas no mercado de trabalho. Entre eles se destacam:
a expansão do crédito e o aumento real do salário-mínimo, nos
últimos cinco anos, que aqueceram o mercado interno; o dinamismo
das exportações, desde 2003, que gerou divisas e superávits
comerciais importantes; e pequenas reduções na taxa básica de
juros, que favoreceram os investimentos.
Ao lado disso, teria contribuído para a melhoria geral do
quadro econômico a expansão do gasto social público, seja através
de transferências diretas, como na modalidade do Benefício de
Prestação Continuada ou do Bolsa Família, seja pela contratação
de profissionais para a prestação de serviços públicos, que vem
sendo ampliada também nos anos recentes – principalmente na
área da saúde e da educação básica.
Vale assinalar que essa interpretação acerca do desempenho
recente do mercado de trabalho brasileiro leva em conta, como
Especialização em Gestão Pública Municipal
vimos, o funcionamento da economia como um todo. Trata-se de
uma perspectiva que tem origem nas formulações de Keynes.
Segundo esta visão, o emprego resulta do dinamismo da economia
como um todo, que só pode ser alcançado e sustentado pelo
aumento do consumo. Assim, o pleno emprego deve ser
perseguido, nem que para isto o Estado tenha de investir na
produção e regular as condições de trabalho e emprego. Do mesmo
modo, o Estado precisa manter a segurança econômica dos
eventuais desempregados ou inimpregáveis, através de segurosdesemprego
e da provisão de serviços sociais básicos, não só para
manter os níveis de consumo, no curto prazo, mas para garantir o
crescimento econômico no médio e longo prazo.
Em uma visão distinta colocam-se os
analistas que comungam da teoria econômica
conhecida como neoclássica, segundo a qual
o emprego resulta, fundamentalmente, do livre
encontro entre a demanda por trabalho, por
parte das empresas, e sua oferta, por parte
dos trabalhadores. Este encontro tende a
entrar em equilíbrio, desde que não existam
interferências externas, tais como as
instituições e normas legais de proteção ao
trabalho. Estas, na medida em que implicam
em contribuições obrigatórias dos empregadores sobre as folhas de
salários, ou em mecanismos de substituição de renda (como o
seguro-desemprego), “encareceriam” o trabalho e desestimulariam
os trabalhadores a procurá-lo. Daí a ideia de que, para se combater
o desemprego e a informalidade, elas devem ser minimizadas.
A seguir vamos tratar das instituições e normas que regulam o
mercado de trabalho brasileiro, assim como de seu
desempenho real, o que poderá contribuir para uma melhor
avaliação do potencial explicativo destas duas perspectivas
analíticas, na compreensão do mercado de trabalho brasileiro.
Teoria Econômica Neoclássica
Perspectiva econômica que retoma o liberalismo
clássico de Adam Smith, segundo o
qual o que dava lucros para as empresas
beneficiava a toda a sociedade. Nesta perspectiva,
a empresa privada e os mercados
funcionam melhor quando deixados livres
da regulamentação ou interferência governamental.


Fonte: Elaborado pela autora.
Saiba mais
v Trabalhamos este
assunto na Unidade 1,
em caso de dúvida faça
uma releitura cuidadosa
do tema.

AS INSTITUIÇÕES DO MERCADO DE TRABALHO
NO BRASIL

A modalidade de emprego comumente adotada no setor
privado brasileiro é regida pela Consolidação das Leis do Trabalho
(CLT) e prevê os seguintes direitos:
�� jornada de trabalho de 44 horas semanais;
�� férias anuais de 30 dias, remuneradas;
�� descanso semanal remunerado;
�� décimo terceiro salário;
�� hora extra (cujo valor é 50% acima da hora normal);
�� Fundo de Garantia por Tempo de Serviço (FGTS);
�� impossibilidade de redução nominal dos salários (salvo
se decidido em acordo coletivo); e
�� isonomia de salários para funções iguais.
A CLT aborda ainda indenizações para os casos de demissões
sem justa causa. Ou seja, de acordo com a CLT o empregador tem de:
�� dar aviso prévio de 30 dias (retém-se o trabalhador,
por um mês, dando-lhe algumas horas livres por dia
para procurar emprego, ou se lhe paga um mês de
trabalho, sem que ele o exerça);
�� pagar uma multa de 40% sobre o montante do Fundo
de Garantia por Tempo de Serviço (FGTS);
�� saldar as férias vencidas;
�� pagar as férias proporcionais ao tempo de emprego; e
�� saldar o décimo terceiro salário proporcional aos meses
trabalhados.

Desde 2001 exige-se ainda um pagamento, pelo empregador,
de um valor adicional de 10% dos depósitos do FGTS, para
saneamento financeiro do próprio Fundo, conforme Lei
Complementar n. 110/2001 e Decreto 3914/2001.
O contrato típico de trabalho tem ainda, por característica,
vigorar por tempo indeterminado. A CLT (art. 443) admite contratos
por tempo determinado, por até dois anos, para empresas
transitórias, ou atividades transitórias dentro de uma empresa; ou
ainda para serviços de empreitada. É possível também se contratar
trabalhadores por pouco tempo, através de empresas de trabalho
temporário, que prestam serviços a outras empresas (Lei 6.019/
74). A empresa contratante, neste caso, é quem deve aos
trabalhadores os direitos garantidos pela CLT, com exceção daqueles
relativos à demissão imotivada (CARDOSO e LAGE, 2006).
Já como resultado das pressões por flexibilização das
relações de trabalho no Brasil, foi aprovada em 1998 a Lei n. 9.601/
98, que permitiu contratos temporários, para que as empresas
aumentem seu número de empregados, por um curto prazo. Os
contratos, neste caso, podem ser prorrogados por até dois anos.
Adicionalmente, esta Lei criou o “banco de horas”, ou seja, um
sistema de adequação da jornada de trabalho em função das
necessidades de produção da empresa, determinadas pelas
oscilações do mercado.
Mas, qual será a representatividade destes contratos na
economia formal?
Segundo Cardoso e Lage (2006), o número destes contratos
é pouco expressivo na economia formal (4,3% dos 42 milhões de
vínculos existentes em 2003), atingindo principalmente as empresas
de maior porte (7% dos empregos das empresas com 250 a 499
empregados).
Com efeito, diversos analistas – Barros e Mendonça (1996);
Barros et al., (1997); Montagner e Brandão (1994 apud CARDOSO

2000) – do mercado de trabalho brasileiro detectaram, através de
estudos estatísticos, sua enorme flexibilidade alocativa e salarial.
Isto é, em momentos de crise, nosso mercado de trabalho se ajustaria
facilmente, seja demitindo trabalhadores, seja reduzindo os seus
salários. Esta redução não seria direta, já que a legislação
trabalhista o impede; mas ocorreria através da perda do emprego
formal, seguida pelo ingresso do trabalhador demitido em outra
atividade laborativa, desta vez no mercado informal.
Assim, podemos deduzir que o trabalho precário no setor
privado brasileiro não se deve exatamente à flexibilização das leis
trabalhistas no País, mas, como indicam Cardoso e Lage (2006), à
burla da legislação trabalhista, somada à fragilidade dos
mecanismos de vigilância e punição das condutas irregulares dos
empregadores.
Tais mecanismos são representados pela autoridade nacional
de inspeção do trabalho (a Secretaria Nacional de Inspeção do
Trabalho), pela Justiça do Trabalho e pelos próprios sindicatos dos
trabalhadores.
De acordo com os autores que estamos trabalhando, a
Secretaria Nacional de Inspeção do Trabalho privilegiaria a
fiscalização de grandes empresas do setor formal, enquanto as
pequenas teriam baixíssima probabilidade de ser fiscalizadas, a não
ser que fossem denunciadas pelos trabalhadores. Estes, por sua vez,
só fazem isso se perceberem que não sofrerão retaliações.
Quanto à Justiça do Trabalho, os autores a consideram “um
guardião eficaz de direitos apenas em parte das vezes em que foi
demandada”. Seus trâmites processuais seriam – pelo menos até o
ano 2000, antes da edição da Lei n. 9.957 – muito morosos, levando
pelo menos seis anos, caso todas as instâncias sejam seguidas. Por
fim, os sindicatos, enfraquecidos pela reestruturação produtiva e
consequente diminuição numérica de suas bases, teriam sofrido
grande redução de seu poder de pressão (CARDOSO e LAGE, 2006).
A partir desta análise, podemos reconhecer que o
entendimento do real funcionamento das instituições do mercado
de trabalho é de grande importância para a compreensão da
complexidade dos problemas enfrentados no Brasil, no campo do v
Sejam elas de regulação,
de fiscalização ou de
interpretação das
regras.

...trabalho. Por outro lado, fica claro também que não são as leis de
proteção ao trabalhador que geram o desemprego, já que nem
sempre elas são cumpridas.
De fato, quando observarmos o desempenho do emprego
formal nos anos recentes, vamos constatar a importância de outros
mecanismos, como o aquecimento do mercado interno, por exemplo,
para a melhoria dos seus indicadores.


O SISTEMA PÚBLICO DE EMPREGO NO BRASIL
Desde os anos 1980, com o estímulo da
Organização Internacional do Trabalho (OIT),
difundiu-se nos países de economia capitalista
avançada um conjunto de Políticas de Mercado
de Trabalho, com a finalidade de dar conta do
desemprego estrutural, que então se instalava, a
partir das transformações econômicas e
produtivas do final do século XX.
As políticas públicas de mercado de trabalho
adotadas pelo Brasil desde fins dos anos 1970
e seus efeitos concretos são o tema central do
texto que vamos discutir a seguir.
Para entendermos melhor estas políticas de
Mercado de Trabalho, vamos adotar conforme
definição da Organização Internacional do Trabalho (OIT) a
distinção destas políticas em dois tipos:
�� Passivas: aquelas que assumem o desemprego como
um dado, tendo por objetivo minimizar seus efeitos...


OIT
Agência multilateral ligada à Organização
das Nações Unidas (ONU), especializada
nas questões do trabalho.
Tem representação paritária de governos
dos 182 Estados membros e de
organizações de empregadores e de
trabalhadores. Com sede em Genebra,
na Suíça, desde a data da fundação, a
OIT tem uma rede de escritórios em
todos os continentes. O seu orçamento
regular é proveniente de contribuições
dos seus Estados membros, que
é suplementado por contribuições de
países industrializados para programas
e projetos especiais específicos.
Saiba mais

...nocivos. Das políticas passivas fazem parte o segurodesemprego
e, especialmente no Hemisfério Norte, os
programas de antecipação de aposentadorias.
�� Ativas: que se constituem de programas de
intermediação de empregos que buscam reduzir os
custos de procura e oferta de trabalho; programas de
qualificação da mão de obra, cujo propósito é adequar
a oferta de trabalho disponível às novas necessidades
da produção; bem como programas de financiamento
à produção em pequena escala, que pretendem facilitar
o desenvolvimento de diferentes formas de
autoemprego.
Diante do exposto, podemos afirmar que a intermediação
de empregos é uma estratégia antiga, tendo sido adotada no Brasil
em fins da década de 1970, através da criação do Sistema Nacional
de Empregos (SINE).
A partir de convênios entre o Ministério do Trabalho e os
governos estaduais, foram criados, em todo o País, postos de
atendimento ao trabalhador, onde este poderia buscar vagas de
trabalho ofertadas por diferentes empresas.
Já o seguro-desemprego foi criado em 1986. Contudo, até
1990 os critérios de elegibilidade de trabalhadores a este benefício
eram muito rígidos, reduzindo muito o número de beneficiados.
Temos também os sistemas de formação e qualificação da
mão de obra que datam da década de 1940, tais como:
�� Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial
(SENAI): criado em 1942, é hoje um importante polo
de difusão de conhecimento aplicado ao
desenvolvimento industrial. Parte integrante do
Sistema Confederação Nacional da Indústria (CNI) e
Federações das Indústrias dos Estados, forma recursos
humanos e presta serviços ao setor industrial.
�� Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial
(SENAC): criado em 1946 pela Confederação
Nacional do Comércio (CNC), oferece educação
profissional para o comércio.
Contudo, seu alcance era também limitado, até meados da
década de 1990. Somente a partir de 1990, com a criação do Fundo
de Amparo ao Trabalhador (FAT), constituído pelo Fundo PISPASEP,
que estes programas tomaram maior impulso.
Com certeza muito você já ouviu falar em PIS-PASEP. Mas, o
que você entende por estes termos? Sabe caracterizá-los?
O Fundo PIS-PASEP é resultante da unificação dos fundos
constituídos com recursos do Programa de Integração Social (PIS)
e do Programa de Formação do Patrimônio do Servidor Público
(PASEP), que passou a vigorar em 1976. Tem como objetivos
integrar o empregado na vida e no desenvolvimento das empresas;
assegurar ao empregado e ao servidor público o usufruto de
patrimônio individual progressivo; estimular a poupança e corrigir
distorções na distribuição de renda; e possibilitar a paralela
utilização dos recursos acumulados em favor do desenvolvimento
econômico-social.
Desde 1988, o Fundo PIS-PASEP não conta com a
arrecadação para contas individuais. O art. 239 da Constituição
Federal alterou a destinação dos recursos provenientes das
contribuições para o PIS e para o PASEP, que passaram a ser
alocados ao Fundo de Amparo ao Trabalhador (FAT), para o custeio
do Programa do Seguro-Desemprego, do Abono Salarial e ao
financiamento de Programas de Desenvolvimento Econômico pelo
Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES).
O Seguro-Desemprego e o Abono Salarial (o abono do
PIS) são administrados pelo Conselho Deliberativo do
Fundo de Amparo ao Trabalhador (CODEFAT), vinculado
ao Ministério do Trabalho e Emprego.

As regras de acesso ao seguro-desemprego foram
modificadas, permitindo a inclusão de maior número de
desempregados entre os beneficiados. O SINE também sofreu
melhorias, aumentando as taxas de colocação e recolocação de
trabalhadores. E, a partir de 1996, entrou em funcionamento o
Programa Nacional de Formação Profissional (PLANFOR),
atualmente convertido em Plano Nacional de Qualificação (PNQ).
Através dele são distribuídos recursos do FAT a diversas
organizações públicas e privadas de todo o País, para programas
de capacitação e qualificação da mão de obra.
Em 1994 foi também criado o Programa de Geração de
Emprego e Renda (PROGER) para financiamento a pequenos
produtores urbanos e rurais, a partir do reconhecimento de que a
política de trabalho não deveria se restringir ao setor formal, mas
viabilizar também a melhoria das condições daqueles trabalhadores
que já adotavam estratégias de autoemprego.
A pretensão expressa na política é que os diversos programas
funcionem articulados, de maneira que um trabalhador
desempregado, que requeira o benefício do seguro-desemprego, ou
que pleiteie recursos do PROGER, ingresse também em cursos de
capacitação e qualificação, de maneira a melhorar sua
empregabilidade ou de aperfeiçoar seus produtos e serviços, caso
seja um trabalhador autônomo.
O que você, futuro especialista, entende por empregabilidade?
A empregabilidade é um conceito que se desenvolveu, a partir
da década de 1980, no contexto das grandes mudanças no mundo
do trabalho. Consiste na capacidade que cada trabalhador tem de
obter e permanecer num emprego. Sua inspiração é neoclássica,
na medida em que atribui ao indivíduo o compromisso de adequarse
ao mercado de trabalho.
Podemos considerar, ainda, segundo Aragão (2004), a
empregabilidade como sendo um tripé formado por competências,
conhecimento e pela rede de relacionamentos. Você é responsável
por cuidar das três partes com igual carinho e intensidade.
A operação destes programas, por sua vez, é feita a partir
da articulação entre os diversos níveis de governo, além de
instituições ligadas a trabalhadores e empresários. Ao nível federal,
as grandes diretrizes são estabelecidas pelo Conselho Deliberativo
do FAT (CODEFAT), integrado por representantes do Governo, dos
trabalhadores, através de suas Centrais, e dos empresários, através
de suas Confederações.
O CODEFAT delibera sobre a concessão de recursos aos
Estados, municípios e entidades, a serem aplicados nos diversos
programas, especialmente naqueles relativos à qualificação da mão
de obra. Para tanto, os Estados da federação, assim como os
municípios, devem constituir Secretarias de Trabalho, bem como
Comissões (estaduais e municipais) de Trabalho, também tripartites,
as quais elaboram planos e projetos e decidem sobre sua aplicação
ao nível local.
A rotina de obtenção destes recursos é, em linhas gerais, a
seguinte: cada município elabora, anualmente, a programação a
ser implementada em sua jurisdição, estimando os recursos
necessários. Esta programação deve ser aprovada pela Comissão
Municipal de Trabalho e encaminhada à Comissão Estadual de
Trabalho. Esta, por sua vez, deve consolidar as demandas de todos
os municípios do Estado, eventualmente adicionando programas
próprios, e encaminhá-las ao CODEFAT, para decisão final.
Conforme indicado por diferentes estudos, a efetividade*
destes programas – ou seja, sua cobertura àqueles que demandam
seus benefícios – vem crescendo desde os anos 1990. Contudo, sua
eficácia, isto é, o grau em que eles reduzem de fato o desemprego,
é ainda bastante limitada, assim como sua articulação interna.
*Efetividade – refere-se
ao grau de satisfação das
necessidades dos clientes
mediante os produtos
ou serviços da organização.
Ou seja, eficácia
com eficiência. Fonte:
Lacombe (2004).

O seguro-desemprego, por exemplo, tem sido concedido, em
média, a 98% daqueles que o requerem; contudo, só alcança cerca
de 64% daqueles que são demitidos sem justa causa. Já o Planfor,
que pretendia atender 20% da PEA anual, não passou da marca
dos 3,6% – seu melhor número – entre 1996 e 2003, tendo caído
para 1,3% em 2003. Do total de treinandos do programa, apenas
23%, em média (entre os anos de 1995 e 2003) eram beneficiários
do seguro-desemprego.
No que toca ao treinamento de trabalhadores vinculados ao
PROGER, estes eram cerca de 1,3%, no mesmo período, do total
de treinandos. O SINE, por sua vez, vinha conseguindo colocar
cerca de 47%, em média, dos trabalhadores que o procuraram entre
1995 e 2003. Contudo, eles não representavam muito mais que 5%
do total de admitidos no conjunto do mercado de trabalho, no
mesmo período temporal.
A conclusão de Cardoso Jr. (2005) sobre o impacto destes
programas é de que eles são pouco eficazes por atacarem apenas o
lado da oferta do mercado de trabalho (ou seja, a mão de obra),
sem alterar o perfil e o tamanho da demanda. Esta, por sua vez, só
poderá crescer com políticas que promovam crescimento econômico
e do consumo, como as que foram ensaiadas, ainda que
timidamente, de 2004 em diante.

Resumindo
Nesta Unidade, você estudou um conjunto de Políticas
Sociais adotadas contemporaneamente pelo Estado brasileiro,
que pretendem dar conta de alguns aspectos que
são estratégicos para que o País vença a sua condição periférica:
a educação e a saúde de nosso povo, sua segurança
social e alimentar, e suas oportunidades de trabalho.
Estas diversas áreas de política foram tratadas a partir
de seu desenvolvimento histórico, ao longo do século XX, e,
adicionalmente, procuramos sintetizar suas diversas orientações
programáticas, tais como apresentadas pelas pastas
ministeriais que delas se ocupam. Mais informações sobre
estas políticas podem ser encontradas nos portais dos diversos
ministérios e do Instituto de Pesquisa Econômica
Aplicada (IPEA), órgão do Governo Federal que as acompanha
regularmente.

Atividades de aprendizagem
Hora de testar seu entendimento. Você está pronto? Diante
de tudo que estudamos aqui, responda às questões a seguir.
1) Pesquise, no site do MEC, o IDEB de sua cidade e de duas ou três
outras, na mesma região. Consulte também os dados do IBGE da
Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios, relativos à distribuição
de renda da população dos municípios ou região já selecionados.
De posse destes dados, analise a relação entre renda da
população e o IDEB dos municípios selecionados e compartilhe
sua análise com os colegas no Ambiente Virtual de Ensino-Aprendizagem.
2) Com base no que estudamos neste livro, comente, em no máximo
duas páginas, a importância do SUS para a redução das desigualdades
sociais e ampliação da cidadania dos brasileiros.
3) Sobre princípios de justiça (mérito x necessidade), faça o que se
pede:
a) Comente, em até 10 linhas, o debate sobre as
condicionalidades do Programa Bolsa Família.
b) Avalie sucintamente a PEC47, que propõe a inclusão da
alimentação entre os direitos fundamentais do cidadão.
4) Quais as relações entre a política econômica mais geral e o comportamento
do mercado de trabalho?
Estado e Problemas Grafica GPM.pmd 137 10/12/2009, 18:45
O Estado e os problemas contemporâneos
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O Estado e os problemas contemporâneos
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Especialização em Gestão Pública Municipal
MINICURRÍCULO
Maria Paula Gomes dos Santos
Doutora em Ciência Política pelo IUPERJ (Instituto
Universitário de Pesquisas do Rio de Janeiro/
Universidade Cândido Mendes), é Mestre em
Políticas Públicas e Administração Pública pelo
Institute of Social Studies, de Haia (Países Baixos).
Técnica em Planejamento e Pesquisa do IPEA, desde 2009, trabalhou
na Prefeitura da Cidade do Rio de Janeiro desde 1986, tendo
experiência docente em cursos de graduação e pós - graduação, em
diversas instituições publicas de ensino superior, tais como a Universidade
Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), a Universidade do Estado do
Rio de Janeiro (UERJ) e a Escola Nacional de Administração Pública
(ENAP).
Estado e Problemas Grafica GPM.pmd 144 10/12/2009, 18:45

18 comentários:

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